Eduardo Bauermann, defesa central do Santos, tinha combinado com apostadores ver cartão amarelo contra o Avaí, no Brasileirão 2022, a troco de cerca de 9.300 euros. O montante foi enviado de forma antecipada, mas o jogador acabou por não ser admoestado num encontro que acabou empatado a um e onde o Peixe entrava ainda com hipóteses de conseguir alcançar uma posição de acesso à pré-eliminatória da Libertadores.
— Esse moleque merece morrer. Está a brincar com o dinheiro das pessoas.
Nas conversas de WhatsApp divulgadas pela ESPN, os apostadores mostraram-se desagradados por Bauermann não ter feito o que prometeu. Perante a situação, o central do Santos garantiu que ia ser expulso no jogo seguinte contra o Botafogo, o penúltimo do Campeonato. De facto, o jogador de 27 anos viu o cartão vermelho, mas só depois do jogo ter terminado, o que faz com que a aposta dos aliciadores não fosse válida. Bauermann justificou-se perante as pessoas com quem tinha feito a combinação, referindo não saber que o cartão vermelho não era considerado válido pelos sites de apostas se fosse visto após o apito final. Assim, o brasileiro levanta a possibilidade de realizar um empréstimo ou de utilizar o valor obtido numa possível transferência para o León do México para pagar aos apostadores o dinheiro que perderam (148.000 euros). Uma vez que Bauermann ia cumprir castigo no último jogo do Campeonato, contra o Fortaleza, comprometeu-se a arranjar dois colegas para verem cartões amarelos propositadamente.
Eduardo Bauermann é apenas um dos 35 jogadores acusados e mencionados no conjunto das duas fases da Operação Penalidade Máxima, levada a cabo pelo Ministério Público de Goiás, e que investiga um esquema de manipulação de jogos de futebol na Série A, na Série B e nos campeonato estaduais, em 2022, no Brasil. Ao todo, estão em análise 20 partidas suspeitas.
Ao longo do processo, foram divulgadas mais conversas do defesa do Santos com Fernando Neto, antigo jogador do Paços de Ferreira – também assumiu a participação na manipulação de jogos -, em que este o tenta convencer a participar no esquema, levando um amarelo na primeira parte. Nessa ocasião, Bauermann recusou por, em 2021, quando ainda estava no América Mineiro, não ter sido bem sucedido numa tarefa semelhante.
O Santos colocou Eduardo Bauermann à margem da equipa. “O Santos informa que o atleta Eduardo Bauermann está afastado preventivamente dos treinos com o plantel profissional, perante as novas informações divulgadas na Operação Penalidade Máxima II do Ministério Público de Goiás. O jogador vai continuar a realizar atividades físicas no Centro de Treinos Rei Pelé. O clube aguarda se a justiça vai aceitar a denúncia para definir novas ações, sempre com o pensamento voltado a preservar a instituição. O Santos não tolera desvios de conduta e de ética”.
As ligações ao futebol português não se ficam por Fernando Neto. Nathan, jogador que passou pelo Belenenses, emprestado pelo Chelsea, foi influenciado a levar um cartão amarelo contra o Fortaleza quando era jogador do Fluminense, segundo o Globo. Hoje no Grémio, Nathan confirma que foi abordado por apostadores, mas garante que não aceitou qualquer forma de aliciamento devido à sua “ética profissional e seriedade com o futebol”, informação também veiculada pelo clube que representa atualmente.
O treinador português do Cruzeiro, Pepa, perdeu também ele uma opção no plantel. O médio Richard foi “afastado preventivamente das atividades da equipa de futebol profissional”, diz o clube após o nome do jogador ter sido mencionado em conversas que estão sob investigação. Oito jogadores de vários clubes com membros da equipa envolvidos no esquema foram também afastados.
Os 15 jogadores acusados são Ygor Catatau, Allan Godói, André Queixo, Mateusinho, Paulo Sergio (Sampaio Corrêa), Gabriel Domingos (Vila Nova), Joseph (Tombense) e Romário (Vila Nova), Eduardo Bauermann (Santos), Gabriel Tota (Juventude), Paulo Miranda (Juventude), Victor Ramos (ex-Portuguesa, agora na Chapecoense), Igor Cariús (ex-Cuiabá) e Fernando Neto (ex-Operário-PR). Há ainda os casos de Pedrinho e Bryan Garcia (Athletico) Richard (Cruzeiro, ex-Ceará) Vitor Mendes (Fluminense, ex-Juventude) Nino Paraíba (América-MG) que não estão acusados, mas são mencionados em conversas. Moraes (Juventude), Kevin Lomónaco (Red Bull Bragantino), Nikolas Farias (Novo Hamburgo) e Jarro Pedroso (ex-Inter de Santa Maria) confessaram a participação no esquema e tornaram-se testemunhas. Há ainda seis acusados pertencentes aos grupos de apostadores liderado por Bruno Lopez.
Apesar da maioria destes casos estar relacionada com o forçar de amarelos para beneficiar apostas, também existem casos em que os jogadores são pagos para perderem encontros ou para cometerem grandes penalidades. As denúncias começaram no fim de 2022. Nessa ocasião, Romário, jogador do Vila Nova, da Série B, recebeu antecipadamente 1.850 euros para cometer um penálti contra o Sport que, no total, lhe valeu 27.800 euros. A Operação Penalidade Máxima recolheu material de investigação em seis estados do Brasil, onde se encontrar vários aparelhos eletrónicos com mensagens e áudios entres jogadores e o grupo de apostadores. Ainda não houve jogadores presos, mas, em São Paulo, já foram emitidos três mandados de prisão preventiva, nenhum deles para atletas. As penas para estes crimes, ligados à corrupção desportiva, oscilam entre os dois e os seis anos de cadeia.
A federação brasileira de futebol (CBF), em comunicado, ressalva “que não há qualquer possibilidade da competição atual ser suspensa e está a trabalhar em conjunto com a FIFA e outras esferas internacionais para um modelo padrão de investigação”, lembrando que “é igualmente vítima destes possíveis atos criminosos”. A CBF já cancelou contratos desportivos com casas de apostas online.