Cabelo humano com três mil anos descoberto numa caverna na ilha de Menorca é a primeira prova de como os antepassados consumiam drogas alucinogénias, revela um novo estudo científico publicado na revista Scientific Reports.

Os cabelos foram descobertos no sítio arqueológico de Es Càrritx, uma caverna encontrada em 1995 que contém sete câmaras diferentes, segundo explica a investigação. Durante a Idade do Bronze, entre 1400 A. C. e 800 A. C. o local foi utilizado como jazigo, tendo sido enterradas no local mais de 200 pessoas.

Alguns dos corpos descobertos apresentavam marcas de um ritual fúnebre. Depois de levados para a caverna de Es Càrritx, de acordo com os investigadores, terão sido pintadas madeixas vermelhas nos cabelos devidamente penteados. A investigação diz ainda que algumas partes foram cortadas e armazenadas em tubos feitos de chifre ou madeira.

Esta prática, segundo os investigadores, tinha já sido realizada noutros locais arqueológicos. Em Es Càrritx, contudo, 10 destes frascos artesanais foram escondidos, em conjunto com outros artefactos fúnebres, numa câmara selada da caverna.

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Os cientistas analisaram os pedaços de cabelo separando quimicamente os seus componentes e identificando depois as suas moléculas. Os compostos encontrados são todos produzidos por plantas que crescem na ilha de Menorca e são conhecidos por alterar a perceção e causar delírios e euforia.  Segundo o estudo científico, os investigadores deteram o composto estimulante efedrina, atropina e escopolamina — ambos compostos psicoativos que podem causar desorientação e alucinações.

Com estas novas descobertas, apresentamos a primeira evidência do consumo de droga na pré-história europeia”, explicou à CNN a autora principal do estudo e professora de pré-história na Universidade de Valladolid, Elisa Guerra-Doce.

Uma vez que os tubos de chifre e madeira encontrados estavam escondidos numa câmara selada, e sem contacto humano desde 800 A. C., é pouco provável que os compostos psicoativos tenham sido introduzidos em períodos mais recentes nas amostras de cabelo através do ar. Os fios de cabelo analisados absorveram os compostos químicos depois de estes terem sido ingeridos pelas pessoas que viveram há cerca de três mil anos. Com base nas análises dos investigadores, os compostos químicos terão sido ingeridos cerca de um ano antes da morte.

Apenas uma fração reduzida das pessoas enterradas passaria pelo processo de colorar e preservar o cabelo, pelo que esta descoberta pode auxiliar a comunidade académica a determinar de que modo operavam as sociedades pré-históricas — pensa-se que este processo fúnebre pode significar um estatuto social diferenciado dentro da tribo. A autora do estudo sugere que algumas figuras da época, que teriam provavelmente papel de relevo religioso, controlariam o uso destas drogas.