Admiração, respeito, uma espécie de amor à primeira vista de quem chegou a Portugal a dizer que “quem ama o futebol, tem de amar o Benfica”. Roger Schmidt aproveitou a paragem nas competições de clubes em virtude dos compromissos das seleções para dar uma entrevista ao Der Spiegel na antecâmara das grandes decisões da temporada, abordando quase como alguém rendido tudo aquilo que encontrou na Luz desde que chegou aos encarnados. Em paralelo com isso, o técnico alemão falou também a maneira como vê o futebol à luz da postura ofensiva que gosta de colocar nas suas equipas e que se tornou numa imagem de marca das águias desde que chegou no final da época, com 112 golos marcados apenas em 44 jogos oficiais, recuando aos tempos em que foi jogador em clubes mais modestos da Alemanha como o RW Lüdenscheid, o TuS Plettenberg, o TuS Paderborn-Neuhaus, o Verl, o Paderborn, o SV Lippstadt e o Delbrücker SC.

“É o expoente máximo do futebol, ao nível de um Real ou Barcelona. As pessoas poupam para ir ao estádio”: os elogios de Schmidt ao Benfica

“Primeiro apareceu o amor pelo futebol. Eu amo o futebol! Já em pequeno gostava. Comecei a jogar na rua, não tive uma grande carreira. Joguei na 3.ª Divisão mas ainda assim gostava de jogar. Adorei jogar todos os domingos e nunca pensei que o futebol viesse a ser a minha profissão. Não achei que viesse a ser treinador, para mim isso era inconcebível. Quando comecei a trabalhar como treinador continuava a ser inconcebível, era mais um passatempo. Ainda assim o amor ao futebol marcou-me tanto… Era avançado e a coisa mais bonita quando uma criança começa a jogar é o momento em que se chega à baliza e marca um golo”, começou por dizer o treinador que foi campeão na Áustria e ganhou troféus na China e nos Países Baixos.

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“No fundo, tudo passa por marcar golos, ter a bola no fundo das redes. Quando o [David] Neres fez o cruzamento e o João Mário encostou para golo foi esse o momento que o estádio todo, o público todo esperava. E a ideia de criar esses momentos marcou-me. Nunca acreditei em ficar na defesa à espera que acontecesse algo na área adversária. Penso que temos de agarrar o destino com as nossas próprias mãos e aproveitar os 90 minutos para tentar ser melhor do que o adversário, para criar mais oportunidades. Não há vitórias garantidas mas podemos aumentar as probabilidades de vencer e isso só pode acontecer se tivermos uma abordagem muito ativa”, prosseguiu, antes de escalpelizar a construção dessa ideia de jogo.

“Quando comecei a trabalhar como treinador, em Delbrück, nem sequer pensava muito nisso. Era uma coisa minha, vinha de dentro, não tinha grande… Fui dando passos na formação de treinador paralelamente à minha carreira ativa, mas na realidade nem pensava muito nisso, como queria jogar, como queria que fosse o meu futebol. Comecei e depois, a cada dia, tentava encontrar a melhor forma para treinar os jogadores, para transmitir essa motivação, essa paixão. Depois, com a experiência, isso foi-se desenvolvendo. Acabei por reparar que estava a resultar e pensei: isto é mesmo possível”, recordou Roger Schmidt.

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“Quanto mais acreditas em ti, mais os jogadores acreditam e quanto mais os jogadores acreditam, mais possível se torna que venham a marcar a diferença. Contudo, antes de conseguires que os jogadores acreditem, é preciso que sejamos nós a acreditar. É esse o primeiro momento e é preciso encontrar esse caminho. Não sou um treinador que pensa que o adversário joga de determinada forma e que a partir daí vou passar a semana a definir como vamos jogar. Para mim é 100% claro como vamos jogar. Vejo como o adversário joga, dou algumas indicações, mas nós jogamos à Benfica e jogamos para vencer”, concluiu.

“Para mim, como amante de futebol, podemos falar de grandes clubes e o Benfica é um deles, ao nível de um Real Madrid ou de um Barcelona. O Benfica é o expoente máximo do futebol. Historicamente, e em termos de dimensão, é muito especial. Não houve ninguém a comprar o clube por quatro mil milhões de euros e a injetar aqui dinheiro de repente. É um clube em que as pessoas poupam todos os meses para poder ir ao estádio, é um clube que tem de vender jogadores para funcionar, um clube com 20 modalidades diferentes e todas as pessoas acompanham essas modalidades com paixão. O clube tem grandes objetivos. O Benfica joga para vencer títulos, temos de dar alegrias aos adeptos. É preciso preparar os jogadores para assumir essa responsabilidade. Têm de estar ao mais alto nível”, tinha referido antes na mesma entrevista.

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“Há três anos que o Benfica não vence títulos, seja um campeonato ou taças, portanto a expectativa é elevada. Temos de fazer por isso mas estou concentrado no presente. Tenho tido bons resultados a pensar assim. Não sou um treinador que pensa que o adversário joga de determinada forma e que, por isso, vou passar a semana a determinar a forma como vamos jogar. Na minha cabeça, está 100% clara a forma de jogar”, disse. “No início, prometi que ia aprender português mas é complicado. É uma língua muito difícil e seria um investimento temporal muito grande até saber o suficiente para dar treinos em português. Para falar a verdade, não me atrevo. Em inglês funciona bem. Gostava de falar português, aliás gostava de falar mais línguas, mas era preciso ter aprendido quando era mais novo”, completara Roger Schmidt.