Há momentos na infância que são privilégios presos no tempo, mas não custa recordá-los ou imaginá-los. Por exemplo, poder brincar com toda a liberdade numa floresta, acompanhado ou sozinho, como se fosse um sítio encantado onde do nada podem surgir perigos, criaturas fantásticas descobertas como o caminho para um local secreto. O poder da imaginação misturado com o desejo de criar impossibilidades que fujam a qualquer outra realidade.

Nem todas as florestas são assim. A da infância de Shigeru Miyamoto em Sonobe, no Japão, teve esse encanto. A floresta entrou na casa de muitos desde 1986, quando saiu o primeiro jogo de Zelda, “The Legend Of Zelda”, para a Nintendo. A ideia de Miyamoto, criador deste jogo e de Super Mario, passava por tentar inventar algo que encaixasse nesse espaço de imaginação, que desse a possibilidade ao jogador de explorar, descobrir, encontrar armas, itens, inimigos, enquanto acontecia uma aventura.

Hyrule foi essa floresta virtual, o local onde Link, o herói da série, tem de salvar a Princesa Zelda e o reino das garras maléficas de Gannon, o terrível demónio que quer usar a Triforce – uma relíquia daquele universo – para transformar todo a terra à sua imagem. Ao longo dos 19 jogos de Zelda já se conheceu Hyrule de diversas formas, mas a ideia principal substitui: a floresta encantada de Miyamoto entrou nos quartos e nas salas de muitos miúdos e adultos nos últimos 37 anos.

[um excerto de “Tears of the Kingdom”:]

“The Legend Of Zelda: Tears of the Kingdom” é a vigésima entrada na saga e chega esta sexta-feira, 12 de maio, à Nintendo Switch. É um dos jogos mais aguardados dos últimos anos, sucede a “Breath Of The Wild”, também da Switch, que saiu há seis anos e vendeu 29 milhões de exemplares em todo o mundo. Não é só por ser um Zelda — é, sobretudo, por ser o sucessor de “Breath Of The Wild”, um jogo que redefiniu a série e que criou toda uma nova dinâmica em como pensar e experimentar jogos em mundo aberto. “Breath Of The Wild” não foi só uma revolução, é também um jogo perfeito e aparentemente inesgotável.

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“Tears Of The Kingdom” expande aquele mundo, com ilhas no céu, cavernas e a possibilidade de construir veículos, com um sistema que convida aà exploração e à imaginação. Algo muito Nintendo, algo muito Miyamoto. Aproveitamos para recordar alguns dos melhores jogos da série (não contamos com alguns spin-offs que até são divertidos, “Link’s Crossbow Training” ou “Hyrule Warriors”, por exemplo) e onde será mais fácil jogá-los atualmente:

“The Legend Of Zelda”

Onde jogar: NES, pacote NES da Switch Online

Foi um dos jogos que saiu inicialmente com a Nintendo Entertainmente System no Japão em 1986, chegando à Europa e Estados Unidos no ano seguinte. Foi o início de tudo, na altura ainda se via o herói de cima para baixo, mas as bases estavam todas lá. No ano seguinte, saiu uma sequela, “Zelda II: The Adventure of Link” que mudava a perspetiva do jogo para side-scrolling.

“A Link To the Past”

Onde jogar: Super NES, disponível com o pacote SNES da Switch Online

O primeiro – e único – Zelda da Super Nintendo é editado em 1993 e é, até hoje, um dos mais queridos da série. Regressa a visão de cima para baixo do jogo original e introduz algo interessante, uma linha narrativa diferente: a história passa-se muitos anos antes dos primeiros dois jogos e inicia a exploração de diferentes linhas temporais em Hyrule (há imensas teorias sobre isso, seguindo algumas dicas oficiais).

