O partido francês União Nacional (Rassemblement National), liderado por Marine Le Pen, apresentou esta quinta-feira uma moção de censura contra o governo de Emmanuel Macron, depois de o Presidente francês ter usado o poder constitucional de avançar com a aprovação da legislação sobre o aumento da idade da reforma sem o voto da Assembleia Nacional, a câmara baixa do parlamento francês. E poderá não ser a única: segundo a imprensa francesa, há vários partidos que estarão a ponderar fazer o mesmo, faltando perceber se apresentarão documentos diferentes ou se haverá algum entendimento para avançar com um texto consensualizado. Fora da Assembleia Nacional, centenas juntaram-se para protestar contra a nova medida.

A proposta legislativa do governo de Macron de aumentar em dois anos a idade da reforma, de 62 para 64 anos, tem sido o grande motor das greves e manifestações que se têm registado em França nas últimas semanas. Esta quinta-feira, mais uma vez, durante a sessão foi-se juntando um grupo de várias centenas de pessoas à volta do edifício da Assembleia Nacional, na Place de la Concorde, com gritos e pedidos de uma “greve geral” contra a decisão de Macron.

Aos manifestantes juntaram-se alguns representantes da esquerda francesa, como Jean-Luc Mélenchon, líder do França Insubmissa, que terá no entanto “desaparecido rapidamente”, relatou o correspondente do New York Times, que falava em protestos algo “desorganizados” e indecisos quanto ao caminho que a multidão deveria seguir.

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Já o Le Monde contou que um grupo de manifestantes “encapuçados” pôs algumas paletes e caixotes do lixo a arder, o que fez alguns manifestantes “recuar”. A situação terá acalmado ao início da noite, depois de a polícia ter intervindo e recorrido a canhões de água e gás lacrimogéneo para fazer dispersar manifestantes que acusou de tentarem vandalizar o Obelisco egípcio no centro da praça.

Alguns manifestantes também pintaram e partiram vidros de lojas e agências bancárias naquela zona. Segundo o Le Monde, pelo menos oito pessoas foram detidas pela polícia.

O aumento da idade da reforma foi aprovado esta quinta-feira no Senado francês, a câmara alta, com 193 votos a favor e 114 votos contra. Para esta tarde estava marcada a votação na Assembleia Nacional, na qual a proposta poderia vir a cair — mas Emmanuel Macron optou por recorrer à faculdade constitucional que permite ao governo forçar a aprovação de um diploma sem o voto parlamentar.

Segundo os jornais franceses, Macron tinha passado a manhã fechado no seu gabinete com outros membros do Executivo, a contar os prováveis votos de “sim” ou “não” com que contaria, até concluir que seria mesmo impossível fazer aprovar a medida na Assembleia Nacional.

A confirmação desta intenção do governo por parte da primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, motivou protestos da parte dos deputados presentes, incluindo alguns cânticos d’A Marselhesa, o hino francês, para abafar a sua intervenção.

Mais tarde, ao canal TF1, a governante disse ter ficado “muito chocada” com as vaias que a obrigaram a terminar a declaração aos gritos para se fazer ouvir. “O Parlamento, a Assembleia Nacional, é um lugar de debate. Se não queremos ouvir-nos, quer dizer que um certo número de grupos não respeitam as nossas instituições”.