A mãe adotiva do rapaz de 15 anos morto em outubro de 2020 quando estava institucionalizado no Centro Jovem Tabor, em Setúbal, pede nova autópsia e que os dois arguidos sejam acusados de homicídio qualificado e profanação de cadáver.

Jéssica Manuela Neves Casinha Nova, a mãe adotiva da vítima, Lucas Miranda, e assistente no processo, decidiu juntar acusação particular ao despacho de acusação do Ministério Público contra os dois jovens suspeitos e pedir uma nova autopsia, por entender que “existem incongruências entre a análise e fundamentos dos relatórios e as suas conclusões, nomeadamente relativamente a qual a causa, ou quais as causas, de morte”.

“Existe contradição (que pode ser meramente aparente, razão pela qual é necessária nova perícia ou, pelo menos, análise colegial dos relatórios entre peritos e o consultor técnico indicado pela assistente), entre a análise e a fundamentação dos relatórios e o que consta das suas conclusões como causa de morte, que urge esclarecer tendo em vista a descoberta da verdade material”, defende a acusação da assistente Jéssica Casinha Nova.

O julgamento dos dois jovens suspeitos da morte de Lucas Miranda, Leandro Vultos, agora com 19 anos, e Ricardo Cochicho, de 18, deveria ter começado na segunda-feira, mas foi adiado devido à greve dos oficiais de justiça e dos funcionários judiciais.

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O jovem Lucas Miranda foi acolhido no Centro Jovem Tabor em 2 de outubro de 2020, por decisão da mãe adotiva, o que o terá feito sentir-se rejeitado e manifestar a outros jovens da instituição o desejo de morrer, alegando que só não se suicidava por falta de coragem.

O homicídio de Lucas Miranda ocorreu numa altura em que os três jovens, a vítima e os dois arguidos, se encontravam nas imediações do Centro Jovem Tabor, uma instituição particular de solidariedade social (IPSS) sob a dependência da Diocese de Setúbal da Igreja Católica, que acolhe jovens com dificuldades de inserção na sociedade e onde a vítima e os dois arguidos estavam institucionalizados.

De acordo com a acusação, depois de consumarem o homicídio, os dois arguidos terão ainda tentado criar um cenário que desse a ideia de um suicídio por enforcamento, mas, posteriormente, decidiram atirar o cadáver para o interior de um poço seco.

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A acusação da assistente sustenta que a morte de Lucas Miranda ocorreu quando “o arguido Leandro executou um golpe de mata-leão (uma técnica de estrangulamento) a Lucas, deixando-o inanimado”, e que, “ato contínuo, os arguidos agrediram violentamente o crânio de Lucas Miranda, com socos, com paus e outros objetos contundentes, tirando-lhe, desse modo, a vida”.

A assistente acusa também os dois jovens suspeitos, Leandro Vultos e Ricardo Cochicho, de serem ambos responsáveis, em coautoria material, por um crime de homicídio qualificado e um crime de profanação de cadáver.

Já o despacho de acusação do Ministério Público considera que a morte de Lucas Miranda ocorreu por “asfixia mecânica”, devido ao golpe de mata-leão que lhe foi aplicado por Leandro Vultos, e não na sequência dos socos e outras agressões violentas ao crânio quando já estava inanimado, como defende a acusação da assistente.