“Ocarina of Time”

Onde jogar: Nintendo 64, pacote N64 da Switch Online, versão Nintendo 3DS

Talvez o primeiro grande momento de deslumbre no universo Zelda. Apesar do sucesso até então, os jogos não conquistavam pelos visuais, mas sim pelo mundo que apresentavam e como convidavam o jogador a fazer parte dele. “Ocarina of Time” (1998) era o primeiro que, quando se via na televisão, ficava-se deslumbrado, graças à tecnologia 3D da Nintendo 64 e à sugestão de um mundo mais livre, não limitado pelas restrições das duas dimensões.

“The Wind Waker”

Onde jogar: GameCube, Wii U

Lançado em 2002 para a GameCube, “The Wind Waker” mostra mais uma vez a Nintendo a querer levar a saga mais além. Pode parecer pouca coisa agora, mas há vinte anos mudar o imaginário de Hyrule de um território em terra contínuo para uma aventura no mar, onde Link usa um barco para navegar entre as diferentes ilhas, foi uma autêntica revolução. Junte-se a isso o look muito desenho animado da personagem e de todo universo e está aqui um dos jogos mais originais da série e um daqueles que não envelheceu nada.

“The Minish Cap”

Onde jogar: pacote GBA da Switch Online

Há jogos de Zelda para o Game Boy, mas “The Minish Cap” para o Game Boy Advance, lançado em 2004, é uma das melhores variação para mecânicas portáteis. Vai beber a muitas das ideias de “A Link to the Past” e junta uma série de novos conceitos perfeitos para jogar em qualquer momento.

“The Twilight Princess”

Onde jogar: GameCube, Wii, Wii U

Lançado em 2006 para Game Cube e Wii, “The Twilight Princess” é mais considerado um jogo da Wii do que da consola anterior (há ainda uma versão para a Wii U, lançada em 2016). Aqui vemos Link a assumir o corpo de um lobo para defender Hyrule e impedir que se torne num reino pertencente a outra dimensão, conhecido como Twilight Realm. É um regresso a um Zelda mais próximo do “real”, longe da ideia cartoonesca de “The Wind Waker”.

“The Phantom Hourglass”

Onde jogar: Nintendo DS, consola virtual da Wii U

Outra entrada no mundo do portátil, desta vez para a Nintendo DS. “The Phantom Hourglass” (2007) continua a história de “The Wind Waker” e utiliza as mecânicas de jogo da DS, como o touchscreen e o ecrã duplo. Tem também algumas funcionalidades online, que embora fossem novidade, eram muito simples e podiam ser dispensadas. O jogo vale por si só.

“Spirit Tracks”

Onde jogar: Nintendo DS, consola virtual da Wii U

Uma daqueles casos que se ama ou detesta, “Spirit Tracks” (2009) volta a usar as potencialidades do segundo ecrã da Nintendo DS para criar um divertido jogo muito concentrado em resolução de puzzles e viagens de comboios (que também tem uma mecânica de puzzle associada). Bastante divertido, mas muito diferente da maior parte dos jogos de Zelda.

“Skyward Sword”

Onde jogar: Wii, Switch

Na lógica de linha temporal, “Skyward Sword” é o primeiro jogo da história do universo da saga. Passa-se na ilha flutuante de Skyloft e a missão de Link é salvar a sua amiga de infância, Zelda. É um dos melhores jogos da Wii e é um dos melhores Zelda, mas também é aquele que, na altura, mostrava de como Zelda necessitava de evoluir para lá das lógicas que foram criadas com o 3D de “Ocarina of Time”.

“Breath of the Wild”

Onde jogar: Switch

Só não é o Zelda mais revolucionário de todos porque esse título pertence a “Ocarina of Time”. Mas a primeira entrada de Zelda na Switch deu a Hyrule uma coisa que lhe faltava: a ideia de que era possível ir a qualquer lado. Se se via no horizonte, era possível chegar lá. Sim, em 2017 já existiam muitos mapas gigantescos, muito horizonte alcançável e muitos jogos com muita coisa para fazer, mas Zelda fê-lo de uma forma não acomodada às regras e com o uso – quase exclusivo – da curiosidade do jogador. É uma arma poderosa e a Nintendo soube usá-la na perfeição.