Didier Deschamps foi campeão francês e italiano, foi campeão europeu por Marselha e Juventus, foi também campeão europeu e mundial pela França. Era um líder em campo, um capitão, um médio que fazia sobretudo da inteligência e da colocação as suas principais armas. Ainda antes de haver problemas, já tinha percebido quais seriam as soluções. E foi essa carreira de jogador que parece ajudar e muito o trabalho como treinador gaulês ao longo da última década. Aliás, mais do que treinador, Deschamps é um gestor. Um gestor de egos, de emoções, de balneários com personalidades distintas, de birras, de choques, de fases boas, de momentos maus. Agora, na ressaca de um Mundial perdido nas grandes penalidades frente à Argentina, não foi exceção. Longe disso: os bleus ainda não tinham entrado em campo e já havia um caso a ser comentado.

E vão três: depois de Lloris e Mandanda, Varane também deixa a seleção francesa com apenas 29 anos

Com as saídas de nomes como Hugo Lloris ou Raphael Varane, a braçadeira ficou sem um dono natural e a escolha tinha que ser feita. Candidatos naturais? Antonio Griezmann, por ser um dos mais experientes no atual grupo, e Kylian Mbappé, por ser a grande referência. A opção de Didider Deschamps acabou por recair no mais novo, o mais velho não gostou. E, como noticiaram publicações como o L’Équipe ou a RMC Sport, o desconforto do avançado do Atl. Madrid com a situação era demasiado evidente entre o grupo francês. “O Kylian reúne todas as condições para ter esta responsabilidade. Tanto em campo como fora, é um elemento aglutinador. O Antoine será o novo vice-capitão”, assumiu o selecionador em entrevista à TF1.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No entanto, e ao contrário de muitos casos que têm abalado a equipa tendo mais ou menos resultados, agora tudo ficou resolvido entre os próprios protagonistas, com o próprio Mbappé a ter a iniciativa de ir falar com Griezmann para assumir que se estivesse no seu lugar estaria a sentir o mesmo desconforto mas que contava com ele para ser uma voz de liderança no balneário e em campo. No final, à saída do encontro, sobravam os sorrisos. Para as imagens ou para ficar? Só o tempo dirá. Mas a primeira amostra não podia ser melhor.

“Um bom capitão é alguém que se preocupa com a equipa, que tenta unir todos os jogadores e que consegue fazer com que todos o sigam. A primeira semana correu bem, recebi felicitações de muitas pessoas. Foi uma boa semana para mim. Um capitão depende da personalidade dos outros. Quero dar a todos oportunidade para que se possam expressar. Não vou mudar. A minha voz é ouvida no balneário e tenho de utilizá-la o melhor possível. Falei com o Antoine, estava desiludido e é compreensível. Disse-lhe que teria a mesma reação. Ele é, provavelmente, o jogador mais importante da era Deschamps. Não sou seu superior. Vamos estar lado a lado e juntos, vamos tentar recolocar a França no topo do mundo. Se ele quisesse dizer algo em frente a todo o grupo, iria sentar-me e ouvir. Todos têm a liberdade de se expressarem”, comentara a esse propósito Kylian Mbappé, que abordou também as críticas de egocêntrico de que tem sido alvo.

“Não entendo de onde apareceu essa ideia mas é a vida de um jogador de topo. As pessoas julgam do exterior. A minha obsessão é ganhar e ninguém ganha sozinho. As pessoas não sabem como me comporto em grupo. Sou o capitão do meu país! Fiquei muito feliz quando Didier Deschamps me disse. Penso que o treinador não me colocou como capitão pensando que eu ia fazer a mesma coisa que Hugo Lloris. Eu sei que as minhas palavras têm eco. É uma nova responsabilidade que eu irei assumir. Didier Deschamps quer que eu seja um conciliador e disse-me que queria que fosse o elo de ligação entre a nova e a antiga gerações. O objetivo é levar a equipa a novos títulos”, destacou na antecâmara do encontro com os Países Baixos.

Também o conjunto neerlandês abria uma nova era em Paris, no arranque da qualificação para o Europeu de 2024, com Ronald Koeman a suceder a Louis van Gaal. No entanto, pior era quase impossível num encontro em que acabou goleado por 4-0 e a falhar uma grande penalidade nos descontos por Depay. MVP? Kylian Mbappé. E além de ter entrado no top 5 dos melhores marcadores franceses de sempre com um bis (21′ e 88′), fez a assistência para o golo inaugural de… Griezmann (4′). Pouco depois, também Upamecano marcou num lance em que Cillessen voltou a ficar mal numa fotografia que não poupou ninguém (8′). E o encontro terminou com Mbappé a fazer o 20.º golo nos últimos 17 jogos pela França, com essa curiosidade de levar um total de 38 desde que se estreou a marcar pela formação gaulesa em 2017… frente aos Países Baixos.