A missão do Manchester United não tinha nada de impossível. Bastava evitar o descalabro e a equipa de Bruno Fernandes iria carimbar o passaporte para os quartos de final. Os jogadores do Betis batiam palmas aos apanha-bolas a pedir que fizessem as reposições mais rápido, faziam frente aos red devils nos lances mais disputados e rodeavam o árbitro quando este tinha que tomar uma decisão mais difícil. Das bancadas do Estádio Benito Villamarín vinha a energia que se refletia nos verdiblancos que tiveram um rendimento em campo que evoluiu ao ritmo do apoio recebido.

O resultado da primeira mão, jogada em Old Trafford, era amplamente favorável ao Manchester United (4-1). Com as esperanças de seguir para os quartos de final lapidadas, mas com esperança de juntar os pedaços, o Betis tentava com super cola reconstruir o que ficou destruído por aquele que o treinador dos andaluzes, Manuel Pellegrini, considerou ser uma equipa de outro nível. “É uma equipa de Liga dos Campeões com um orçamento seis, sete ou oito vezes superior ao nosso, que tem jogadores de 80 ou 100 milhões que compraram recentemente”, constatou o técnico chileno. “Temos de fazer um jogo inteligente no sentido de não querermos fazer três golos em cinco minutos” e, mesmo assim, as hipóteses de seguir em frente eram “poucas”.

O Manchester United tinha que montar um escudo contra a ambição do oponente. Casemiro e Bruno Fernandes, em risco de falharem a primeira mão dos quartos de final se levassem amarelo, iam a jogo, tal como adiantara Erik ten Hag antes da partida. “É um encontro sério e vamos jogar com a nossa melhor equipa” dentro do que as limitações que as ausências de Antony e Garnacho, os últimos a juntarem-se à lista de lesionados dos red devils, permitia. Na primeira mão, o treinador neerlandês elogiou Bruno Fernandes e disse que o português foi o melhor em campo e o médio voltou a assinalar um boa exibição.

Oh captain, my captain: Bruno Fernandes responde às críticas com um golo, uma assistência e uma goleada do United

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Era uma partida equilibrada a que se via, assim como na primeira parte em Old Trafford. Sem Fekir, o Betis teve Rui Silva na baliza e William Carvalho no meio-campo e conseguiu, na fase inicial, dar ao jogo as características que convinham à remontada. Seria estranho que com um fluxo constante de transições não existissem oportunidades de golo. Dos pés de Bruno Fernandes saiu o canto onde Weghorst quase corrigiu o cabeceamento de Casemiro. No mesmo minuto, Juanmi teve nos pés a chance de começar a anular o défice de três golos que o Betis. O extremo correu metade do campo até, cara a cara com De Gea, fazer com que só com a força do olhar o guarda-redes espanhol conseguisse empurrar a bola para fora. Ainda antes de se terem completado dez minutos, Joaquin fez um grande remate de fora de área, levando a bola a raspar no poste.

Entretanto, o Manchester United impôs o ritmo que lhe convinha. Bruno Fernandes baixou no terreno e reteve a bola na posse da equipa inglesa para organizar as ações de ataque. Com ações ofensivas mais demoradas, os red devils conseguiram gerir melhor os seus interesses. No tempo de compensação da primeira parte, Weghorst acertou no poste. Sinal para o que aí vinha.

O domínio da equipa de Erik ten Hag teve um nome atribuído: Marcus Rashford. Numa questão de instantes, o inglês enviou uma bola para as nuvens e, de seguida, foi convidado a rematar e aceitou. O local da festa foi o fundo das redes (55′). O treinador neerlandês, vendo que os quartos de final da Liga Europa iam entrar na agenda, retirou Rashford do campo e, logo de seguida, Bruno Fernandes. O percurso inverso fez Diogo Dalot. O Benitto Villamarín com uma assistência a rondar os 50.000 cachecóis levantados a cantar o hino do Betis leva de consolo o espetáculo que deu na bancada mesmo com a eliminação consumada com mais uma derrota (1-0) e um agregado pesado (5-1).

