Não é possível encontrar um número que quantifique o interesse dos Sacramento Kings em contarem com Neemias Queta para o futuro. Se mesmo assim pensaram no desenvolvimento do português? A resposta tem que ser afirmativa, ainda que o número de participações do jogador na NBA esta temporada tenha sido menor do que na anterior. Parece contraproducente, mas há fatores que o justificam. O principal é que o “exílio” na G League foi calculado para que o jogador estivesse mais tempo dentro de um campo de basquetebol do que num banco a bater palmas aos companheiros de equipa.

A equipa californiana tornou-se competitiva esta temporada, deixando o jovem de 23 anos sem espaço numa equipa de sucesso. Mesmo no caos que é a classificação da Conferência Oeste – o quarto e o décimo classificado estão separados apenas por três vitórias, os Dallas Mavericks de Luka Doncic e Kyrie Irving correm sérios riscos de não seguirem para a fase a eliminar da competição, os Los Angeles Lakers de Lebron James também não estão com vida fácil e os campeões em título Golden State Warriors têm o apuramento direto a ser discutido posse de bola a posse de bola –, os Kings garantiram a presença nos playoffs, 16 temporadas depois da última presença, colocando um ponto final na mais longa sequência ativa de anos de ausência na postseason em todos os desportos norte-americanos. O que tem Neemias de responsabilidade no sucesso da equipa? Com apenas quatro jogos realizados, é fácil perceber que muito pouco.

Mesmo que ainda não tenha terminado, já é seguro dizer que os Sacramento Kings tiveram uma temporada regular de sucesso. A chegada do novo treinador Mike Brown uniu as peças que o franchise vinha juntando, mesmo que com alguns erros pelo caminho – o maior deles terem escolhido Marvin Bagley III com a segunda pick do draft de 2018 quando Luka Doncic e Trae Young ainda estavam disponíveis – para que a equipa subisse de 37% de vitórias, em 2021/22, para os 61%, em 2022/23. De’Aaron Fox, a grande estrela da equipa, ainda que dentro do ritmo acelerado que o caracteriza, desenvolveu uma capacidade assinalável de tomar boas decisões em momentos decisivos, sendo o jogador da NBA com mais pontos no clutch – minutos em que o resultado está a menos de cinco pontos entre as equipas com cinco ou menos minutos de jogo.

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No entanto, o maior transformador da equipa foi a afirmação de Domantas Sabonis. O poste lidera a liga em ressaltos por jogo (12,4) e é o segundo jogador interior com mais assistências (7,2 por jogo). Com o lituano em grande forma e ainda com Chimezie Metu, Richaun Holmes e Alex Len para a rotação interior, Mike Brown, legitimado pelos resultados, não deu espaço a grandes experiências que possibilitassem a Neemias Queta ter impacto.

O mesmo não se pode dizer sobre o que fez na G League, ao serviço dos Stockton Kings. O português é o jogador com mais influência na melhor equipa do campeonato de desenvolvimento de jovens jogadores, local de passagem que muitos dos maiores prospects da NBA têm escolhido até ao maior campeonato de basquetebol do mundo – por exemplo, Scoot Henderson, apontado como a pick 2 do próximo draft, atuou ao serviço dos G League Ignite. Por isso, Neemias Queta mostrou que merece que lhe prestem atenção.

Apesar da eliminação dos Stockton Kings na meia-final da Conferência Oeste frente aos Sioux Falls Skyforce (98-97), Neemias Queta registou 18 pontos, nove ressaltos e 90% de eficácia nos lançamentos de dois (9 concretizados em 10 tentados), terminando a temporada da G League em grande. Em 2022/23, o português, com 29 jogos realizados, conseguiu médias de 27,6 minutos, 16,8 pontos, 8,7 ressaltos e 2,4 assistências e 1,9 desarmes de lançamento por jogo, junto de uma percentagem de 68% de lançamentos de campo.

Neemias pode até beneficiar do desaire dos Stockton Kings. Com o apuramento para os playoffs garantido e mesmo que ainda estejam em busca da melhor posição possível, restam aos Sacramento Kings seis jogos, alguns dos quais (Portland Trail Blazers, San Antonio Spurs e Dallas Mavericks) contra equipas agora mais acessíveis. Nestas partidas pode ser decidido o futuro de Neemias Queta no conjunto da Califórnia. Mike Brown e a respetiva equipa técnica podem chamar o português à NBA. Na possibilidade de somar minutos, os níveis de aprovação que obtiver podem convencer os Kings ou mesmo outra equipa da NBA a darem-lhe um contrato standard, uma vez que, a caminho do terceiro ano de experiência na liga norte-americana, Neemias, segundo os regulamentos da competição, fica impedido de voltar a assinar um contrato two-away, tal como aquele que tem neste momento e que lhe permite flutuar entre a NBA e a G League, ficando livre para se vincular com quem entender.

Uma eventual permanência em Sacramento não seria negativa já que a equipa parece apostada no desenvolvimento de jovens. O caso mais recente é o de Keegan Murray que bateu o recorde de triplos marcados por um rookie, alcançando os 188 e ultrapassando Donovan Mitchell. Também Davion Mitchell, escolhido pela equipa no mesmo draft em que Neemias entrou na NBA, tem lugar na rotação a partir do banco. Outro aspeto que pode beneficiar o português são as características do seu jogo, apontado por companheiros de equipa, treinadores e analistas como adequadas ao estilo de jogo da NBA moderna. No fim de semana All-Star, onde Neemias participou num jogo que reuniu os melhores jogadores da G League, Domantas Sabonis apelidou-o de “Portuguese G.O.A.T.” num vídeo partilhado nas redes sociais pelo jornalista Miguel Candeias. “É um excelente miúdo e espero que consiga trabalhar até entrar na rotação dos Kings. Tem muito potencial”, disse o lituano. Aprovação parece não faltar para um futuro em Sacramento ou noutro sítio.

“É incrível, chamo-o Portuguese G.O.A.T.”: Neemias brilha no All-Star da G League e continua a somar elogios na NBA