O secretário-geral do PCP defendeu esta quinta-feira que, caso o BCE decrete um novo aumento das taxas de juro, será “um mau sinal” para a vida da população e considerou que “falta vontade” ao Governo para minimizar esse impacto.

No dia em que o Banco Central Europeu (BCE) se reúniu para decidir sobre o aumento das taxas de juro, Paulo Raimundo considerou que, caso esse aumento se venha a concretizar, será um “mau sinal”, numa altura em que as pessoas já estão a enfrentar uma “situação dramática”.

“Situação dramática de vida, com mais de um milhão de famílias com crédito à habitação, e numa situação completamente desesperante. Tudo o que seja acrescentar a esta situação, é um mau sinal”, afirmou o secretário-geral do PCP, em declarações à agência Lusa em frente às oficinas do Metropolitano de Lisboa, em Odivelas, onde se reuniu com trabalhadores.

O dirigente comunista advertiu que um eventual aumento das taxas de juro pelo BCE iria criar “duas realidades”, uma relativa à banca e a outra à situação da população em geral.

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Paulo Raimundo salientou que, caso o BCE decrete o aumento das taxas de juro, os bancos irão continuar a “fazer um belo negócio”, que lhes permite fazer “cinco milhões de euros de lucros por dia”.

Ao mesmo tempo, o dirigente comunista considerou que haverá também outro cenário, “que é o de apertar ainda mais a vida das famílias, das pessoas, com créditos que já começam a ficar insuportáveis de aguentar”.

Paulo Raimundo considerou assim que é necessário “que os lucros da banca paguem esses aumentos dos juros” e que os salários e pensões sejam aumentados, como forma de “dar resposta ao aumento do custo”.

O secretário-geral do PCP salientou que o seu partido tem apresentado várias propostas para minimizar o impacto do aumento das taxas de juro, como “fixar um ‘spread’ máximo de 0,25% para a Caixa Geral de Depósitos”, o que “arrastaria necessariamente o conjunto da banca”, ou criar uma moratória, como aconteceu durante a pandemia, sem amortização de capital até dois anos.

“Não faltam instrumentos para o Governo poder minimizar este impacto. Falta é vontade, porque as propostas que apresentámos têm uma componente fundamental, que é (…) como é que a banca comparticipa nesse aumento das taxas de juro? Essa é uma opção que o Governo não quer fazer”, argumentou.

Antes de entrar nas oficinais do Metropolitano de Lisboa — numa visita que a comunicação social não pôde acompanhar —, Paulo Raimundo destacou que os trabalhadores do metro “precisam de mais força”, mas também “de mais salários, mais direitos e condições”.

O secretário-geral comunista sublinhou que se trata de “gente indispensável ao funcionamento do metro em si”, um “meio de transporte importantíssimo” em Lisboa, e defendeu que é necessário haver mais investimento no Metropolitano.

“Não vale a pena estar a enganar-se: sem investimento, não é possível dar resposta às necessidades de transporte, que é o mesmo que dizer às necessidades da população”, disse.

Segundo Paulo Raimundo, “é preciso um investimento que crie melhores condições de trabalho, que crie aumento dos salários, que melhore as condições de trabalho e do dia-a-dia desta gente e, como consequência disso, melhore as condições para os utentes, que é uma questão fundamental”.

O Banco Central Europeu (BCE) reúne-se esta quinta-feira para decidir sobre o aumento das taxas de juro, numa altura em que soam alertas para a incerteza do endurecimento monetário devido à turbulência bancária.

A instituição presidida por Christine Lagarde indicou recentemente ser provável um aumento das taxas de juro em mais 50 pontos base, mas a falência do Silicon Valley Bank (SVB), nos Estados Unidos, e as suas repercussões em outras instituições bancárias criaram um desafio adicional para o BCE quanto à subida das taxas de juro para travar a inflação.

A instituição pode “aumentar menos” as taxas, após a subida que é esperada, considerou Robert Halver, analista do Baader Bank, citado na terça-feira pela AFP.

Trata-se de “aliviar a pressão”, quando “o sobre-endividamento é muito significativo na economia” e as taxas elevadas podem fragilizar ainda mais os bancos, explicou o mesmo analista.