Um comportamento “incendiário” e “irresponsável“. É assim que o ex-líder do PSD e comentador da SIC Luís Marques Mendes classifica as declarações do ministro da Economia, António Costa Silva, sobre a responsabilidade do setor da distribuição no aumento dos preços, considerando que com isto o governante “prova cada vez mais ser um erro de casting”.

“Comportou-se como um incendiário, e de certa forma irresponsável. Lançou um dedo acusador sem provas e factos, o que não se faz. E depois recuou”, atacou Marques Mendes, que não poupou nas palavras para criticar o que disse ser um exercício de “propaganda, populismo e demagogia” da parte do ministro.

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O antigo líder do PSD deixou, aliás, as suas próprias sugestões para lidar com os problemas que o Governo enfrenta. Por um lado, na questão do preço dos bens essenciais, a promoção de um estudo independente caso a caso e produto a produto para perceber com precisão o que contribui para o aumento dos preços; e um acordo, como aconteceu em França, para que os supermercados se comprometam a baixar os preços. Em vez disso, acusou, o Executivo fez uma “ação de propaganda” e lançou “culpas” para um setor que é fácil culpar, “mas em termos concretos não fez nada”.

Depois, em relação aos apoios sociais que o Governo promete apresentar esta semana, o comentador da SIC também quis deixar sugestões, focando-se sobretudo na ideia de um apoio direto ao rendimento das famílias mais carenciadas e de uma descida das taxas de IRS nos escalões da classe média — financiada pela “folga” que o Executivo está a construir graças ao que arrecada com a inflação.

E se o momento é difícil para o Governo, é “bom” que haja uma “tensão no ar” com o Presidente da República, defendeu também. “No estado de degradação que hoje em dia existe, é bom que haja pressão do Presidente sobre o Governo. Se não existir, a situação vai piorar”, garantiu. Na Habitação, reconheceu que houve um passo positivo — as duas medidas que o Executivo aprovou na semana passada para aliviar rendas e créditos — mas viu méritos nos argumentos de Aníbal Cavaco Silva, que veio este sábado acusar o Governo de não ter “credibilidade” para fazer promessas de grandes reformas.

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Isto porque, na visão de Marques Mendes, a “curta” obra que o Governo tem para apresentar, sete anos depois, resume-se à redução do défice e da dívida, mas “fica a sensação de que não sabe o que fazer da maioria absoluta” e que está focado apenas em corrigir problemas de comunicação. “É um erro: o problema não e de comunicação, é de política. É bom que Marcelo seja mais interventivo”, rematou.

Na ementa de Marques Mendes coube ainda o risco de os alegados crimes imputados a José Sócrates prescreverem a partir do próximo ano — para avisar que “se isso acontecer o país não vai gostar, não vai ser bom para a política nem para a justiça”. Assim como coube o que considera ter sido um ato “gravíssimo de indisciplina” dos militares que recusaram embarcar no navio Mondego, compreendendo que o chefe do Estado-Maior da Armada, Henrique Gouveia e Melo, tenha criticado os militares publicamente — “Isto mina a imagem das Forças Armadas e de Portugal no exterior”.

O comentador social-democrata comentou ainda a notícia “muito positiva” da compra do Credit Suisse pelo USB, para evitar o que seria uma “crise financeira internacional descomunal”, e considerou “inevitável” o anúncio da subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu, para proteger a credibilidade da instituição liderada por Christine Lagarde.