“Temos de ser honestos, foi ele, Bento XVI, quem travou a guerra contra o abuso sexual na Igreja Católica, foi ele quem lutou até a morte com isso. Muitos não entenderam, mas ele havia previsto, ele foi corajoso e eu segui os seus passos.” O Papa Francisco falava de Joseph Ratzinger, o Papa Emérito que morreu no último dia de 2022, durante uma entrevista ao canal argentino C5N.

Papa Francisco tem alta este sábado. Pontífice vai presidir às cerimónias da Semana Santa

A entrevista, a propósito dos dez anos de pontificado, foi dada antes de Francisco ter sido internado com uma bronquiolite, na quarta-feira passada. O Papa recebeu alta no sábado e, neste Domingo de Ramos, celebrou a missa na Praça de São Pedro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Durante a conversa com o jornalista, na passada semana, o Papa foi muito crítico da política argentina e da brasileira — tendo afirmado que Lula da Silva e Dilma Rousseff são inocentes —, enquanto que o tema da pedofilia na igreja foi um dos temas abordados.

O Papa frisou que os abusos na igreja não são muitos olhando para o total geral — “3% dentro da Igreja” quando 46% ocorrem na família ou na comunidade —, mas considerou “esse número suficiente” para ser investigado e para travar abusos futuros. “A vocação de uma freira ou de um padre é ajudar espiritualmente uma pessoa e não de usá-la para destruí-la”, considerou, frisando que “o abuso deixa uma marca dura”.

Francisco falou também da homossexualidade, considerando que também eles são“filhos da Igreja” e que esta não pode ser divida em setores. “Existem cerca de 30 países onde a homossexualidade é criminalizada, são todos loucos. Vamos desacelerar um pouco. É um facto humano”.

Sobre o Brasil, Francisco falou de Lula, atual Presidente do Brasil, e de Dilma, antiga Presidente, quando falou do lawfare, um termo que se aplica quando o sistema de justiça é usado para perseguir adversários políticos.

Missa do Domingo de Ramos. “Há hoje tantos cristos abandonados”, diz Papa Francisco

“O lawfare abre caminho nos meios de comunicação. Deve-se impedir que determinada pessoa chegue a um cargo. Então, essa pessoa é desqualificada e passa a ser suspeita de um crime. Faz-se todo um sumário, um sumário enorme, onde não se encontra nada, mas, para condenar, basta o tamanho desse sumário. Onde está o crime aqui? Mas, sim, parece que sim… Assim condenaram Lula”, afirmou o Papa Francisco.

Sobre Dilma, o Papa considerou-a “uma mulher de mãos limpas, uma mulher excelente”. Referindo-se aos dois políticos brasileiros, Francisco considerou que, em ambos os casos, inocentes foram condenados, em resposta a uma pergunta do jornalista, e esses mesmos políticos “têm a missão de desmascarar uma Justiça injusta”.