Novo ano, novas regras. Após uma cerimónia dos Óscares marcada pela polémica em torno da nomeação da atriz Andrea Riseborough pelo seu papel no filme “Para Leslie”, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS, na sigla original) anunciou mudanças aos regulamentos internos, com vista a “clarificar” algumas das questões levantadas pela campanha da atriz britânica.

No essencial, as novas regras pretendem delinear a forma como se podem ou não utilizar as redes sociais na promoção de um filme ou de um ator, bem como impor limites ao número de sessões especiais de visionamento dos filmes para membros da Academia e à forma como estes podem ser organizados.

As mudanças constituem uma espécie de “crónica de um fim anunciado” no seguimento da polémica em torno de “Para Leslie” e da nomeação de Riseborough, que foi fruto de uma verdadeira “campanha de guerrilha” nas redes sociais, onde várias estrelas de Hollywood (algumas delas membros da Academia) apelavam diretamente ao voto no filme, que, à época das nomeações, tinha uma receita de bilheteira de pouco mais de 30.000 dólares (se se considerar o preço médio de um bilhete nos EUA, significa isto que “Para Leslie” tinha sido visto em sala por menos de 3.000 pessoas).

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Após o anúncio das nomeações, a AMPAS chegou a lançar uma investigação; a inclusão de Andrea Riseborough na categoria de Melhor Atriz Principal acabou por ser aceite, com a Academia a prometer uma “revisão aos procedimentos de campanha” para após os Óscares de 2023 — revisão essa que acontece agora, traduzindo-se num “limar de arestas” a algumas das principais questões levantadas pela promoção de “Para Leslie”.

As principais alterações dizem respeito ao uso das redes sociais. Potenciais nomeados e vencedores podem utilizar as suas plataformas e endereços pessoais para fazer campanha, mas, a partir de agora, é proibido (aos próprios e a terceiros) fazer menções expressas a estratégias de campanha e de votação para garantir uma nomeação (algo que aconteceu com o filme protagonizado por Riseborough).

De igual modo, a organização de sessões especiais de visionamento dos filmes também sofreu uma revisão. Nos dias que antecederam o período de votação inical, “Para Leslie” foi visto por dezenas de eleitores da Academia em várias sessões especiais organizadas por celebridades como Gwyneth Paltrow, Charlize Theron ou Edward Norton. As sessões, em si, continuam a ser permitidas, mas a AMPAS veio agora clarificar que não podem ser organizadas ou financiadas pelos estúdios ou equipas responsáveis pelos filmes (a menos que sejam expressamente direcionadas a membros da Academia como parte das campanhas publicitárias “For Your Consideration”).

Até aqui ilimitado, o número de sessões permitidas também foi clarificado nos novos regulamentos. Passam a ser permitidas apenas quatro sessões no período antes das nomeações; uma vez anunciados os nomeados, são expressamente proibidas.

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Mas nem só de alterações destinadas a evitar novos “casos Riseborough” se fazem os novos regulamentos. Olhando para fora, a Academia de Hollywood implementou mudanças ao processo de escolha dos filmes que concorrem na categoria de Melhor Filme Internacional. Até aqui, os filmes indicados eram escolhidos pelos países a concurso, sendo depois vetados por um comité interno da Academia. Agora, há um novo requerimento: as obras indicadas pelos países devem ser escolhidas por um comité local que inclua a presença de, pelo menos, 50% de cineastas e profissionais da área do cinema.

A partir da cerimónia de 2024, entram também em vigor as novas regras da Academia para a inclusão e diversidade, anunciadas em 2020 e que, de forma geral, pretendem garantir que os filmes nomeados incluem no elenco e equipa de rodagem um mínimo de 30% de profissionais de minorias étnico-raciais.