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As autoridades russas realizaram esta terça-feira buscas em casas e escritórios de vários defensores de direitos humanos associados ao movimento Memorial, organização de direitos humanos russa opositora do Kremlin e que ganhou o Prémio Nobel da Paz no ano passado.

Nobel da Paz vai para ativista bielorrusso Ales Bialiatski e duas organizações de direitos humanos, uma russa e outra ucraniana

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A vaga de buscas, que começou por volta das 7h30, culminou com a detenção e interrogatório de vários ativistas da Memorial. É parte de um esquema de repressão constante que o Kremlin montou contra dissidentes nos últimos anos e que se intensificou-se depois do início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

O grupo Memorial mantém uma base de dados de vítimas de repressão política, entre os quais o de três pessoas que foram condenadas na época soviética por colaboração com a Alemanha nazi. Agora, o grupo revelou que as autoridades estão a usar os nomes da lista no seu processo contra o Memorial.

Oleg Orlov, co-presidente do grupo, cujo apartamento estava entre os que foram invadidos, disse aos jornalistas que as alegações do Kremlin eram “fantasias idiotas”, antes de ser levado para ser interrogado na esquadra da polícia.

O co-presidente da Memorial já foi, entretanto, libertado sob fiança. Na sequência da detenção as autoridades russas abriram um processo contra Orlov por desacreditar repetidamente as Forças Armadas russas, noticiou o The Moscow Times. Se for declarado culpado, pode enfrentar três anos de prisão.

Depois de ser libertado, Orlov disse aos jornalistas que a acusação tem por base um artigo que escreveu, em novembro, no site francês Mediapart e publicou em russo no Facebook. No artigo, condenava “a guerra sangrenta desencadeada pelo regime de Putin na Ucrânia” e defendia que a “uma Rússia fascista vitoriosa iria, inevitavelmente, tornar-se uma ameaça de segurança não só para os vizinhos, mas para toda a Europa”, noticiou o Financial Times.

O Memorial – um dos mais antigos e prestigiados movimentos russos de defesa dos direitos humanos – recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2022, juntamente com o ativista bielorrusso Ales Bialiatski e a organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis.

Foi fundado na época da União Soviética, em 1987, para garantir que as vítimas da repressão comunista fossem lembradas, tendo continuado o seu trabalho de defesa dos direitos humanos, compilando informações sobre abusos por parte do regime russo pós-soviético.

As buscas efetuadas esta terça-feira ocorreram depois de Vladimir Putin ter pedido à polícia que reprimisse quaisquer tentativas de adversários para “abalar a sociedade russa”. Segundo a organização não-governamental OVD-info, 483 indivíduos são suspeitos ou já foram condenados em processos de oposição à guerra na Ucrânia.

O ato provocou indignação entre as figuras da oposição russa, como Dmitry Gudkov, um ativista no exílio, que considerou as buscas “um ato de intimidação”.