A reunião que juntou elementos do Governo, do grupo parlamentar do PS e a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, em janeiro serviu para “partilha de informações, para conhecer o processo”. Quem o diz ao Observador é o deputado socialista Carlos Pereira, que esteve no encontro e garante que é “óbvio” que o grupo parlamentar dos socialistas faz muitas reuniões “antes e depois” das audições parlamentares, recusando que exista qualquer “violação ética” no caso.

O assunto foi trazido para a audição parlamentar da CEO demitida da TAP, no contexto da comissão parlamentar de inquérito (CPI) sobre a companhia aérea, e agitou os ânimos dos deputados. À revelação de Christine Ourmières-Widener de que teve uma reunião em janeiro, convocada pelo ministério das Infraestruturas e Habitação, para preparar uma audição sobre a polémica saída de Alexandra Reis, PSD, IL e Chega responderam com duras críticas e acusações de desrespeito pela separação de poderes.

Carlos Pereira, coordenador do PS na comissão da TAP, esteve reunido com CEO na véspera da audição parlamentar de janeiro

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E, confrontados com a informação, também revelada pela CEO da empresa pública, de que o socialista Carlos Pereira — que coordena a pasta da Economia na bancada do PS e tem assento nesta CPI — foi um dos presentes, o PSD exigiu que os trabalhos parassem.

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Ao Observador, o deputado socialista confirma que esteve na reunião, afirmando que é uma prática comum. “Da mesma forma que os outros partidos fazem e não sei se não fizeram antes com a CEO da TAP ou com outras entidades para troca de informações. Como a CEO confirmou tratou-se de uma reunião de partilha de informações para conhecer o processo”, respondeu, negando que tenha havido alguma combinação de perguntas e respostas.

“Estou certo que um pedido de outro partido à TAP para compreender a situação também poderia ter acontecido ou aconteceu noutro contexto”, prossegue o deputado na resposta enviada ao Observador. E diz que, na sua ótica, “não há qualquer violação ética”: “É um esforço para conhecer os factos e atuar bem e a favor do interesse público”.

O deputado aproveita também para defender que o único dado novo que esta audição trouxe foi “a recusa da CEO em admitir o seu despedimento” — “mas pelo contrário já tem certeza sobre o despedimento de Alexandra Reis”, ironiza. E ataca a oposição por, diz, se agarrar a “casos e casinhos”: “Nada de essencial ou novo que permita evoluir no escrutínio”.

“Do meu ponto de vista a oposição está a assumir uma vertigem insaciável para rebentar com a TAP, e o seu plano de reestruturação, convencida que isso prejudica o governo. Pode ser, mas pelo caminho destrói um ativo do país!”, remata o socialista, frisando que este encontro aconteceu no contexto de uma audição parlamentar que não estava inserida nos trabalhos desta CPI.

Ao que o Observador apurou junto de fontes socialistas, as reuniões preparatórias têm sido comuns antes de audições com membros do Governo ou outras entidades, normalmente com o objetivo de trocar informação. O que é menos comum é essa reunião ser convocada, conforme o que alegou Ourmières-Widener, por um membro do Executivo que não tenha a pasta dos Assuntos Parlamentares. O Observador contactou na última hora o ministério das Infraestruturas e da Habitação, assim como o grupo parlamentar do PS, sobre a existência e a iniciativa da marcação da reunião, questionando também se consideram que suscita problemas éticos.

Ainda na audição, a CEO da TAP revelou os nomes das pessoas convidadas para este encontro, que descreveu como “mais um briefing do que uma reunião de estratégia”, sem saber dizer se todas chegaram a estar presentes, num lote que também inclui membros do ministério dos Assuntos Parlamentares. A reunião aconteceu a 17 de janeiro, antes de uma audição imposta de forma potestativa pelo Chega.