A lua pode conter água à superfície, armazenada em grãos de vidro, que poderão vir a ser extraídos para alimentar missões espaciais futuras.

Um estudo científico publicado esta segunda-feira na revista Nature Geoscience procurou analisar amostras de solo recolhidas durante a missão chinesa Chang’e-5. A conclusão demonstra a existência de grãos de vidro — o resultado de material rochoso que derreteu e arrefeceu posteriormente — que têm armazenadas no seu interior moléculas de água formadas pela ação de ventos solares.

Esta é uma das maiores descobertas que fizemos”, explicou ao The Guardian Mahesh Anand, professor de ciência planetária na Open University. “Com esta descoberta, o potencial para explorar a lua de um modo sustentável é maior do que nunca.”

A equipa de cientistas da Academia de Ciência da China analisou amostras de solo lunar recolhidas em dezembro de 2020. Os grãos de vidro, cada um com menos de um centímetro de diâmetro, foram formados quando, há milhões de anos, meteoritos chocaram contra a superfície da lua, lançando rocha fundida, que depois solidificou e se misturou com o pó lunar. A água nos grãos encontrava-se a uma proporção de 2.000 partes por milhão, o equivalente a cerca de 2.000 gramas, ou seja, dois quilogramas por cada tonelada de solo.

Nas últimas duas décadas, a ideia que a lua não possuiu água tem sido abandonada, após várias missões terem levado à descoberta de provas em contrário. Na década de 1990, o satélite da NASA, Clementine, encontrou provas da existência de água congelada em crateras próximas dos polos da Lua. Em 2009, uma missão indiana localizou o que parecia ser uma camada fina de água na superfície da lua, misturada com a camada de pó lunar. A nova descoberta, contudo, poderá resultar num futuro em que os grãos com água sejam recolhidos e posteriormente aquecidos para que o vapor de água seja depois armazenado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Não é como se pudéssemos abanar o material e a água começasse a pingar, mas há provas de que quando a temperatura do material atingir os 100 graus Celsius, comece a evaporar e a ser colhida”, explicou Mahesh Anand.

A água forma-se quando partículas de energia dos ventos solares carregados com hidrogénio atingem a lua e combinam com o oxigénio presente nas gotículas presentes no solo lunar. Segundo explicou ao The Guardian Sen Hu, co-autor do estudo na Academia de Ciências Chinesa em Pequim, os grãos de vidro podem armazenar e libertar água noutras rochas do sistema solar. “Este trabalho suporta o consenso cada vez maior em como a lua é muito mais rica em água do que se pensa“, afirmou Ian Crawford, professor da Universidade de Londres.

De acordo com o El País, o novo estudo estima que existam cerca de 270 mil milhões de toneladas de água na Lua, bastante diferente da estimativa avançada pela missão indiana em 2009, de 600 milhões de toneladas. Em 2026, a Agência Espacial Europeia vai lançar uma missão à lua que testará a hipótese do estudo. A missão, Prospect, levará um robô a recolher amostras de solo da lua e a aquecer as amostras a 100 graus Celsius para estudar depois os compostos voláteis do solo lunar.