O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou esta quinta-feira averiguações à ação policial das marchas de sábado e à identidade de quem queria atingir “os seus intentos” com a homenagem ao “rapper” Azagaia, lamentando os distúrbios ocorridos.

“Orientámos o Ministério do Interior para que proceda a uma averiguação das razões que levaram a Polícia da República de Moçambique a adotar uma postura de confronto físico com os jovens e, igualmente, identificar aqueles que procuraram aproveitar-se da virtude individual do jovem ‘rapper’ Azagaia para atingir os seus intentos. Queremos dizer que lamentamos o sucedido e tomaremos as devidas medidas para o clarificar e evitar que estas situações voltem a acontecer“, declarou Filipe Nyusi, falando à margem de uma cerimónia de graduação na Academia de Ciências Policiais em Maputo.

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Segundo Nyusi, os serviços de informação da polícia estavam na posse de informações que mostravam haver “elementos estranhos” e que queriam aproveitar-se dos eventos para criar distúrbios e violência, mas isso não justifica “violência indiscriminada”.

Avaliamos positivamente o trabalho de recolha de informação [pela polícia] e saudamos a necessidade de prevenir a desordem pública no nosso país, contudo, advertimos para que a atuação das forças policiais não se traduza em violência indiscriminada contra civis ou jovens inocentes”, disse.

“Sobre esta informação, há vídeos produzidos e difundidos pelos próprios a incitar à violência da camada juvenil, que não politizou o pedido de manifestação, feito com o conhecimento das autoridades autárquicas”, observou ainda Nyusi, que ressalvou: “Mesmo havendo infiltrados no seio destes jovens, o trabalho da polícia deve ser de isolar este grupo de gente mal-intencionada e responsabilizá-la de forma exemplar”.

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Várias entidades e organizações condenaram a violência policial, classificando-a como um dos sinais mais visíveis das limitações à liberdade de expressão e de manifestação no país. No total, segundo a polícia, 14 pessoas foram feridas e outras 36 foram detidas, embora respondam agora em liberdade.

O Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental moçambicana, submeteu à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma queixa contra o Estado moçambicano “por atos de violação de direitos humanos e fundamentais, por parte da polícia”.

Os organizadores das marchas anunciaram também o recurso a autoridades nacionais e estrangeiras para responsabilizar o que classificam como força desproporcionada exercida por aquela corporação.