O psiquiatra Daniel Sampaio considerou “uma boa medida” o plano nacional de saúde mental no ensino superior, mas defendeu ser preciso mais estruturas de apoio devido ao “número muito significativo” de pessoas que necessitam de ajuda.

No encontro “Pausa Para a Saúde Mental: Uma reflexão no Ensino Superior”, organizado pelo Gabinete de Apoio ao Estudante e respetivo Espaço S — Serviço de Apoio Psicológico disponível aos estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), que decorre esta quarta e quinta-feira em Lisboa, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e o secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, anunciaram a criação de um plano global de intervenção para os problemas da saúde mental no ensino superior para responder “ao agravamento das queixas” por parte dos jovens.

Daniel Sampaio, presidente da Comissão Científica do encontro, salientou que tem havido “uma maior atenção” por parte do Ministério da Saúde sobre a saúde mental, lembrando o apoio do Plano de Recuperação e Resiliência para muitas situações ligadas a esta área.

Defendeu, contudo, que “há muito a fazer”, sobretudo, criar mais estruturas de apoio “e aumentar a consciência das pessoas em relação à necessidade de procurarem ajuda”, disse à agência Lusa o também fundador do Espaço S, que presta apoio psicológico aos estudantes e intervém na promoção da saúde mental na faculdade.

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Sobre o encontro, explicou que “é uma reflexão sobre a saúde mental no ensino superior”, um problema que disse existir há muitos anos, mas que foi agravado com a pandemia, “porque os jovens ficaram muito isolados em casa”.

A socialização é muito importante no desenvolvimento psíquico e físico e há problemas novos que têm surgido e, portanto, achámos bem fazer este encontro de reflexão e também perspetivas novas que podem surgir”, sublinhou.

Segundo o psiquiatra, as queixas têm aumentado, sendo as mais frequentes devido a problemas de ansiedade, ataques de pânico, fobia e perturbações do sono, mas também existem situações depressivas e outras ligadas ao consumo do álcool e de outras substâncias, que também são problemas de saúde mental.

Ressalvou, no entanto, que para o número de queixas contribui um maior conhecimento sobre os problemas de saúde mental, o que leva as pessoas a procurarem mais ajuda.

“De qualquer forma, continua a haver um número muito significativo de pessoas com problemas de saúde mental que necessitam de ajuda e, portanto, é também um apelo — e a comunicação social tem um papel importante de chamar a atenção, para quando as pessoas não se sentem bem e têm sintomas de ansiedade e depressão devem procurar ajuda”, vincou.

No encontro, o reitor da Universidade de Lisboa, Luís Ferreira, disse que a faculdade duplicou o número de psicólogos “em muito pouco tempo” para mitigar as necessidades dos estudantes, mas também dos técnicos, administrativos e dos professores.

“Nós não somos o Serviço Nacional de Saúde, mas havia que dar resposta a uma procura crescente e rápida de saúde mental“, enfatizou Luís Ferreira, adiantando que também passaram a trabalhar em rede com gabinetes de psicologia das diversas escolas.

Por outro lado, acrescentou, foi realizado um inquérito científico que deu “o retrato exato” daquilo que os estudantes da FMUL estão a passar, sendo com base nesse retrato que estão a tomar mais medidas sobretudo preventivas, que visam antecipar os problemas na comunidade universitária.

Daniel Sampaio observou que durante muito tempo não houve estruturas na Universidade de Lisboa que pudessem dar apoio aos problemas de saúde mental, mas que atualmente já há vários gabinetes de apoio psicológico.

Defendeu, contudo, que é preciso melhorar a articulação da Universidade de Lisboa com os serviços de psiquiatria dos hospitais para os casos mais graves.