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Não há campas ou lápides, nem flores. Neste “cemitério” ucraniano em Kharkiv apenas são visíveis destroços de mísseis, dispostos um por um em fileiras aparentemente intermináveis. São provas dos ataques aéreos russos lançados sobre a cidade, recolhidas, registadas e catalogadas pelas autoridades ao longo de vários meses, na esperança de que possam vir a ser usadas para levar à justiça a Rússia.

“Este sítio foi criado para recolher evidências dos crimes de guerra”, disse em entrevista ao The Guardian Dmytro Chubenko, porta-voz da procuradoria regional de Kharkiv. “Foram todos encontrados na cidade de Kharkiv. Mas é apenas aproximadamente metade do que dispararam contra nós. São evidências que esperamos venham a ser usadas no Tribunal Penal Internacional (TPI)”, explicou.

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O trabalho de recolha começou logo após os primeiros ataques russos em Kharkiv. O “cemitério” tem agora mais de mil mísseis, ou partes destes sistemas, organizados por filas conforme o tamanho. Cerca de 95% dos dispositivos armazenados são parte de sistemas de lançamento múltiplo de rockets, como os Smerch — equipamentos que transportam bombas de fragmentação, proibidas na maior parte dos países pelas convenções internacionais.

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As autoridades ucranianas têm trabalhado para analisar os dispositivos, estudando as trajetórias de voo e a localização GPS dos locais em que aterraram. Através dos códigos presentes nos mísseis também procuraram identificar os produtores e, eventualmente, as unidades militares que os armazenavam e mantinham, explicou Chubenko.

Através desta análise já foi possível colocar sob investigação dezenas de oficiais e militares russos, incluindo Alexander Zhuravlyov, distinguido pelo Kremlin com o prémio de “Herói da Federação Russa”. O tenente-general, que terá contribuído para a campanha de bombardeamentos em Aleppo (Síria) é, segundo relatos que chegaram às autoridades de Kiev, o único oficial que poderia ter dado a ordem para o lançamento dos sistemas Smerch em Kharkiv.

Ao nome de Zhuravlyov soma-se ainda o de um general russo, cujo nome não pode ser divulgado devido à investigação em curso, que terá ordenado o lançamento de pelo menos 100 mísseis em direção ao Instituto de Física e Tecnologia de Kharkiv.

Numa entrevista anterior à Associated Press, Chubenko já tinha explicado que os mísseis presentes no “cemitério” de Kharkiv foram usados em áreas residenciais, nomeadamente a norte de Saltivka e Oleksiivka. Segundo as estimativas ucranianas, pelo menos 1.700 pessoas, incluindo 44 crianças, morreram devido aos bombardeamentos russos na cidade de Kharkiv e arredores.

As autoridades locais esperam que um dia os destroços possam tornar-se parte de um museu para dar testemunho dos crimes de guerra cometidos durante a invasão russa.