Pela primeira vez nos seus quase mil anos de história, a Escolanía de Montserrat — a escola de música mais antiga da Europa e um dos coros mais famosos do mundo — vai passar a admitir raparigas.

Como explica o jornal catalão La Vanguardia, paralelamente à tradicional Escolanía, composta por cerca de 50 rapazes entre os 9 e os 14 anos oriundos de regiões onde se fala a língua catalã, vai ser criado um novo coro misto dentro da comunidade de Montserrat, que será composto por jovens rapazes e raparigas entre os 17 e os 24 anos de idade.

O novo Coro de Câmara da Escolanía de Montserrat vai ser dirigido por Pau Jorquera, o atual subdiretor musical da Escolanía, e rompe com a longa tradição do mosteiro de Montserrat de ter um coro exclusivamente composto por vozes infantis masculinas.

O mosteiro de Montserrat, em Barcelona, é um dos grandes ícones religiosos da Catalunha, e tem as suas origens na Idade Média, no século XI — e é possível encontrar referências à existência da Escolanía desde, pelo menos, o século XIV.

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Àquele jornal catalão, fonte do mosteiro de Montserrat explicou que o novo coro misto deverá estar em funções um fim de semana por mês — dando, assim, um descanso mensal aos elementos do coro tradicional, que continuam a assegurar os restantes fins de semana.

As funções do coro incluem os vários atos litúrgicos que decorrem no santuário, incluindo as vésperas de sábado e a missa de domingo.

Além disso, os elementos do novo coro vão ter a oportunidade “de se formar em diversos aspetos relacionados com a técnica vocal, a vivência espiritual, o ambiente natural ou a cultura, através de atividades organizadas por pessoas ligadas à Escolanía e à comunidade beneditina”.

O coro deverá começar no próximo ano letivo, em setembro, e até lá decorrem as audições: as primeiras já em 27 de maio e em 3 de junho. O mosteiro sublinha que os candidatos devem já ter experiência em canto coral e em estudos de canto, além de uma sensibilidade especial para a liturgia cristã.

À semelhança dos escolanes — o nome dado aos membros da tradicional Escolanía —, que durante o seu período no coro estudam não só os currículos escolares normais como também têm outras aulas, incluindo piano e outro instrumento, teoria musical e canto coral.

Citado pelo jornal britânico The Guardian, o padre Efrem de Montellà, do mosteiro, explicou que a questão da presença feminina no coro é “complexa”.

“Perguntam-nos várias vezes porque é que não há raparigas na Escolanía”, disse. “É uma questão complexa e difícil. Seguimos uma tradição que gostávamos de continuar, mas também percebemos que temos de responder à procura.”

“De modo a incluir todas as raparigas que gostariam de cantar em Montserrat e ser escolanes, decidimos estabelecer este segundo coro”, acrescentou.