PSD, Chega, IL, BE, PCP, PAN e Livre criticaram esta sexta-feira as contradições do Governo sobre a eventual existência de um parecer que fundamente a demissão da CEO e do chairman da TAP, exigindo ao executivo que preste mais esclarecimentos.

Os partidos fizeram estas críticas após, na quinta-feira, o ministro das Finanças ter dito que não há “nenhum parecer adicional” a fundamentar a demissão do chairman e da presidente da comissão executiva da TAP, um dia depois de o gabinete da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares ter afirmado que esse parecer não podia ser partilhado para salvaguardar o interesse público.

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Pelo PSD, Luís Montenegro disparou diretamente contra António Costa, responsabilizando o primeiro-ministro pela falta de coordenação e articulação num Governo sem “autoridade” e “sem emenda”, mas sem se comprometer com o uso de instrumentos como uma moção de censura.

“Todos os membros do Governo dizem coisas diferentes. O primeiro-ministro não tem nada a dizer ao país sobre isto? Este silêncio representa o quê? Medo, cobardia política… Já não consegue justificar o que os ministros andam a fazer.” E considerou que Costa, que devia “tranquilizar o país”, se está a “esconder” e a protagonizar “a maior fuga de responsabilidades de um primeiro-ministro”.

Para o PSD, todos os ministros envolvidos nas contradições sobre o parecer que afinal não existia estão fragilizados e fica claro que o Governo “é uma instituição que está a funcionar de modo muito irregular” e que não está a salvaguardar o interesse público.

Em declarações aos jornalistas no Parlamento, o líder do Chega, André Ventura, considerou que tem havido uma “mentira, repetida vezes sem conta, que circula entre membros do Governo e de membros do Governo para fora” sobre este assunto, defendendo que “esta mentira tem de ser desmascarada”.

Ventura voltou a desafiar o primeiro-ministro, António Costa, a dar explicações ao país sobre este caso, considerando que, se mantiver a confiança nos ministros das Finanças, Assuntos Parlamentares e Presidência, “está a dar respaldo à mentira, à insensatez e ao amadorismo”.

O líder do Chega anunciou ainda que o seu partido vai pedir que sejam entregues à comissão de inquérito à TAP “toda a documentação” e troca de correspondência entre os serviços centrais jurídicos do Estado, o Governo e a tutela sobre este caso, argumentando que não acredita que o Governo não tenha “um único documento jurídico” que sustente o despedimento de Christine Ourmières-Widener.

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Por sua vez, o líder da IL, Rui Rocha, considerou que os ministros Ana Catarina Mendes e Fernando Medina têm “versões absolutamente incompatíveis” sobre a existência de um parecer que sustente o despedimento da CEO e do chairman da TAP, o que disse comprovar que “um deles está a mentir ao país”.

“Os ministros não têm já capacidade sequer de se coordenarem entre si e de apresentarem versões minimamente coerentes dos factos, há um completo descontrolo naquilo que é o Governo da República portuguesa neste momento”, frisou, pedindo ao primeiro-ministro que “fale com os seus ministros” e “venha dizer ao país qual dos ministros está a mentir”.

Pelo BE, Mariana Mortágua defendeu que, mais do que uma “decisão ponderada e preparada”, a demissão de Christine Ourmières-Widener e de Manuel Beja foi “mais um momento de guerra interna do PS, que não defendeu o interesse do país”.

Para a deputada do BE, houve “ministras que mentiram” neste caso, referindo-se a Ana Catarina Mendes e Mariana Vieira da Silva, “porque disseram ao país que não podiam divulgar um parecer que não existe“.

“Tendo em conta a elevada quantidade de ministros envolvidos neste caso, e as várias versões sobre este parecer que afinal não existe, seria importante que o primeiro-ministro pudesse esclarecer esta situação e dizer o que pensa sobre ela”, frisou.

Também a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que o Governo deve “um cabal esclarecimento ao país” sobre estas demissões, considerando que há elementos que têm vindo a público que “são contraditórios” e que “suscitam dúvidas”.

No entanto, Paula Santos referiu que o PCP se opõe “à instrumentalização que está a ser feita à comissão de inquérito à TAP, com o único objetivo de favorecer o crime que constitui a privatização” da companhia aérea.

O deputado único do Livre, Rui Tavares, criticou o facto de o Governo “não se conseguir entender acerca de se teve ou não um parecer adicional acerca da demissão” de Ourmières-Widener e Manuel Beja, ironizando que o caso faz lembrar um sketch dos Gato Fedorento.

“O parecer, qual parecer? O papel, qual papel?“, disse.

Inês de Sousa Real, do PAN, criticou o “episódio inusitado do parecer da TAP”, que “mais parece uma brincadeira de mau gosto”, e defendeu que devem ser dados “mais esclarecimentos”, em particular através da entrega dos emails sobre este caso à comissão de inquérito à TAP.