O “nervosismo e intranquilidade” que se gerou entre os investidores nas últimas semanas, sobretudo após o colapso do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse, atingiu níveis que “preocupam” Andrea Enria, líder do Mecanismo Único de Supervisão. E, para o responsável, parte da origem desse “nervosismo” será a negociação “opaca” dos credit default swaps, instrumentos que protegem os investidores em caso de incumprimento de uma empresa. “Usando alguns milhões [de euros] consegue-se instigar o medo” através desses instrumentos, critica Andrea Enria.

“O que me preocupou, na verdade, foi o grau de nervosismo e intranquilidade que, pelo que percecionei, existiram nos mercados e entre os investidores”, referiu o presidente do Mecanismo Único de Supervisão (SSM, na sigla anglo-saxónica mais utilizada). Num discurso em Frankfurt, citado pela Reuters, Enria criticou a forma “opaca” como são comprados e vendidos os credit default swaps, contratos que funcionam como seguros e que, por exemplo no caso do Credit Suisse, viram o seu preço disparar antes do colapso, potencialmente fomentando o sentimento de insegurança.

Na última sexta-feira, os credit default swaps (CDS) de outro banco, o Deutsche Bank, também subiram de forma acentuada, ao mesmo tempo que também as ações da instituição estavam sob pressão – chegaram a cair mais de 12%.

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Embora seja impossível dizer com toda a certeza que a subida dos preços dos CDS contribui para agravar as quedas das ações (ou se são, apenas, dois instrumentos que reagem em paralelo às mesmas dúvidas), Andrea Enria parece acreditar que há uma possível “contaminação” potencialmente deliberada.

“Há mercados, como os dos CDS, que são muito opacos, muito pouco líquidos e, com apenas alguns milhões [de euros] é possível fazer instigar o medo em relação a instituições que têm biliões de euros em ativos, contaminando os preços das ações e gerando perdas de depósitos bancários”, afirmou Andrea Enria.

Os preços dos CDS do Deutsche Bank saltaram para máximos de quatros anos na sexta-feira, gerando preocupações sobre a saúde do banco que levaram a que o chanceler alemão, Olaf Scholz, tenha garantido durante o fim de semana que o banco não enfrentava riscos que justificassem tal pressão nos mercados.

Para Andrea Enria, uma forma de controlar estes mercados de CDS seria obrigar a que fossem transacionados numa bolsa de valores, centralizada e mais transparente. Neste momento não é isso que acontece: são vendidos over the counter, ou seja, bilateralmente entre compradores e vendedores e os preços são registados de forma informal. Mudar isto “já seria um grande progresso”, defendeu Andrea Enria.

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