A Coreia do Sul viu-se obrigada a recuar com a proposta que aumentava o tempo máximo de trabalho semanal para 69 horas depois de os jovens da Geração Z e Millennials terem contestado a medida.

A proposta do governo sul coreano surgiu depois de várias empresas terem alegado ser difícil cumprir prazos com as atuais 52 horas semanais. Com a alteração para 69 horas, os sul coreanos iriam trabalhar até quase 14 horas diárias, cinco dias por semana.

Quem não gostou da proposta foi a camada mais jovem da população que consideraram que a mesma iria prejudicar a saúde mental dos trabalhadores, perturbar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e não seria benéfico para a baixa taxa de natalidade do país.

Os protestos levaram a que o presidente Yoon Suk-yeol, eleito em 2022, pedisse ao governo que reconsiderasse a medida e “comunicasse melhor com o público, em especial com a Geração Z e Millennials”, afirmou o assessor de imprensa presidencial, Kim Eun-hye, citado no Korea Herald.

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Kim acrescentou ainda que “o centro da política laboral de [Yoon] é proteger os direitos e interesses dos trabalhadores menos privilegiados, assim como a Geração Z e os Millennials”.

Desde 2018 que o limite máximo de horas de trabalho semanais na Coreia do Sul se mantém nas 52, depois de descer das 68. Na lei atual, os sul coreanos trabalham 40 horas semanais mais 12 horas extra. No entanto, os especialistas acreditam que, na realidade, os coreanos se sintam pressionados a trabalhar mais do que o limite estipulado.

Para além dos jovens, também a Confederação Coreana de Sindicatos, citada no The Guardian, se posicionou contra a proposta do governo uma vez que esta “vai permitir que seja legal trabalhar desde as 9h até às 00h durante cinco dias seguidos. Não há respeito pela saúde ou tempo de descanso dos trabalhadores”.

O ministro do Trabalho sul coreano, Lee Jung-sik, veio defender o aumento do período laboral com o argumento de que iria permitir às mulheres acumular horas extra que poderiam ser usadas como folgas, para cuidar da família.

No entanto, um grupo coreano pelos direitos das mulheres contrariou a opinião do ministro considerando que a medida iria prejudicar as mulheres trabalhadoras: “Enquanto os homens trabalham mais horas e seriam dispensados das responsabilidades e direitos associados ao trabalho doméstico e de cuidado, as mulheres iriam acumular todo este trabalho”, disse, citado no The Guardian.

De acordo com a CNN, a Coreia do Sul é um dos países asiáticos onde se trabalha mais horas e onde há mais mortes por excesso de trabalho, a chamada “gwarosa”.

Os casos de “gwarosa” surgem quando as pessoas trabalham em demasia e acabam por morrer de ataques cardíacos, acidentes de trabalho ou acidentes rodoviários — em muitos casos a privação de sono leva a que adormeçam ao volante.

Os dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) indicam que, no ano de 2021, os sul coreanos trabalharam uma média de 1,915 horas — mais 199 horas do que a média da OCDE e mais 566 horas do que os trabalhadores na Alemanha.

A Coreia do Sul tem ainda, segundo a mesma organização, a taxa mais alta de suicídio, consequente da elevada pressão laboral.