Começou aos 12 anos, vestiu figuras como Salazar e Sá Carneiro e é o neto que dá continuidade ao seu legado. Ayres Carneiro da Silva, considerado um dos melhores alfaiates de Portugal, morreu este sábado aos 93 anos.

“Há uns dias, o meu avô disse-me que em breve iria fazer uma viagem sem destino! Sr. Ayres embarcou esta manhã em executiva na Air Sky em direção ao tal destino… só Deus sabe onde está!”, anunciou o neto, também alfaiate, nas redes sociais. Para Ayres Gonçalo, o avô, a quem chama de “mestre”, “partiu de missão cumprida” e orgulhoso do seu percurso profissional: “Nunca me falhou. (Mesmo em tempos realmente muito difíceis) e isso é o que realmente conta para mim.”

Ayres Gonçalo aprendeu tudo o que sabe sobre corte e costura com o avô, com quem começou a trabalhar aos 16 anos. Em entrevista ao Observador, em abril de 2021, dava conta de que o avô “nunca quis” que o neto fosse alfaiate. “Antigamente, a alfaiataria não era uma profissão nobre e ele sonhava com uma coisa diferente para mim. Só quando, na adolescência, comecei a trabalhar na oficina ao lado dele é que percebeu que levava as coisas a sério.”

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O primeiro Ayres de uma geração de alfaiates nasceu a 26 de dezembro de 1929, sendo o mais novo de quatro irmãos. Um homem do Norte, adepto do Futebol Clube do Porto, acreditava que a alma de um alfaiate é “grande”. E, à TSF em 2019, considerava que o neto a tinha.

Foi em 1960 que Ayres Carneiro da Silva abriu a Ayres Alta Costura, no número 120 da Rua Gonçalo Cristóvão, no Porto. Foi aí que vestiu nomes como Salazar (antigo Presidente do Conselho), Francisco Sá Carneiro (ex-primeiro-ministro) e José Maria Pedroto, antigo jogador e treinador de futebol, a quem chamava de “grande amigo” e “grande mestre”.

A 28 de maio de 2020, para assinalar o Dia do Alfaiate, Ayres Carneiro da Silva esteve com o neto e um dos bisnetos, Pazzi, que pretende seguir alfaiataria, na RTP, onde se emocionou ao ver fotografias do seu casamento e ao ser questionado sobre o melhor que guardava da sua profissão — não tendo sido capaz de responder. A mulher de Ayres Carneiro da Silva tinha morrido em janeiro desse ano. Os dois conheceram-se no atelier: ele era alfaiate, ela costureira.

Nas redes sociais, o Portugal Fashion destacou, este sábado, a partida de um “homem peculiar”. “Um mestre na arte da alfaiataria, com uma gargalhada única que enchia qualquer sala. Um homem de talento, que não deixou nada por dizer. Um homem bom”, lê-se na nota partilhada no Instagram.

O velório de Ayres Carneiro da Silva decorrerá este domingo na Igreja Paroquial das Antas, no Porto, sendo a missa do funeral no mesmo local esta segunda-feira pelas 10h30.