O espetáculo estreia-se às 19:30 de sexta-feira, no Teatro do Campo Alegre, no Porto, e é apresentado no dia seguinte pelas 17:00, contando com um elenco que combina atores com outros técnicos envolvidos na produção.

A criação junta Joana Magalhães, Mafalda Lencastre e Maria Inês Marques, responsáveis pela plataforma, e a ideia surgiu durante o segundo confinamento devido à pandemia de covid-19, quando todas sentiam “que se falava de recomeços, de retorno à normalidade”, sem que soubessem como o fazer, com “uma sensação de inércia coletiva”.

“Surgiu esta ideia de fazermos uma comédia ‘sci-fi’ [ficção científica, na abreviatura em inglês], que se passa num parque temático onde as pessoas podem experienciar, de forma imersiva, diferentes inícios. O objetivo do parque é que as pessoas entrem nessas experiências e ultrapassem os seus medos mais profundos de experiências iniciáticas”, explicou à Lusa Maria Inês Marques.

O parque no centro do espetáculo é gerido por uma equipa “que está a fazer um teste de uma dessas experiências, com uma pessoa que é cobaia”, e estão “constantemente a falhar”, até que se dá uma disrupção temporal que os deixa “presos num início ontológico do qual não conseguem sair”, levando à apresentação de multiversos.

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“Passam mesmo para multiversos diferentes, temporalidades diferentes num mesmo palco. Aparece esta lógica de espaço-tempo, de não ser princípio, meio e fim, mas uma lógica de existirem vários presentes paralelos”, completou Joana Magalhães.

Ao “integrar as pessoas do lado técnico no elenco”, chega a ideia de episódio-piloto, de que vem o título da peça, mas também por ser o primeiro espetáculo de teatro “no sentido convencional” da plataforma, notou Joana Magalhães.

“Nesse gesto inicial, quisemos acompanhar a lógica da UMA, mais colaborativa e tentar que seja o mais horizontal possível. […] Convidámos o José Capela, cenógrafo, e ele é o arquiteto principal do parque, que desapareceu. Também [para incluir] a ideia da orfandade da equipa. O Capela vai ter algumas aparições em vídeo, meio como um oráculo que supostamente os orienta, mas também desorienta”, contou Maria Inês Marques.

A ciência volta a marcar presença numa criação das artistas, que já as colocaram lado a lado com o onírico em outros projetos, e Joana Magalhães nota nesta narrativa “quase uma simultaneidade do mergulho das personagens nos seus medos, obsessões, traumas”, entre o onirismo e o surrealismo.

“Houve pesquisa para a escrita de física, física quântica, astrofísica, do que se sabe das possibilidades de viajar no tempo, voltar atrás, simultaneidade, número infinito de universos a decorrer em paralelo. Também daí o cariz de ficção científica, que não é muito marcado, mas está lá”, acrescentou Marques.

“Piloto” junta-se ainda ao tema central do FITEI, “Trauma e Bravura”, por ser uma peça nascida no seio da crise pandémica, um “trauma coletivo” que aqui também é explorado não só pela questão do início, por oposição à finitude, mas também pela repetição, pelo lado da experiência.

Com texto de Maria Inês Marques e encenação de Joana Magalhães, o espetáculo conta com ambas no elenco, ao lado de Crista Alfaiate, José Capela, Maria Leite e os músicos Rui Lima e Sérgio Martins, com desenho de luz de Cárin Geada, cenografia de Catarina Barros e vídeo de Vasco Mendes.