Não há insubstituíveis, mas é difícil ficar sem Travante Williams. O base do Sporting acrescenta ao talento para colocar a bola no cesto um contributo de rockstar que quando não está em campo faz dos leões uma equipa mais parecida a uma banda sem vocalista. Joshua Patton tentou agarrar no microfone quando começou o jogo, ao afundar na cara de Michael Finke, mas foi o efeito do eco que tramou a equipa que recebeu o rival no Pavilhão João Rocha naquela que foi a antepenúltima jornada da segunda fase do campeonato que antecede os playoffs. O poste dos dragões marcou 33 pontos na vitória dramática do FC Porto por 110-106.

O clássico vinha numa altura em que o FC Porto liderava a segunda fase do campeonato com um ponto de vantagem sobre Benfica e Sporting. O duelo entre dragões e leões tinha particular relevância neste contexto: com apenas uma partida por jogar, os azuis e brancos tinham oportunidade de arredar a equipa de Alvalade da possibilidade de chegar ao primeiro lugar. Aliás, a probabilidade da classificação final do momento que antecede os playoffs ser a mesma ia sair desta jornada era grande, dado que não vai existir nenhum jogo entre FC Porto, Benfica e Sporting nas derradeiras rondas. Ficar em primeiro não é uma questão menor, pois pode permitir a quem garantir esse posto ter um enquadramento nos playoffs onde pode só encontrar outros candidatos ao título na final do campeonato.

A troca de Ivica Radić por Joshua Patton a meio da época veio trazer melhorias consideráveis ao Sporting ao nível da proteção do cesto. Com o regresso de Tanner Omlid no jogo anterior dos leões, diante do Lusitânia (98-59), a equipa verde e branca adicionava mais uma peça importante no sistema defensivo. No entanto, a consequência imediata foi a saída de Travante Williams da lista de disponíveis.

Apesar de tudo, falar sobre defesa para uma audiência que não quer ouvir é infrutífero. Os números elevados da pontuação do primeiro período (34-27 a favor dos dragões) davam volume a um acerto que espantava a rede sempre que a bola transpunha o aro atirada de trás da linha de três pontos. Em 10 minutos, o FC Porto marcou seis triplos em nove tentados, aproveitando a mão quente de Michael Finke, Marvin Clark e Max Landis, todos eles com eficácia de lançamento exterior igual ou superior a 45% na competição. O treinador do Sporting, Pedro Nuno, lançou André Cruz cedo a partir do banco, extremo que, habituado a defender bases a campo inteiro, tentou conter o os jogadores de perímetro do adversário.

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Mesmo que a bola não fizesse o que o Sporting queria, ao menos os leões continuaram a cuidar bem dela. A quase ausência de turnovers mantinha a equipa verde e branca por perto no marcador. O sucesso de uma defesa subida e a quantidade considerável de roubos de bola a partir daí. A defesa cria o ataque. A equipa da casa chegou a ter o jogo a um ponto e dava a entender que seria uma questão de tempo até liderar, algo que só tinha acontecido nos instantes iniciais do jogo. No entanto, o FC Porto, que vinha mostrando algumas dificuldades a jogar em cinco para cinco em meio-campo, começou a saltar passos na construção dos ataques e com a restante dose de triplos do plafond cavou dez pontos até ao intervalo (53-43).

Com os árbitros muito atentos às faltas técnicas e anti-desportivas, o jogo endureceu com o Sporting a apostar no físico para conter os portistas. Isaiah Armwood ganhou uma grande preponderância nos dois lados do campo ao longo do terceiro período. Os leões tomaram a dianteira, mas rapidamente permitiram que o FC Porto disparasse novamente para a casa das dezenas (77-68). Pedro Nuno foi obrigado a retirar o norte-americano do encontro quando este fez a quarta falta, fazendo subir o risco de ser excluído.

O treinador do FC Porto, Fernando Sá, passou a ser um homem intranquilo quando o Sporting, mais uma vez, encostou o resultado. Eddy Polanco marcou um triplo a 17 segundos do fim e colocou os leões a um ponto. De seguida, o portista Teyvon Myers teve dois lances livres à sua disposição e marcou apenas um. De novo com a posse de bola, os sportinguistas deram a bola a Marcus Lovett. O base sofreu falta num lançamento de três pontos e foi para a linha de lance livre, sendo que marcou apenas dois, confirmando a fraca percentagem (59%) que a equipa levava. Na última posse de bola do encontro, o FC Porto ainda colocou a bola dentro do cesto, mas o lançamento foi realizado para lá do toque da buzina. Com o jogo empatado a 98, seguiu-se o prolongamento. 

O FC Porto acabou por ser mais forte, partindo para uma vitória preciosa que pode valer o primeiro lugar caso nada de anormal aconteça na última jornada contra o Lusitânia. Os dragões passam também a ter vantagem nos duelos diretos com os rivais de Alvalade. Os azuis e brancos passam a ter três vitórias contra o Sporting contra apenas duas do adversário.