A Ordem dos Enfermeiros (OE) defende um modelo assistencial de base comunitária que permita às pessoas dependentes permanecerem no domicílio com cuidados 24 horas por dia, de forma a evitar deslocações para os serviços de urgência hospitalar.

“O investimento na saúde tem de passar claramente por um modelo assistencial mais de base comunitária e que permita que as pessoas não vão ao hospital, nomeadamente aos serviços de urgência, como hoje se verifica”, disse hoje à agência Lusa o vice-presidente da OE, Luís Filipe Barreira.

O dirigente salientou que este é um tema que vai estar discussão na quarta e quinta-feira na II Convenção Internacional dos Enfermeiros, no Centro de Artes e Espetáculos (CAE) da Figueira da Foz, distrito de Coimbra, subordinada ao tema “Futuro é Saúde”, que vai juntar 1.400 profissionais de saúde.

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Segundo Luís Filipe Barreira, reforçar o modelo assistencial comunitário é importante para se abandonar “o modelo hospitaloncêntrico e apontarmos mais no ponto de vista da comunidade e nos cuidados de proximidade”.

“Esta convenção representa, no fundo, mais um grande fórum da profissão neste sentido, no reforço desta intervenção dos enfermeiros, que sempre mostraram disponibilidade de participar no futuro de um serviço de saúde que seja mais robusto, capaz de dar resposta e esta necessidade das pessoas”, frisou.

A convenção vai discutir, em dois painéis, os desafios da enfermagem, nomeadamente a “necessidade da revisão da carreira e da grelha salarial”.

“Não se entende que continue parado no tempo esta questão da grelha salarial. Tendo em conta o percurso dos enfermeiros no ponto de vista da diferenciação, não faz sentido não se olhar para a necessidade de valorizar a carreira dos enfermeiros”, sustentou o vice-presidente da OE.

Depois haverá outras questões que naturalmente irão emergir também desta discussão, nomeadamente a da contagem dos pontos, que “é inacreditável que ainda exista instituições que não procederam à contagem dos pontos e à necessidade da atualização salarial de acordo com o decreto 80”, refere.

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Em debate vai estar também a redução da idade da reforma dos enfermeiros, tendo em conta que deve ser considerada “uma profissão de desgaste rápido, dada a própria complexidade e o desgaste físico e emocional”.

A II edição da Convenção Internacional dos Enfermeiros vai também discutir o facto de os enfermeiros suportarem os custos da sua formação no internato da especialidade “com enorme esforço pessoal e financeiro”, além da emigração destes profissionais de saúde.

De acordo com Luís Filipe Barreira, Portugal forma anualmente entre 2.700 a 2.900 enfermeiros, número suficiente para as necessidades nacionais, mas nos últimos anos “quase metade desse número pediu à OE a declaração para emigrar e exercer noutros países que têm diretivas de recursos humanos muito mais atrativas e que também permitem o desenvolvimento da profissão e da valorização da sua própria carreira”.

Esses países “suportam muitos dos custos da formação dos enfermeiros, além da questão da remuneração, que em muitos locais é três vezes superior àquela que é aplicada em Portugal”, sublinhou o dirigente.

A sessão de abertura da II Convenção Internacional dos Enfermeiros realiza-se quarta-feira, às 11h00, com o secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes e da bastonária da OE, Ana Rita Cavaco.

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O programa assenta nos seguintes temas: Cobertura Universal em Saúde – Desafios em Enfermagem, Liderança estratégica na política e na saúde, Desafios colocados no ensino/formação em Enfermagem, Inteligência Artificial e novas tecnologias, Valor Económico da Enfermagem, Desafios colocados aos sistemas de saúde e à Enfermagem e Planeamento estratégico em saúde.