Durante meia hora, tudo parecia um sonho. Após sete vitórias consecutivas na Premier League, o Arsenal foi a Anfield dar uma lição de classe e maturidade num clássico que não ganhava há mais de uma década, esteve com dois golos de vantagem e dominava por completo a partida perante a ansiedade crescente dos adeptos do Liverpool. Depois, tudo se esfumou. Ramsdale ainda evitou males maiores entre uma grande penalidade falhada por Salah mas o 2-2 de Firmino a cinco minutos do final relançou de vez a decisão da Liga inglesa. Com uma nuance: a partir daí, e ao contrário do que aconteceu ao longo de várias jornadas, o Manchester City dependia também apenas de si para revalidar o título de campeão. Começaram a soar os alarmes.

Estenderam a passadeira para depois puxarem o tapete: Liverpool empata Arsenal e City também só depende de si para o título

Pep Guardiola anda há muito com a conversa de que um deslize será fatal para os citizens mas, quando se olha para os resultados, não sequer vestígios desse tal deslize. Na véspera, este sábado, foi mais um exemplo: frente a um Leicester que precisa urgentemente de pontos e que tem equipa para muito mais do que o atual penúltimo lugar, o encontro estava resolvido com apenas 25 minutos de jogo (3-0, que acabou em 3-1). Nem mesmo o facto de jogar em muitos tabuleiros entre Premier, Champions e Taça impede que o Manchester City seja uma das equipas em melhor momento na Europa. E isso era um problema para o Arsenal.

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A apenas dez dias de mestre e aprendiz se voltarem a encontrar num Manchester City-Arsenal que poderá ser decisivo para o primeiro lugar, os gunners enfrentavam outra complicada deslocação ao Estádio Olímpico para o dérbi frente ao West Ham, mais um histórico que está ainda nas provas europeias (Liga Conferência) ao mesmo tempo que tenta fugir aos lugares de despromoção. Margem de erro, até para manter o conforto anímico da liderança? Zero. Era nesse contexto que o Arsenal enfrentava mais um técnico com quem tinha uma ligação forte, David Moyes, que o orientou quando o espanhol era jogador do Everton.

“Penso que há algo mais do que respeito, é admiração. Adorei jogar por ele. Atravessaria um muro por ele quando era meu treinador e penso que todo o plantel faria o mesmo. É um excelente treinador. Excelente a gerir o grupo e a lidar com as individualidades, era uma pessoa especial. Um ser humano muito especial, que sempre honrou a sua palavra. Aprendi muito com ele. Viu coisas em mim que ninguém ainda tinha visto e pediu-me para jogar em posições que nunca tinha jogado na minha vida”, tinha referido na antecâmara Arteta. “Será um jogo muito difícil frente ao West Ham, já jogámos lá algumas vezes. Achámos sempre que eram jogos complicados. Será uma luta e outro grande clássico para nós. Precisamos de estar no nosso melhor para vencer”, acrescentou ainda sobre a partida frente aos hammers. Estaria aquele empate agridoce em Anfield esquecido? Aparentemente não. Não mesmo. E aquilo que se viu no recinto que recebeu os Jogos Olímpicos de 2012 foi mais um “recorde” de como desperdiçar outra desvantagem…

À semelhança do que tinha acontecido com o Liverpool, o Arsenal não demorou a sacar a sua melhor versão de futebol com resultados práticos no resultado: numa jogada fantástica que passou por Saka, Ödegaard e Partey, Ben White conseguiu ganhar a linha na direita para cruzar rasteiro ao segundo poste onde Gabriel Jesus só teve de encostar (7′). Desde que voltou após longa paragem, o brasileiro fazia o quarto golo em três jogos como titular, dando o mote para mais uma aceleração que permitiu chegar ao 2-0 ainda no quarto de hora inicial com Martinelli a centrar ao segundo poste para o remate de primeira de Ödegaard (10′). Tudo corria de feição aos gunners, que dominavam por completo até Partey adormecer nesse conforto, ter um erro crasso com Rice por perto e “dar” um penálti ao West Ham que Benrahma não falhou (33′). E os males não foram maiores porque Ramsdale travou um cabeceamento de Michail Antonio após um livre (37′).

Aquilo que parecia resolvido estava com outro figurino muito por culpa do Arsenal e da forma como deixou que os visitados fossem ganhando vida no jogo. Assim, não havia outro caminho: os gunners teriam de voltar a entrar da mesma forma para evitarem um remake completo daquilo que tinha acontecido em Anfield. E a oportunidade esteve lá, com Saka, um jogador que durante muito tempo ficou marcado pelo penálti falhado na final do Euro-2020, a desperdiçar de novo uma grande penalidade (52′). Não marcou, sofreu: depois de um lançamento lateral para a área, a segunda bola ganha pelos hammers foi parar a Bowen e o avançado fez de primeira o empate (54′). A partir daí, os líderes da Premier agarraram de novo no encontro mas sem a mesma capacidade de criar ocasiões e ainda foi Antonio a acertar na trave de cabeça nos últimos minutos. O Arsenal não conseguiu evitar o empate e, caso o City ganhe o jogo em atraso, só tem um ponto de avanço…