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Alexei Moskalyov não esperou que o tribunal local da cidade de Yefremov chegasse a um veredito sobre o seu caso. Cerca de 11 horas antes de o juiz decretar uma condenação de dois anos de prisão por desacreditar as Forças Armadas da Rússia, o homem fugiu de casa, onde passou o último mês em prisão domiciliária.

O serviço penitenciário federal da Rússia confirmou esta terça-feira que o homem, de 54 anos, deixou o apartamento onde residia antes do veredito ser anunciado, noticiou o The New York Times. A agência não tem, para já, qualquer informação sobre o seu paradeiro.

O que acontece aos russos que não apoiam a guerra? Homem detido e filha (que fez desenhos contra a invasão) enviada para orfanato

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Moskalyov viu-se no radar das autoridades russas depois de a filha, de 13 anos, ter pintado durante um aula um desenho em apoio da Ucrânia, que combate a invasão russa há mais de um ano. A pintura, que mostrava mísseis russos a sobrevoar o território ucraniano em direção a uma mulher ucraniana e uma criança, fazia-se acompanhar por uma descrição: “Não há guerra”.

Na sequência do incidente, a escola contactou as autoridades russas e, no dia seguinte, pai e filha eram levados por agentes da polícia, segundo divulgou o OVD-Info – grupo que monitoriza os direitos humanos na Rússia. Por essa altura, os oficiais russo já se tinham deparado com publicações de Alexei nas redes sociais em que apoiava a Ucrânia e partilhava caricaturas do Presidente russo.

As manifestações anti-guerra valeram a Alexei Moskalyov um multa de 32.000 rublos por desacreditar o exército russo, mas o caso não ficou por aí. No final de dezembro as autoridades revistaram a casa da família e agrediram-no, segundo contou ao OVD-Info. Depois disso, tomou a decisão de mudar de casa, mas as forças de segurança russas voltaram à sua casa no dia 1 de março deste ano para o deter, levando a filha para um orfanato local.

Alexei viria a ser libertado, depois do tribunal decretar que deveria aguardar julgamento em prisão domiciliária, mas a filha não foi entregue aos seus cuidados. Segundo o advogado da família, Vladimir Biliyenko, a adolescente continua no orfanato sem conseguir contactar com o pai.

Criança que fez desenho contra a invasão da Ucrânia mantida em orfanato há duas semanas

Presente durante o julgamento, o advogado garantiu que só descobriu da fuga do cliente através do serviço do tribuna. Durante a sessão, aproveitou para mostrar um carta escrita por Maria para o pai onde, segundo o New York Times, se podia ler: “Pai, és o meu herói”.

Desde o início da invasão da Ucrânia as autoridades russas aumentaram o cerco de repressão em torno de manifestações contra a guerra. Centenas de pessoas já foram acusadas de desacreditar o exército russo.

O caso da família Moskalyov não é único. Como recorda o El País, a ativista Natalia Filonova também se viu separada do filho adotivo, de 15 anos. O jovem foi enviado para um orfanato na região de Buryatia no início do mês, enquanto a mãe é investigada por ter alegadamente agredido agentes da polícia durante um protesto.