Ainda não tinha havido quase nada e já se sentia que tinha havido um pouco de tudo. Fosse pelo crescimento da Aston Martin em 2023 que veio baralhar todas as contas inicialmente feitas, fosse pelo segundo lugar de Max Verstappen na Arábia Saudita que deixou o campeão do mundo a criticar a equipa apesar do sucesso do companheiro Sergio Pérez, fosse pela tentativa a todo o custo da Mercedes em tornar o carro deste ano mais competitivo sobretudo para Lewis Hamilton, fosse pelo enésimo esboço de redenção da Ferrari após todas as complicações em corrida nas duas primeiras provas da temporada, o Grande Prémio da Austrália surgia como uma história para ser escrita em vários capítulos. O primeiro seria agora na qualificação.

Mais uma dobradinha da Red Bull e a prova de que este Alonso não é para velhos: Pérez vence na Arábia Saudita, Verstappen é segundo

As duas sessões iniciais de treinos livres mostraram bem como tudo podia acontecer, deixar de acontecer e voltar a acontecer por pormenores. Nos primeiros treinos no Albert Park, Max Verstappen, o único a sair para a pista com pneus macios, foi o mais rápido à frente de Lewis Hamilton, Sergio Pérez, Fernando Alonso e Charles Leclerc numa sessão que ficou reduzida em dois minutos depois da avaria do Williams de Logan Sargeant. Nos segundos, Fernando Alonso foi mais astuto, carimbou a marca mais rápida logo no arranque enquanto a pista estava seca e geriu depois o tempo ao perceber que a chuva impediria que alguém fosse mais rápido, terminando à frente de Leclerc, Verstappen, George Russell e Carlos Sainz. E esse funcionou quase como ar para encher mais um balão de confiança do espanhol que atirou… a Lewis Hamilton.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Na Arábia Saudita terminei a 20 segundos de Checo [Pérez] e de Max [Verstappen], mas ele e Rosberg davam-nos um minuto de avanço em 2014 e 2015. A partir de duas ou três voltas de avanço, diminuíam o desempenho para guardar o motor. Tem pouca memória. Com um carro normal nota-se que tem debilidades. Antes não competia contra ninguém, às vezes com o seu companheiro de equipa. É o piloto com mais poles [da Fórmula 1] e o George Russell já ganha 2-0 em qualificações esta temporada. Não acredito que se tenha esquecido de como pilotar. Isto demonstra até que ponto o carro continua a ser um fator essencial”, disse numa entrevista ao L’Équipe, respondendo às frases do antigo campeão britânico que considerou os atuais carros da Red Bull como aqueles mais capazes de dominar o mundo da Fórmula 1.

Agora, a qualificação começou por mostrar que, por melhor que possam ser os carros, a parte humana tem mesmo grande influência: ainda na Q1, com a garantia de que não haveria chuva nem pressão para ir mais cedo para a pista, Sergio Pérez teve uma saída ainda na curva 3 e já não conseguiu ir a tempo de corrigir a situação, saindo assim da última posição na Austrália depois de ter ganho na Arábia Saudita. Também Oscar Piastri, o piloto prodígio que reforçou este ano a McLaren e fazia a estreia em “casa” depois de desistir no Bahrain e de acabar na 15.ª posição em Jeddah, não passou da Q1 com o 16.º tempo da qualificação.

As surpresas continuaram na Q2, neste caso mais numa vertente positiva: apesar de ter pela frente ainda carros da McLaren, da Alpine, da Haas e da AlphaTauri, Alexander Albon conseguiu fechar o décimo melhor tempo, fugindo a um “corte” que estaria nas previsões de todos mesmo que a missão a partir de agora fosse complicada de fugir à décima posição. Chegara a altura decisiva da luta pelo melhor lugar na grelha de partida, com Max Verstappen a ter como principais adversários os Aston Martins, os Ferrari e os Mercedes e a sair rápido para a pista para fixar o melhor tempo em 1.17,758 antes de Alonso fazer 1.17,303, Carlos Sainz e George Russell ficarem muito próximos e Lewis Hamilton voar para o primeiro lugar com 1.17,271.

A seis minutos do final estava tudo em aberto com os tempos a caírem sem grandes margens e com Max Verstappen a melhorar para 1.17,262 quando das boxes vinham informações de que a possibilidade de haver chuva ainda na Q3 começava a tornar-se inevitável numa fase em que Albon continuava a ser o mais rápido no segundo setor e a surpreender com a oitava posição. O campeão mundial ainda tinha mais no carro para dar e foi assim que baixou da fasquia do 1.17, fazendo 1.16,732 que garantiu nova pole position antes da redenção dos Mercedes, com Russell e Hamilton a ficarem com o segundo e terceiro lugares à frente de Fernando Alonso. A Ferrari acabou por ser a “derrotada” da qualificação, não passando da quinta posição de Sainz e da sétima de Leclerc, tendo pelo meio o outro Aston Martin de Lance Stroll.