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"White House Plumbers": uma outra história dos estrategas de Watergate

Este artigo tem mais de 1 ano

Em cinco episódios, a minissérie "White House Plumbers" apresenta-nos os homens pouco conhecidos do maior escândalo americano. Estivemos à conversa com o realizador, David Mandel.

Justin Theroux (como G. Gordon Liddy) e Woody Harrelson (E. Howard Hunt) são os protagonistas de "White House Plumbers"
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Justin Theroux (como G. Gordon Liddy) e Woody Harrelson (E. Howard Hunt) são os protagonistas de "White House Plumbers"

Phillip V. Caruso / HBO

Justin Theroux (como G. Gordon Liddy) e Woody Harrelson (E. Howard Hunt) são os protagonistas de "White House Plumbers"

Phillip V. Caruso / HBO

Vale a pena começar com um apelo. Porque ao ver os cinco episódios de “White House Plumbers”, que se estreia a 2 de maio na HBO Max, lembramo-nos de uma inevitabilidade: há boas séries a quem nunca foi dada a devida atenção. Mais: nunca vão ter de facto essa atenção. É verdade que “Veep” ganhou prémios, que mostra o melhor papel da carreira de Julia Louis-Dreyfus, mas as sete temporadas parece que ficaram para sempre esquecidas, no meio de tanta outra coisa. “White House Plumbers” surge na mesma linha de “Veep” — porque é uma sátira política e porque os seus criadores, Alex Gregory e Peter Huyck, foram argumentistas regulares da série. Além disso, o realizador David Mandel foi o showrunner de “Veep” após a saída de Armando Iannucci na quarta temporada.

Isto para chegar ao óbvio: “White House Plumbers” é a melhor sátira política dos últimos anos. Atira-nos para o caso Watergate e para a história de E. Howard Hunt (Woody Harrelson) e G. Gordon Liddy (Justin Theroux), as duas mentes por detrás da ideia e da execução das peripécias no Hotel Watergate. Watergate fazia parte de um projeto maior, a “Operation Gemstone”. Não vale a pena entrar em detalhes, porque há um prazer absurdo em ver como tudo se desenrola. Não é por uma questão de spoilers, é porque existe uma incredulidade que se desmonta ao ver a situação. É muito melhor experimentar do que explicar. E David Mandel & co. fazem isso muito bem.

Uma história sobre quem sujou as mãos no caso Watergate, duas figuras (e a sua equipa) que são muitas vezes notas de rodapé na ficção em volta do caso. “White House Plumbers” dá-lhes o palco principal e não há um segundo em que não se pense porque é que foi preciso esperar tanto tempo (no ano passado, “Gaslit” pegava nas figuras, mas não as fazia brilhar). David Mandel escreve sobre comédia há muito tempo. Passou por “Seinfeld”, “Curb Your Enthusiasm” e deu uma ótima vitalidade final a “Veep”. Em “White House Plumbers” tem um elenco de luxo ao seu dispor: além de Harrelson e Theroux, há ainda Domhnall Gleeson, Lena Headey, Kiernan Shipka, David Krumholtz, Gary Cole e Toby Huss. Rimo-nos descontroladamente, mas temos vontade de chorar. Ainda para mais quando sabemos, como Mandel nos diz nesta breve conversa, que algumas coisas nem precisaram de ser escritas, foram colocadas tal e qual foram pensadas por Hunt e Liddy. Sobretudo, fascinante.

[o trailer de “White House Plumbers”:]

https://www.youtube.com/watch?v=QuKM2sTTmHg

Já que estou aqui a falar consigo, tenho de perguntar-lhe isto. O “primo Greg” é bestial em “Succession”, mas não lhe parece que o Jonah Ryan [personagem de “Veep”, interpretada por Timothy Simons e que é muitas vezes comparada a da série atual da HBO] nunca recebeu o respeito que merecia?
Penso que é por ser uma comédia… mas vou colocar isto de forma simples: adoro “Succession”, adoro o “primo Greg”, mas o Tim Simons e o Jonah não recebem o respeito que merecem.

