Mais de cinco dezenas de pessoas com deficiência manifestaram-se este sábado, no Porto, pelo cumprimento total dos seus direitos e contra barreiras “arquitetónicas, comunicacionais e de atitude” que persistem na sociedade, disse à Lusa uma responsável.

“Esta marcha traz um conjunto de reivindicações que têm a ver com a continuidade do não cumprimento dos nossos direitos mais básicos, e que estão consignados na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”, disse à Lusa Ana Catarina Correia, delegada distrital do Porto da associação Centro de Vida Independente, uma das que organizou a manifestação na Praça D. João I.

Segundo a responsável, os manifestantes reivindicam melhor “acesso à educação, acesso à informação, com a acessibilidade nos transportes públicos, quer arquitetónica, quer de comunicação”.

O propósito da manifestação relaciona-se, “no fundo, com que as pessoas com deficiência consigam exercer os seus direitos de cidadania em todas as áreas da vida individual e coletiva, e isso continua a não acontecer”.

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Na Praça D. João I, os manifestantes, a maioria deles em cadeira de rodas, ostentavam cartazes com mensagens como “Acessibilidade não é caridade”, “Vida independente = cidadania”, “A minha vida não é um projeto piloto”, bem como frases com palavrões, em inglês, contra as noções de pena ou da existência do conceito de normalidade face a uma pretensa anormalidade das pessoas com deficiência.

“Muitas dessas ideias têm precisamente a ver com pena, infantilização, com verem a nossa vida ou a nossa existência como uma desgraça e uma tragédia pessoal, e efetivamente o que nós queremos dizer é que não é nada disso, a nossa existência é tão comum como qualquer outra, e nós temos a capacidade de nos adaptar”, disse à Lusa Ana Catarina Correia.

A responsável assume que é necessário “desafiar aquilo que são noções de normalidade ou de anormalidade” e “o que é que é isto de ser normal, o que é isto de ser normativo”.

Quanto às questões das barreiras, as três principais são as “arquitetónicas, comunicacionais e barreiras de atitude”.

As arquitetónicas “impedem a entrada de, por exemplo, quem utiliza cadeira de rodas ou de quem utiliza andarilhos ou tem problemas graves de mobilidade”, e apesar de terem “vindo a ser faladas nos últimos anos” e alguns decretos-lei terem “vindo a ser respeitados”, isso “não é extensível a todo o país”.

Outra das dificuldades é quanto ao “acesso à comunicação, por exemplo, a comunidade surda muitas vezes não tem interpretação de língua gestual nos serviços públicos quando necessita”, aponta.

Ana Catarina Correia referiu-se ainda à situação de pessoas com uma forma de falar “atípica ou que não seja completamente compreensível”, que “muitas vezes são maltratadas” por quem as atende.

“Depois tem sobretudo a ver com barreiras de atitude, em que as pessoas partem do pressuposto que nós somos crianças, que segundas pessoas têm que responder por nós, que não podem falar para nós diretamente”, elencou.

A marcha do Porto foi também organizada pela Associação do Porto de Paralisia Cerebral, a Federação de Associações de Paralisia Cerebral, e também a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) do Porto.

Na semana passada, decorreram marchas em Lisboa, Vila Real e Guimarães, no âmbito da celebração do Dia Europeu da Vida Independente, que se assinalou em 5 de maio.