O truque estava em multiplicar o pouco para fazer o muito. Aquilo que podia parecer um pequeno passo era o início de um caminho que ainda é longo para o Manchester City, mas que, no final, pode levar à obtenção de algo quase inédito. Na meia-final da FA Cup, em Wembley, diante do Sheffield United, a equipa de Guardiola podia dar um passo em frente na tentativa de conquistar o troféu. No entanto, é assumido pelo treinador que os citizens não praticam gula de títulos. Alimentam-se apenas dos necessários. Só que, perante o banquete à disposição, fica difícil resistir. Tudo porque, nesta fase da época, o City pode conquistar, não só a FA Cup, como também a Premier League e a Liga dos Campeões, o que, caso acontecesse, levaria o conjunto de Manchester a um treble (com conquista europeia) que apenas os rivais do United conseguiram em Inglaterra.

“Entusiasmado com o treble? Claro que não. Estamos muito longe de podermos falar sobre isso”, comentou Guardiola. “Apenas 11 jogos? Yeah yeah! Apenas 11 jogos…”, ironizou. “Quantas vezes neste país maravilhoso foi conseguido um treble? Quantas vezes? Uma. Os nosso vizinhos conseguiram-no. Em quantos séculos? Estamos mais perto de não o conseguir do que de o conseguir. O nosso foco é ter pernas para competir contra o Sheffield United”.

Guardiola queria pernas e colocou um jogador de mão cheia no onze inicial: Bernardo Silva. O técnico conciliou ainda Haaland e Julián Álvarez no onze inicial. Rúben Dias, Kevin De Bruyne e Rodri ficaram no banco de suplentes, integrando a gestão física do plantel que o técnico espanhol assumiu precisar de fazer.

No percurso até à meia-final, o Sheffield United eliminou o Tottenham, mas também o clube mais conhecido de sempre dos escalões secundários do futebol inglês, o Wrexham, famoso pelo documentário dos atores Rob McElhenney e Ryan Reynolds. Enquanto isso, o Manchester City deixou pelo caminho o Arsenal e o Chelsea.

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Os citizens quase ganhavam um argumento para realizarem um filme dramático. Foi a equipa do Championship, o segundo escalão do futebol inglês, que quase inaugurou o marcador nos instantes iniciais, mas Iliman Ndiaye, o melhor marcador da equipa que ocupa a zona de acesso direto à Premier League (14 golos), não bateu o guarda-redes do Manchester City para este jogo, Ortega.

A equipa de Guardiola tinha dificuldades em encontrar espaços entre o sistema defensivo de 5x3x2 do Sheffield United e recusava-se a recorrer a situações de cruzamento, potenciadas pelo espaço nos corredores laterais, preferindo, em vez disso, forçar entradas pelo meio. Sem sucesso. No entanto, um erro de Daniel Jebbison deitou tudo a perder. O defesa fez uma falta dentro de área que deu para ver de Marte sobre Bernardo Silva. Mahrez (41′) encarregou-se da marcação e não deu hipóteses ao guarda-redes Foderingham.

Numa das poucas tentativas de saída para o ataque, o Sheffield United  demonstrou o porquê de não o fazer muitas vezes contra um adversário de tão grande poderio. Max Lowe perdeu a bola e Mahrez (61′) correu até à baliza. Não ia sozinho, o que fez com que os defesas da equipa comandada pelo técnico Paul Heckingbottom esperassem pelo momento em que o argelino ia passar a bola. Só que não o fez e aumentou a vantagem para o Manchester City.

Apesar da estratégia defensiva dos blades estar desfeita, alguns dos comportamentos foram constantes ao longo do jogo, nomeadamente a tentativa de fazer dois contra um sempre que os avançados dos citizens recebiam a bola junto às laterais, no último terço. Mesmo assim, ninguém conseguiu conter Jack Grealish na esquerda. O extremo desenvencilhou-se da oposição e assistiu Mahrez (66′) para o hat-trick.

Mahrez alcançou os 15 golos na temporada naquela que foi a primeira vez que um jogador marcou três golos numa semi-final da FA Cup desde 1958. Registo histórico que marca a passagem do Manchester City à final onde vai encontrar o vencedor do Brighton-Manchester United.