Gritos de alegria, risos e aplausos daqueles que se reuniram na praia de Airleu, a 200 quilómetros a leste de Díli, deram as boas-vindas ao eclipse total, que fez movimentar milhares de pessoas para esta zona de Timor-Leste.

Passava pouco das 13h00 quando a lua tapou totalmente o sol, deixando brilhar apenas uma auréola de gás, multicor, que deu tonalidades rosas, verdes e azuis às nuvens, ao mar e até à areia onde as chamadas “franjas de sombras” se tornaram visíveis.

Catalin Beldea, astrónomo amador da Roménia, que viajou para Timor-Leste propositadamente — este é o 14.º eclipse total que presenciou em “seis continentes e meio” –  explicou à Lusa que este é uma das características dos momentos dos eclipses.

Linhas finas que alternam luz e escuridão, que se movimentam em ondulações paralelas, resultando de padrões aleatórios de turbulência de ar fino e que refratam a luz solar que passa pelo eclipse, disse.

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“Persigo eclipses em todo o mundo. Sou um astrónomo amador, tenho um espetáculo sobre astronomia, que viaja por toda a Roménia, explicando aos jovens e ao resto da população a magia dos eclipses, mas do espaço em geral”, explicou Beldea.

Eclipse total de quinta-feira chama “amantes da sombra” de todo o mundo a Timor-Leste

“O eclipse é algo fantástico e que vivemos com todos os nossos sentidos. Fica mais fresco, o vento aumenta e a escuridão vai crescendo. Agora, felizmente, até podemos transmitir estes fenómenos em direto para todo o mundo”, referiu, acrescentando que o próximo a que irá assistir será “no México ou nos Estados Unidos”.

A maior parte dos que viajaram para o leste fez oito horas de carro, quatro em cada sentido, para testemunhar um momento único para a população.

Deitados no chão, óculos de eclipse na cara — nas últimas semanas multiplicaram-se em vários locais ofertas dos pequenos óculos de cartolina, com maior ou menor qualidade — os curiosos acompanharam o eclipse.

A temperatura baixou, o vento aumentou ligeiramente e o mar ficou mais agitado.

“Sim, algumas pessoas descrevem isto como uma experiência mística. O sol desaparece. Surge um grande buraco negro no céu e depois apenas o efeito corona. Esse círculo é tudo para nós, é como se fosse a atmosfera do sol, um gás a dos milhões de graus. E a Terra vive sob os efeitos desta grande corona”, explicou o astrónomo amador.

Uns quilómetros mais à frente, em Com, onde estavam milhares de pessoas, entre timorenses e estrangeiros, neste caso turistas, astrónomos e curiosos, os gritos também se fizeram ouvir no momento do eclipse.

As autoridades timorenses prepararam uma grande festa para Com, que incluiu até um concerto na noite de quarta-feira, levando muitos a viajarem antes para a zona, ocupando todo o alojamento disponível ou preferindo acampar na praia ou noutros locais.

Na Presidência da República, o chefe de Estado, José Ramos-Horta, acompanhou o fenómeno através de uma ligação em direto — transmitida igualmente pela televisão pública RTTL — a um telescópio que o astrónomo amador Luis Morales foi comprar propositadamente à Austrália.

Esta ligação permitiu projetar o eclipse num ecrã gigante no local — e que chegou a incluir ligações em direto e ‘streaming’ desde Com, feitas por uma equipa de mais de 25 astrónomos do sudeste asiático que também viajaram para o país para o efeito.

Nas últimas semanas, várias autoridades timorenses alertaram a população para os riscos de olhar diretamente para o sol.

Os avisos, somados a decisões unilaterais da polícia — que chegou a anunciar proibição de circulação em todo o país — levaram muitos, amedrontados, a nem sequer saírem de casa.

Para os outros, os timorenses e os estrangeiros que o presenciaram e viveram, será certamente uma experiência única para contar.