Jesus ganhou… mas perdeu

Na outra ponta da Europa, na Turquia, dois Jorges, duas opções capilares diferentes. Jesus estava pela ponta dos cabelos despentedos com os seus jogadores. Jorge Sampaoli também, mas com um estilo diferente. O argentino só tinha a cabeça para perder caso algo corresse mal ao Sevilha. Outras batalhas deixaram-no careca. Esta luta, mesmo com a vantagem de 2-0 que o Sevilha tinha diante do Fenerbahçe, convidava à tranquilidade, mas apesar de não ter cabelo, ficou com os nervos em franja. Em termos de emoção, apelidos à parte, Jorge é sinónimo de fervor.

Jorge Jesus, Sevilha e Liga Europa são uma tríade com um historial que não abona a favor do técnico português que perdeu, ao comando do Benfica, uma final da competição europeia diante do adversário espanhol. “Eles são uma boa equipa, venceram a Liga Europa seis vezes, mas acho que temos hipóteses”, relembrou Jesus. “Será muito importante que os nossos adeptos acreditem que podemos vencer. Sabemos que eles são bons, mas ainda temos algo a dizer. Vamos jogar nos limites do risco, e aí vamos ter oportunidade de marcar o primeiro golo”.

Foi tornado público o conteúdo de um alegado áudio enviado por Jorge Jesus a um adepto do Flamengo em que o técnico português dá a entender que vai deixar o Fenerbahçe no final da época. “Estou em viagem, jogo amanhã [1.ª mão dos oitavos de final da Liga Europa jogada na passada quinta-feira]. Aqui na Turquia é tão frio… Mas pronto, tem que ser, até chegar maio. Um abraço para ti”. Quando foi pedido que comentasse o caso, Jorge Jesus manteve o futura da carreira em aberto. “Isso não tem nada a ver com o jogo, mas vou responder. Toda a gente sabe que eu tenho contrato que termina em maio. Não é novidade, portanto não tenho mais nenhum comentário”.

O presente de Jesus era em Istambul.  Miguel Crespo no banco de suplentes. O ex-Santa Clara dos turcos, Lincoln, não entrou nas contas da equipa turca devido a lesão e, para quem queria alterar o curso de uma eliminatória e precisava de golos como era o caso do Fenerbahçe, perder também Michy Batshuayi antes dos 15 minutos foi um golpe duro.

Sem o belga, teve que aparecer outra estrela. Enner Valencia (41′) marcou de penálti o golo que relançava a eliminatória. O cruzamento de Kadioglu a partir da direita encontrou a mão do antigo jogador do FC Porto, Alex Telles, e com a ajuda do VAR, o árbitro Michael Oliver assinalou grande penalidade que os turcos não desperdiçaram.

No momento em que Batshuayi deixou o terreno de jogo de maca, entrou para o seu lugar Joshua King. O norueguês demonstrou que o Fenerbahçe tentava de todas as formas forçar a igualdade na eliminatória. O remate esforçado no início da segunda parte saiu transviado, tal como a maioria das tentativas dos comandados que Jorge Jesus que dominavam um Sevilha encostado às cordas, ao nível do que tem mostrado na La Liga, onde está a desiludir.

A três minutos dos 90, Suso caiu na área. O VAR decidiu não aconselhar o árbitro a assinalar penálti a favor do Sevilha. Emre Mor realizou a última tentativa para salvar Jorge Jesus, mas não conseguiu marcar. Quem ainda podia ter chegado ao golo foi o Sevilha, mas o livre de Erik Lamela foi defendido por Altay. Mesmo com 15 tentativas de golo contra apenas três do adversário, o Fenerbahçe não conseguiu o golo que forçava o prolongamento e, apesar de ter vencido por 1-0, falhou o acesso à fase seguinte da Liga Europa (2-1), no conjunto das duas mãos.