Numa ação sem precedentes, um grupo de académicos saiu do conselho editorial de uma das maiores revistas científicas do mundo em protesto contra as taxas “gananciosas” para a publicação de artigos de investigação.

Composto por mais de 40 cientistas, incluindo professores da Universidade de Oxford, do King’s College de Londres e da Universidade de Cardiff, todo o conselho da revista Neuroimage, da editora Elsevier, demitiu-se do seu cargo depois de a publicação se recusar a baixar os valores.

Sediada na Holanda, a editora cobrava 3.450 dólares (cerca de 3.122 euros) aos investigadores por artigo. De acordo com o The Guardian, as “enormes margens de lucro” da Elsevier podem mesmo ultrapassar as margens de empresas como a Apple, Google e Amazon.

Cientistas alcançam grande avanço na neurociência ao completarem mapa cerebral de inseto

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Considerada a líder global em pesquisa de imagens cerebrais, a editora está a ser criticada por ter uma política “anti-ética” e por ser “muito gananciosa”. Em comunicado, os antigos editores afirmaram ser “errado que as editoras tenham um lucro tão grande, especialmente tendo em conta que não financiaram a ciência original, nem a escrita dos artigos, ou os pagamentos para a sua revisão, e pagam ajudas de custo editoriais mínimas”.

“A Elsevier só quer saber de dinheiro e isto vai custar-lhes muito dinheiro. Tornaram-se demasiado gananciosos. A comunidade académica pode retirar o seu consentimento para ser explorada a qualquer momento. Essa altura é agora“, afirmou o professor Chris Chambers, um dos antigos membros do conselho editorial, numa publicação na rede social Twitter.

No meio científico, a atitude da demissão em massa foi recebida de forma positiva e está a ser encarada como o início daquilo que pode vir a ser uma rebelião contra as “enormes margens de lucro das publicações académicas”, uma vez que os cientistas têm de pagar para publicar os chamados artigos de investigação de “acesso aberto”, que ficam depois disponíveis de forma gratuita para qualquer pessoa.

Numa declaração no site oficial da revista, a Elsevier mostrou-se “desiludida” com a decisão dos cientistas, afirmando que a empresa tem estado a “colaborar de forma construtiva” com os mesmos nos últimos anos, desde que tomaram a decisão de tornar a Neuroimage numa revista de “acesso aberto”.

Estudo revela avanço promissor no diagnóstico da doença de Parkinson

Em 2022, a empresa holandesa, que reivindica a publicação de cerca de 25% dos artigos científicos do mundo, registou um aumento de 10% da sua receita, para 2,9 milhões de libras (cerca de 3,43 milhões de euros), e margens de lucro de 40%.

De acordo com a revista Nature, os antigos membros do conselho editorial da Neuroimage estão agora a criar uma nova revista, a Imaging Neuroscience, associada a uma editora sem fins lucrativos.