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Muito bem. Avancemos. O que o fez mudar da comédia pura e dura para a sátira política?
Sempre me interessei por política. Na universidade licenciei-me em Ciência Política. Sei que parece piada, mas no meu tempo livre, se tiver de escolher um livro, prefiro algo sobre história ou uma biografia política. É aquilo que me interessa. Mas rio-me disso, é um caminho que não segui. Se não me tivesse tornado num argumentista de comédia, teria ido para política: trabalharia para a Selena [Meyer, personagem de “Veep”, interpretada por Julia Louis-Dreyfus], ao invés de escrever sobre ela. A política sempre me interessou e tenho esta ideia, que pode soar algo ridícula, de que as pessoas nos Estados Unidos sabem pouco sobre a sua história, sobre factos básicos. Sobretudo sobre o sistema político. Um pouco por culpa da Fox News e outros canais de notícias semelhantes, as pessoas passaram a receber as notícias de uma fonte, sem terem acesso à história completa. Ao contar estas histórias sobre política, tenho a oportunidade de colocar lições de história pelo meio. Agrada-me pensar que algumas pessoas irão ficar a saber o que foi o Watergate, ou ficar admiradas pelo Nixon ter feito isto ou até ficarem a saber que houve um presidente chamado Nixon: “Sempre ouvi o termo ‘gate’, mas agora sei que vem do Watergate”. Até me permite sonhar mais alto e talvez aqui esteja mesmo a sonhar alto, mas até podem pensar “isto faz-me lembrar um presidente recente, o Donald Trump”. Talvez alguns espectadores façam essas ligações. Não sei se alguma destas coisas irá acontecer, mas fascina-me a ideia.

Ainda bem que vai por aí. Já vi muita ficção em volta do Watergate, mas até ter visto o “Gaslit” e agora “White House Plumbers”, não me tinha apercebido da presença de Howard Hunt e de Gordon Liddy. Estão finalmente a ter a atenção que merecem?
Também já vi muita coisa. Obviamente que o pai disto tudo é o “Os Homens do Presidente” [de Alan J. Pakula] e nesse filme, e em todos os que se seguiram — embora no “The Post”, do Spielberg, isso aconteça no final —, vemos sempre umas imagens do Watergate, dos microfones a serem retirados, do segurança, daquele momento em que alguém diz “temos um problema na garagem. E depois há cinco homens que foram presos na noite passada no Watergate. Isto acontece sempre. Mas há aquele momento em que perguntamos “quem foram aqueles cinco homens e o que estão eles a fazer no Watergate?”. Não vou falar do “Gaslit”, porque não a vi, por razões óbvias, queria manter-me afastado. Por isso, acredito que somos a primeira série a contar a história destes homens, porque é que estavam lá, quem eram, do início ao fim, da perspetiva deles. Para mim, isso era importante, perceber como isto aconteceu no nível terreno, não nos corredores do poder, mas no terreno, ver os danos colaterais disso tudo, o que isto fez àqueles tipos, às suas famílias, como tudo aconteceu. A história precisava de ser contada. Sobretudo porque vejo o caso Watergate como o nascimento do problema dos “true believers”, que é um problema sério nos Estados Unidos. Estas pessoas que lutam por uma causa, que dão tudo por uma causa ou uma pessoa e que colocam isso acima de tudo: da razão, das suas vidas, da vida das suas famílias. Sempre com a ideia de que um presidente é uma entidade sagrada e de que vai tomar conta deles, de os proteger.

