As autoridades do Irão estão a tentar identificar cinco jovens raparigas iranianas por terem publicado na internet um vídeo em que surgem a dançar com a cabeça descoberta.

Segundo o jornal britânico The Telegraph, em causa está um vídeo publicado na semana passada nas redes sociais no qual é possível ver cinco jovens iranianas a dançar ao som da canção “Calm Down”, do cantor nigeriano Rema com a participação da norte-americana Selena Gomez.

O vídeo foi filmado numa urbanização da capital iraniana, Teerão, onde nos últimos meses se têm multiplicado os protestos contra o regime iraniano — que se intensificaram no final do ano passado na sequência da morte da jovem Mahsa Amini e durante os quais centenas de pessoas já morreram.

De acordo com a Radio Free Europe/Radio Liberty (meio financiado pelo governo dos EUA no Médio Oriente e na Europa de leste), pouco depois da divulgação daquele vídeo no dia 8 de março, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, surgiram relatos de que a polícia iraniana começou a procurar as jovens.

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Os relatos surgiram na conta de Twitter “Ekbatan”, que tem o nome da urbanização onde os protestos têm acontecido com maior frequência e que tem divulgado informações sobre os movimentos organizados de protesto contra o regime.

“Hoje, eles vieram à procura das filmagens das câmaras de segurança do Bloco 13 para identificar estas raparigas, que simplesmente dançaram e não fizeram qualquer atividade política”, lê-se numa mensagem publicada nessa conta.

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A publicação dá ainda conta de que foi possível ver os guardas a tentar perceber onde estavam as câmaras de vigilância e de que a conta onde o vídeo foi inicialmente publicado foi desativada.

“De qualquer forma que seja possível, digam a estas raparigas para terem cuidado e deixem-nos dizer que eles vão ter a resposta caso tragam problemas a estas pobres raparigas”, lê-se ainda.

Nos últimos dias, várias mulheres iranianas gravaram vídeos semelhantes a dançar, num gesto de solidariedade para com as cinco jovens.

Em setembro do ano passado, a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, às mãos da polícia — depois de ter sido detida por não usar o hijab — desencadeou uma onda de manifestações por todo o país, com milhares de pessoas nas ruas, incluindo milhares de mulheres a retirarem o hijab em desafio às autoridades.

A dura resposta policial aos protestos já causou centenas de mortes e há inclusivamente vários ativistas presos e condenados à morte por terem participado nas manifestações.