A Basílica de Vitrúvio, localizada em Fano, uma vila italiana da região de Marche, pode ter sido encontrada depois de uma procura que durou mais de 500 anos. O achado deu-se enquanto uma família estava a renovar a casa e pode resolver um dos enigmas da história da arqueologia: conhecer o templo supervisionado por Marcus Vitruvius Pollio, tido como o teórico arquitetónico mais famoso de todos os tempos, e o homem que inspirou Leonardo Da Vinci — as teorias de Vitrúvio terão sido aplicadas diretamente por Da Vinci numa das suas obras mais conhecidas, o Homem Vitruviano.

O templo do século I a.C., decorado com mármore precioso vindo da Grécia e da Ásia Menor, hoje uma parte da Turquia, pode ter reaparecido assim dois mil anos depois, quando desapareceu literalmente do mapa. A procura arqueológica pela catedral decorre desde que o arquiteto renascentista Andrea Palladio, no século XVI, se inspirou na obra do teórico para recriar formas da antiguidade clássica. A Basílica sempre foi, como descreve o ABC.es, a “Fénix Árabe” dos arqueólogos, tendo o próprio Vitrúvio referido o templo na sua obra De Architectura Libri Decem, que Da Vinci cita nos seus estudos.

As teorias de Vitrúvio terão sido aplicadas diretamente por Leonardo, quando o arquiteto romano imaginava edifícios como uma transposição de correspondências entre as várias partes de um corpo perfeitamente estruturado, como refere a galeria que detém o estudo do Homem Vitruviano.

As autoridades locais confirmam a descoberta como sendo a da basílica perdida.

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Trata-se de um complexo constituído por pelo menos 5 salas, cujas paredes, conservadas em elevação durante aproximadamente 2 metros, têm a espessura de 5 pés romanos (1,50 metros) e estão cobertas com argamassa de cal e lajes de mármore”, esclarece a Superintendência Arqueológica de Marche.

Os responsáveis locais estão a analisar os restos descobertos do “imponente edifício”, como descreve o La Reppublica, que também adianta que a hipótese de o mármore encontrado ser da Basílica é “a mais credível“.

De acordo a página do Centro de Estudos Vitruvianos (CSV), este é o único edifício que o arquiteto afirma ter supervisionado.

Os dados relatados por Vitrúvio mostram uma construção arquitetónica dedicada a um ideal de sobriedade e severidade, que se enquadra bem na estética ateniense (da zona de Atenas, na Grécia), dominante no início da era agostiniana”, sublinha a instituição acerca da obra possivelmente descoberta.

O centro também refere que “infelizmente, nenhum resquício monumental pertencente com certeza ao edifício foi preservado, pelo que a sua localização original é problemática e fonte de debate antigo“, afirmação que pode mudar com a descoberta em Fano.

O presidente do CSV, Dino Zacchilli, é citado num órgão local, onde considera que “Vitrúvio é uma riqueza extraordinária para Fano e para toda a região”. Saúda a proposta regional do Movimento 5 Estrelas, que prevê a atribuição de 50 mil euros por ano, entre 2023 e 2025, para promoção cultural da obra do homem em quem Da Vinci se inspirava.

As autoridades locais estarão a aguardar por uma contribuição do Ministério da Cultura italiano para estender a investigação às áreas exteriores de propriedades privadas na Via Vitruvio, a rua da casa onde se deu a descoberta.

O local foi visitado pela funcionária da Superintendência Arqueológica de Marche, Ilaria Venanzoni, que salienta que haverá mais esclarecimentos quando a área de escavação for ampliada em redor das casas.

Obviamente ainda não podemos ter a certeza absoluta de termos encontrado a Basílica de Vitrúvio, mas a partir das descobertas até agora podemos dizer que estamos no caminho certo”, admite a funcionária, citada pela imprensa local.

O mesmo artigo atribui a possibilidade de esta ser “a descoberta do século” e reforça que o edifício encontrado é “certamente importante”.

Entretanto, os pais das crianças, que nunca tinham sonhado que os filhos dormiam por cima de um templo com dois mil anos, não sabem o que vai acontecer à casa que estava a ser renovada. De acordo com o vice-prefeito Cristian Fanesi, “a lei prevê tanto o intercâmbio como a transferência dos direitos de construção para outros locais”, citado pelo ABC.es.