Falou em “Os Homens do Presidente” e em Pakula. Hunt e Liddy representam uma América paranoica?
Penso que o Hunt estava para aí inclinado, até porque tem ligações, reais ou não, com o assassinato do Kennedy. Mas o Liddy é diferente, é uma figura interessante. Para mim é o protótipo da cultura da fama atual, ele queria ser famoso e precisava de uma razão para isso. Queria ser um super espião e muito famoso, só que isso não faz qualquer sentido, porque um espião não deveria ser famoso. Mas se virmos o que ele fez com a sua infâmia, de como tornou a infâmia, crime e mau comportamento em popularidade, é um percurso da ideia de fama atual das redes sociais. Se ele fosse vivo agora, estaria forte nas redes sociais, com fotos dele, vídeos, o que fosse. Em relação à paranoia, é algo muito 1970s. O Hunt está no meio disso tudo, queria que a nossa série abordasse isso e piscasse um olho aos filmes de Pakula. Voltei a ver “Os Homens do Presidente” e “A Última Testemunha” e retirei algumas ideias visuais e de como a música funcionava. Não queria fazer uma versão de um filme dos 1970s, mas algo sobre os 1970s com uma lente de 2021 e 2022, que foi quando a série foi filmada. E também queria que criasse paralelismos com quem estava na Casa Branca na altura… para mostrar de como o Hunt e o Liddy poderiam ter existido naquele ambiente.

"Há umas semanas mostramos a série em Washington DC e o Bob Woodward estava lá. No final ele lembrou como eles eram tão idiotas mas, aos mesmo tempo, tão perigosos"

A cena em que são apresentadas as ideias do “Operation Gemstone” mostra o lado ridículo dos planos. Ouvi-los em voz alta, levou alguém a rir-se durante a rodagem?
Todos tínhamos vontade de rir, em simultâneo queríamos ser bem comportados. Porque o Justin [Theroux] tinha imensas linhas de diálogo, eram doze páginas, se não estou em erro. E é quase tudo de seguida, os outros quase não falam, o Hunt tem duas falas. Por isso, tivemos que nos conter, porque não queríamos fazer muitos takes. Tive de morder a minha própria mão para me conter. Mas o que é absurdo nessa cena e, em muitas outras da série, é a pureza de como a ouvimos e vemos. São ideias loucas atrás de ideais loucas, rapto, assassínios, trafulhice com as eleições, crimes a sério e isso é horrível. E depois é apresentado com este artwork lindíssimo, com uma atitude gung ho por tipos que parece que estão a vender bolos de escuteiros de porta a porta. Mas estão a vender crimes contra os Estados Unidos. É isso que torna tudo tão hilariante, depois há uma outra questão: algumas das ideias são expostas palavra por palavra sobre como tudo realmente aconteceu. E, quando pensamos nisto, é uma coisa de loucos… e é real. Além disso, havia muito mais ideias, tivemos de cortar imensas. Havia uma que era terrível, para lá de racista, até se chamava “Project Coal” (Projeto Carvão).

Tenho de acrescentar uma terceira: quando o Watergate aparece nessa apresentação, até parece uma ideia equilibrada, mesmo sendo a pior de todas…
É preciso ter presente que foi escolhida porque era a mais barata. E isso também é fascinante: eles estão a tentar manipular eleições através da forma mais barata possível.

A série começa com uma cena aprofundada do terceiro episódio: estão a tentar abrir uma porta, mas alguém se esqueceu das ferramentas certas. Queria passar esta ideia algo infantil, de que está a acontecer esta coisa complexa, que faz parte do imaginário histórico e da ficção dos últimos cinquenta anos, e os tipos por detrás de tudo são uns amadores?
Há uma estrutura e é por isso que no segundo episódio há a história da Dita Beard. Queria mostrar que eles poderiam ser meio doidos, mas conseguiam realizar as missões, faziam desaparecer os problemas. Para as pessoas pensarem “OK, eles são pouco ortodoxos, mas entregam resultados”. Para que quando chegássemos ao Watergate, apesar de tudo parecer meio tremido, perceberíamos que o plano não era mau. Mas as coisas por vezes não correm como queremos, foram feitos erros. Há umas semanas mostramos a série em Washington DC e o Bob Woodward [um dos jornalistas que tornou o caso público] estava lá. No final ele lembrou como eles eram tão idiotas mas, aos mesmo tempo, tão perigosos. Esse era o balanço que procurava, por isso, fiquei radiante pelo Bob Woodward ver isso. Assumi a coisa como receber uma medalha de ouro do professor. Em “White House Plumbers” há gargalhadas com frequência, mas de tempos a tempos apercebemo-nos de como é tudo horrível: “Não é suposto estar a rir-me, mas estou”. Isso é o Watergate, “não me deveria rir, mas estou”.

 
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