Em alguns segundos, o bom, o mau e o pior. Quando se olha com atenção para a saída para o Grande Prémio de Espanha, Miguel Oliveira conseguiu ser dos primeiros pilotos a reagir ao sinal de partida, não foi feliz na aceleração inicial que levantou em demasia a parte dianteira do moto, perdeu alguns lugares na chegada à primeira curva e acabou depois por ser abalroado por Fabio Quartararo ainda na volta inicial. Quando tinha o foco na possibilidade de melhorar o quinto lugar da corrida sprint, o português ficou de novo da fora.

Mais um abalroamento, mais uma desistência: Quartararo cai e leva Miguel Oliveira para fora do Grande Prémio de Espanha na primeira volta

Não foi propriamente um filme igual ao que tinha acontecido com Marc Márquez no Algarve. Aí, o espanhol teve uma atitude incompreensível, ainda pior quando justificou o erro com problemas nos travões pelo sítio onde fez essa travagem em curva que nunca poderia ter um final feliz e acabou por levar também consigo Miguel Oliveira quando o português seguia na segunda posição. Aqui, Fabio Quartararo foi acusado de condução irresponsável (e sancionado com uma volta longa em Jerez de la Frontera) mas teve como uma espécie de atenuante o facto de ter ficado “entalado” por Marco Bezzecchi antes da queda. No entanto, o maior prejudicado voltou a ser o mesmo, Miguel Oliveira, que tentaria minimizar danos ao longo da corrida.

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Ao contrário de Quartararo, que saiu pelo seu pé e voltou depois à corrida para a segunda partida (tal como tinha acontecido na véspera na corrida sprint), Miguel Oliveira foi levado de maca para a ambulância e seguiu de imediato para o centro médico. A primeira informação oficial dizia apenas que o piloto português estava consciente, a segunda confirmou que o número 88 foi considerado inapto para voltar à corrida. No entanto, as primeiras imagens não traziam boas notícias: ao sair da ambulância para o centro médico, era percetível o cuidado dos médicos com a clavícula e o braço esquerdo do piloto da RNF Aprilia.

As más notícias acabaram mesmo por confirmar-se: Miguel Oliveira deslocou o úmero do ombro esquerdo, que entretanto já foi colocado no sítio, e encontra-se “a receber oxigénio e ligeiramente sedado” para as dores enquanto vai realizar mais exames para apurar a extensão do problema, conforme explicaram os responsáveis. “Neste momento está bem, está a receber oxigénio para ficar o mais confortável possível. Está ligeiramente sedado, sofreu uma deslocação da extremidade do úmero do braço esquerdo, que foi recolocado de forma bem sucedida. Será feita uma ressonância para ver a situação do úmero, para perceber como está agora. Se não tiver outra lesão, a recuperação será rápida”, disse o médio Franco Peroni à SportTV.

Este início de ano é de longe aquele que idealizei. Hoje a sorte bateu a porta outra vez e como resultado desloquei o ombro. Efetuarei mais exames para entender a extensão da lesão. Fé e paciência na recuperação e olhar em frente. Obrigado pelo vosso apoio”, escreveu o português numa mensagem publicada no seu Instagram oficial seis horas depois da corrida.

Miguel Oliveira foi abalroado por Quartararo e só parou nas proteções, tendo deslocado o úmero do ombro esquerdo

Miguel Oliveira foi abalroado por Fabio Quartararo e só parou nas proteções, tendo deslocado o úmero do ombro esquerdo

Mais tarde, o canal desportivo, após falar com a família do piloto, avançou também que foi o próprio Miguel Oliveira a pedir para ser transportado ao hospital de Jerez de la Frontera pelas dores que continuava a sentir na região afetada. Além de ter feito mais exames, o português quis despistar qualquer outro problema mais grave além do úmero deslocado que foi colocado no sítio no centro médico do traçado. De acrescentar que, segundo as contas da Lusa, mais de metade das quedas de Miguel Oliveira no MotoGP foram provocadas por adversários e não resultado de erros do piloto (sete em 12 quedas).

“Neste momento, a notícia positiva é que não há grandes fraturas, mas uma luxação. Saberemos mais em breve. Foi um incidente infeliz de corrida na nossa opinião, não achamos que haja más intenções dos pilotos envolvidos. Estamos felizes que o Miguel não esteja tão mal quanto o incidente parecia no momento. Desejamos-lhe uma rápida e completa recuperação nos próximos dez dias antes de Le Mans”, destacou antes dessa ida à unidade hospitalar em Jerez de la Frontera Razlan Razali, chefe da RNF.

“Tivemos novamente um grande acidente com o Miguel, que foi novamente arrumado por outro piloto. Olhando para a situação, o arranque não foi fantástico, mas isso não diz nada. Devíamos ter estado mais à frente, mas ser eliminados da corrida é sempre muito triste. O ombro dele não está em condições fantásticas. Foi deslocado mas foi recolocado no lugar. Depois de ter tido um ótimo ritmo durante todo o fim de semana e uma ótimas sensações, para ele só conseguir fazer duas curvas é obviamente muito dececionante. De qualquer forma, vamos para o hospital agora e vamos tentar descobrir se ele pode competir na próxima corrida”, acrescentou ainda Wilco Zeelenberg, team manager da RNF Aprilia.

“Não tentei ultrapassar no arranque da corrida, estava apenas a tentar sobreviver à curva, mas tinha Bezzecchi à direita e o Miguel à esquerda. Toquei no Bezzecchi e na moto do Miguel mas porque não tinha espaço. Foi uma questão de tentar fazer a curva. Não podia fazer mais nada ali, o acidente era 100% seguro. Não havia razão para ser penalizado, porque estava a tentar fazer o meu melhor”, comentou também Quartararo, que mais do que o acidente em si colocou o enfoque na penalização de que foi alvo.