A visita não tem caráter oficial, mas nem por isso é menos histórica. Ma Ying-jeou, Presidente de Taiwan entre 2008 e 2016, aterrou esta segunda-feira em Xangai naquela que é a primeira visita de um chefe de Estado (passado ou presente) do país desde a cisão com a China, em 1949.

A visita de 12 dias do ex-Presidente, oficialmente inserida numa ação para promover o intercâmbio de estudantes entre os dois lados do estreito de Taiwan, está a ser encarada como um importante desenvolvimento na tensa relação diplomática entre os dois países, com vários analistas a acreditar que os próximos dias trarão novidades sobre a forma como Pequim planeia exercer a sua influência sobre Taiwan no futuro próximo, bem como sobre o posicionamento do partido de Ma, o Partido Nacionalista Chinês (que defende a unificação da China) a meses das eleições presidenciais de janeiro do próximo ano.

timing da visita também parece não acontecer por acaso, uma vez que acontece a poucos dias de a atual chefe de Estado de Taiwan, Tsai Ing-wen, iniciar uma viagem até aos Estados Unidos, numa visita oficial duramente criticada pelo regime chinês, que vê a ilha como parte do seu território e tem, ao longo dos anos, ameaçado tomá-la à força, e qualquer contacto dos EUA com Taiwan como uma intromissão na política interna chinesa.

As duas visitas  servem assim para vincar as diferenças entre os dois maiores partidos de Taiwam: os democratas progressistas, liderados por Tsai, que defendem a aproximação ao Ocidente, e os nacionalistas, atualmente na oposição, que defendem uma política de união com Pequim, e que se apresenta como mais capaz de lidar com a China no campo diplomático.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Presidente diz que Taiwan não entrará num duelo com a China pela “diplomacia do dólar”

Parte do programa da visita de Ma verá o antigo chefe de Estado a prestar homenagem aos seus antepassados chineses enterrados na província de Hunan, num ato que está a ser entendido como profundamente simbólico.”

O facto de Ma sublinhar as suas raízes familiares na China no preciso momento em que Tsai irá promover os laços entre os EUA e Taiwan trará dois visuais contrastantes, e vai influenciar a perceção do eleitorado taiwanês sobre onde os dois maiores partidos se situam no campo das relações entre EUA e China”, explicou ao New York Times Wen Ti-Sung, politólogo da Universidade Nacional da Austrália e especialista no tema de Taiwan.

A visita de Ma foi bem recebida pelo regime chinês. Prova disso é o facto de, à chegada ao aeroporto, o ex-Presidente ter sido recebido por diplomatas do Escritório para os Assuntos de Taiwan, órgão responsável por delinear as políticas de Pequim para a ilha. Por outro lado, há quem veja o alinhamento do regime de Xi Jinping com o Partido Nacionalista como uma concessão diplomática para tentar colher benefícios políticos.

“Pequim tem aprendido no passado recente que, sempre que usa retórica do fogo e da fúria contra Taiwan normalmente tem o efeito oposto ao pretendido, e ajuda a eleger precisamente os políticos nacionalistas taiwaneses que se opõem a Pequim”, considerou Sung. “Em vez disso, recentemente [a China] tem procurado estender um ramo de oliveira na direção de Taiwan, e ajudado algumas vozes que vê como pró-Pequim”.

Para Ma, um dos maiores proponentes do estreitar de relações entre China e Taiwan (foi ele quem, em 2015, protagonizou o primeiro encontro de sempre entre dois chefes de Estado, quando esteve com Xi Jinping em Singapura), a visita é também entendida como um sinal político claro, parte de uma estratégia dupla do Partido Nacionalista Chinês: manter boas relações com Pequim e, ao mesmo tempo, advogar a soberania de Taiwan.

“Vejo a visita de Ma como uma forma de política performativa para eleitores e possíveis eleitores”, referiu James Lin, historiador de Taiwan com a Universidade de Washington, nos EUA. “Reflete um ponto-chave da política do Partido Nacionalista — que são capazes de lidar com Pequim de forma pragmática, mantendo uma relação de amizade que garanta paz para Taiwan”.

Xi Jinping diz que reunificação com Taiwan é essencial para revitalizar a China