Para já, a sensação é de desorientação. E expectativa. Na fronteira que separa o México dos Estados Unidos, vivem-se as primeiras horas desde que acabou, à meia-noite (hora local, 6h em Lisboa), o Título 42, uma medida de emergência adotada no tempo de Donald Trump que permitia retirar automaticamente migrantes de território norte-americano sob o pretexto da pandemia Covid-19.
“Hoje é um dia especial”, dizia, minutos depois de a norma ter oficialmente terminado, um agente colocado na fronteira a uma família do Peru que entrava em solo norte-americano para pedir asilo humanitário, mesmo sem ter agendado um pedido nesse sentido, conta o New York Times, que tem estado a acompanhar os desenvolvimentos minuto a minuto no terreno. Os primeiros grupos de migrantes que pretendem pedir asilo já começaram atravessar a fronteira.
Ainda assim, o jornal descreve momentos de alguma incerteza: depois de, esta semana, se terem acumulado multidões de dezenas de milhares de migrantes junto à fronteira, à espera do fim da norma, nas primeiras horas pós-Título 42 — que esteve em vigor durante três anos — os migrantes não têm a certeza sobre o que lhes acontecerá a seguir.
Título 42 termina esta quinta-feira à noite. Milhares de migrantes aguardam para entrar nos EUA
Até porque Joe Biden manteve, até agora, a norma e o seu governo já deu sinais de não querer suavizar a posição relativamente à passagem na fronteira. Na noite de quinta-feira, o responsável pela Segurança Interna no executivo, Alejandro Mayorkas, deixou uma mensagem no Twitter a deixar isso claro, avisando que as pessoas que chegarem à fronteira de forma ilegal “vão ser consideradas inelegíveis para asilo”.
“Estamos prontos para retirar de forma humana as pessoas que não tiverem uma base legal para ficarem nos Estados Unidos. Temos 24 mil agentes na fronteira (…). Não acreditem nas mentiras dos traficantes. A fronteira não está aberta”, alertou, acrescentando que as pessoas que entrarem ilegalmente no país “enfrentam consequências mais graves, incluindo uma proibição mínima de cinco anos para reentrar e possíveis processos criminais”.
Starting tonight, people who arrive at the border without using a lawful pathway will be presumed ineligible for asylum. We are ready to humanely process and remove people without a legal basis to remain in the U.S. (1/4) pic.twitter.com/JnpSw6793v
— Secretary Alejandro Mayorkas (@SecMayorkas) May 12, 2023
A postura do governo de Joe Biden tem-lhe valido críticas de ativistas que dizem não distinguir grandes diferenças entre a postura deste executivo e do antecessor, Donald Trump, por causa de medidas como a criação de “centros de gestão regional” fora do país para aí estudar os pedidos de asilo.
O Título 42 resultou na expulsão de mais de 1,08 milhões de pessoas dos Estados Unidos. Durante esta semana, juntaram-se nos muros de Tijuana, a fronteira mexicana com o estado da Califórnia, famílias inteiras não só do México, mas também de países como Colômbia, Venezuela, Peru, Haiti e Honduras, e até Turquia e Bósnia.