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A Rússia terá desenhado um plano secreto para destabilizar a Moldávia, no qual traça como objetivos garantir que os políticos e a sociedade moldava têm uma atitude negativa relativamente à NATO e manter no país uma presença forte de grupos de influência pró-russos nos setores políticos e económicos.

O documento, intitulado “Objetivos Estratégicos da Federação Russa na República da Moldávia”, foi obtido e divulgado por um consórcio de meios de comunicação, entre os quais o Kyiv Independent, Delfi Meedia, Expressen, Dossier Center, Rise Moldova, Frontstory e VSquare. Posteriormente a CNN Internacional também teve acesso ao documento.

O plano de cinco páginas estabelece uma estratégia de dez anos para trazer a ex-república soviética para a esfera de influência russa. Divide-se em objetivos de curto, médio e longo prazo para serem atingidos até 2030, contemplando os setores político, militar, económico, humanitário. O documento terá sido desenvolvido em 2021 pelo Diretorado de Cooperação Transfronteiriça do Serviço Federal de Segurança russo (FSB, antigo KGB).

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Entre os objetivos imediatos inclui-se o “apoio às forças políticas moldavas que defendem relações construtivas com a Federação Russa”, a “neutralização das iniciativas da República da Moldávia destinadas a eliminar a presença militar russa na Transnístria” ou “neutralizar as tentativas de restringir as atividades dos média russos e pró-russos na Moldávia, aponta a CNN.

A médio prazo inclui, nomeadamente, a “oposição à política expansionista da Roménia na República da Moldávia” e “oposição à cooperação entre a República da Moldávia e a NATO”. Já a longo prazo são estabelecidos objetivos como a “criação de grupos de influência pró-Rússia estáveis nas elites políticas e económicas da Moldávia” e a “formação de uma atitude negativa em relação à NATO”.

Segundo o documento, a Rússia pretende também garantir que a região separatista da Transnístria continua fortemente influenciada pela Rússia e que o país é dependente das importações de gás russas. Prevê também que os média russos tenham uma ampla presença no território moldavo e que a língua russa seja contemplada como oficial, uma “língua da comunicação interétnica”.

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Um outro objetivo para os dez anos é “contrariar as tentativas de atores externos” — como a vizinha Roménia, países da União Europeia (UE) ou Estados Unidos — de “interferir nos assuntos internos da Moldávia, fortalecer a influência da NATO e enfraquecer as posições da Rússia”. Pretende, por oposição, conduzir a uma aproximação à Organização do Tratado de Segurança Coletiva e à União Económica Eurasiática.

Segundo o Kyiv Independent, a maioria dos objetivos de curto prazo previstos até 2022 foram prejudicadas pela invasão russa da Ucrânia. No ano passado, por exemplo, o governo moldavo bloqueou seis canais de televisão pela divulgação de desinformação sobre a guerra na Ucrânia.

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O ano de 2022 trouxe a Moldávia para mais perto da União Europeia, num período marcado pela invasão da vizinha Ucrânia. Em junho do ano passado, o Conselho Europeu deu um passo para fortalecer essa relação e concedeu o estatuto de candidato à Moldávia e simultaneamente à Ucrânia.

Já o início deste ano tem sido marcado por alertas, tanto das autoridades ucranianas como moldavas, sobre a possibilidade de a Rússia estar a preparar um golpe de Estado na Moldávia. “A declaração do Presidente Zelensky sobre os planos da Federação Russa para desestabilizar a República da Moldávia foi confirmada pelas nossas instituições”, disse em fevereiro a Presidente Maia Sandu, reforçando que não é novidade Moscovo “realizar ações subversivas no território” do país.

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O aviso foi, entretanto, reforçado pelos Estados Unidos, com as palavras do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. Em março, John Kirby disse que o Kremlin estava a trabalhar para organizar protestos anti-governo e fomentar a insurreição na Moldávia.

Kirby acrescentou que Washington considera que Moscovo quer colocar um líder pró-russo na liderança do país. “Atores russos, alguns dos quais ligados aos serviços secretos russos, estão a procurar orquestrar manifestações na Moldávia e usá-las para fomentar uma insurreição contra o Governo moldavo.”

O início de março foi marcado por ações de protesto na Moldávia, maioritariamente ligadas a partidos pró-russos. Os protestos subiram de tom quando, no domingo passado, foram lançadas quatro ameaças de bomba e de uma alegada mina no aeroporto. Também nesse fim de semana a polícia moldava disse ter desmantelado uma rede “orquestrada” pela Rússia com o objetivo de desestabilizar o país, uma operação que levou à detenção e interrogatório de 25 pessoas.

“Obviamente, a Rússia está a co-financiar protestos e a tentar destabilizar o país”, disse o primeiro-ministro, Dorin Recean, em resposta às manifestações anti-governo e anti-ocidentais.

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Já esta sexta-feira a chefe de Estado garantiu num discurso perante o parlamento que o país não está em risco de entrar em guerra com a Rússia enquanto a Ucrânia continuar a lutar. “Quero assegurar todos os cidadãos que a Moldávia não está em risco de guerra. O exército russo não consegue chegar até aqui enquanto a Ucrânia resistir – e, com isso, proteger a Moldávia”, sublinhou.