O Real Madrid há muito que “abdicara” da corrida pelo título, o bom momento do Atl. Madrid também não teve continuidade com uma derrota frente ao Elche, a vitória do Barcelona era uma questão de tempo. Ainda assim, havia todo um contexto nesse primeiro match point dos blaugrana na Liga: jogo no Cornellà-El Prat, dérbi frente ao Espanyol a necessitar de pontos para evitar a descida de divisão, uma série de três vitórias consecutivas que “apagou” o período com apenas um triunfo em cinco partidas incluindo a histórica goleada sofrida frente ao Real Madrid. Ao intervalo, o encontro estava ganho com o ataque culé a carburar na melhor versão para um 4-2 final que fechou as contas da festa. Uma festa que, no campo, durou cinco minutos.

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Quando os jogadores do Barça faziam a festa no relvado numa roda gigante que juntou todos os elementos da equipa técnica e demais staff, alguns adeptos ultras do Espanyol invadiram o campo e fizeram que os rivais fugissem para o túnel de acesso aos balneários. Também aí houve uma tentativa de entrada travada por vários seguranças do estádio, sendo que nas imagens internas de vigilância é possível ver Busquets e Ronald Araújo a tentarem confrontar os adeptos que insultavam os elementos blaugrana após o encontro. A polícia foi depois aos altifalantes do recinto pedir para que todos saíssem do terreno de jogo, caso contrário haveria uma entrada em força por parte das forças de segurança para limpar a zona. Acalmou. Pelo menos a esse nível, porque no balneário do Barcelona a festa ia aumentando de tom por “culpa” de Joan Laporta.

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A chegada do presidente dos catalães ao balneário foi quase um ponto alto das celebrações. Já encharcado pelo banho que levou dos primeiros jogadores que o viram naquele espaço, foi o número 1 do clube a dar o mote para aumentar o volume da festa, liderando mesmo a certa altura os cânticos e danças que se estavam a fazer ao som de artistas como Rosalía. Pelo meio, ouviu-se o nome pelo qual mais se cantava na invasão de adeptos em Canaletas: Lionel Messi. E a hipótese de regresso do argentino a Camp Nou voltou a ser abordada por Joan Laporta, que mais a frio em declarações à TV3 falou ainda do português Bernardo Silva.

“Agora que ganhámos a Liga queremos mais, queremos que seja o início de uma nova e longa etapa a ganhar títulos. Os jogadores, o Xavi, o staff, os trabalhadores do clube, os companheiros de direção, todos estão a trabalhar para isso e para conseguir uma equipa mais competitiva. Desacatos? A reação dos jogadores e de todo o staff foi normal, sempre se celebrou assim, e também o público em termos genéricos foi correto. A invasão foi um incidente isolado. Não vamos pedir responsabilidades porque também já tivemos de lidar com problemas dos radicais. Renovação do Xavi? Não vai haver problema, é um homem do clube que entende na perfeição as circunstâncias que o clube atravessa e merece esse reconhecimento. Estamos com um plano de austeridade e estou tranquilo em assumir porque ele é o primeiro também a dizer isso. Tem muitos pontos em comum com aquela que foi a primeira época do Guardiola”, destacou o líder dos catalães.

“Messi? O Leo ainda está em Paris, com situações que não são agradáveis. Não queria agora estar a chatear. Vamos tentar melhor a equipa em todas as linhas. Falei com ele para reconduzir essa situação e foi muito agradável, recuperámos a nossa relação. O Messi quer o Barça, sente o clube como a sua cara mas agora não seria bom falar. Proposta da Arábia? O Barça é o Barça. Estão a fazer um bom trabalho lá, com investimento, mas o Barça é a sua casa. Temos o nosso mercado bem trabalhado e há condições de reforçar o plantel se a Liga aprovar o plano de viabilidade. Todos os jogadores querem vir para o Barcelona, isso é importante. Bernardo Silva? Sim, conheço-o pessoalmente, em 2015 estava contratado”, prosseguiu.

“Penso que ficou claro no caso Negreira que nunca tivemos qualquer influência junto dos árbitros, muito menos andámos a comprar árbitros. Temos de acreditar no processo judicial. Foi uma campanha para tentar desprestigiar o clube que mais uma vez falhou. Estou citado como testemunha, outros estão como arguidos. Fui visitar Çeferin [presidente da UEFA] porque queria que tudo ficasse muito claro vindo da minha boca. Creio que não é uma mera coincidência tudo isto só ter saído agora, houve uma série de interesses mas não conseguiram nada”, rematou ainda Joan Laporta, tranquilo sobre o que pode dar o caso.

Também o técnico Xavi Hernández se mostrou orgulhoso com a conquista da Liga, falando de forma serena sobre o que se passou após o apito final. “É uma sensação magnífica, de trabalho bem feito e dever cumprido. Foram dez meses de sacrifício, de esforço. Os jogadores e os adeptos merecem esta estabilidade no projeto e agora temos de continuar assim. Este projeto é válido, dá-nos estabilidade e segurança. Agora temos apenas pendente a Europa mas somos uma equipa e somos competitivos. Sinto-me feliz, satisfeito pelo trabalho bem feito. Fizemos uma Liga extraordinária, soubemos sofrer. Liga do Xavi? Não, Liga do Barça que está a iniciar um nova etapa e só estou aqui para guiar a equipa”, começou por dizer o antigo capitão.

“A nossa celebração foi normal mas sim, tivemos de ir para dentro porque não estávamos para casa. Sou racional mas as emoções são difíceis de controlar. Não celebrámos por estarmos no campo do Espanyol mas sim porque ganhámos o título. Não vi depois o que se passou, vim para dentro. Nunca provocámos ninguém e apenas celebrámos a conquista da Liga, sem qualquer polémica”, acrescentou o técnico.

“As coisas aconteceram assim em termos de calendário, era um dérbi e nada mais. Foi mais quente em alguns momentos e no final o que se passou foi uma pena, passou-se o risco. Sente-se que temos a base de uma equipa campeã porque é muito difícil ganhar títulos. Queria despedir-me a ganhar troféus e uma Liga é algo muito importante, é um prémio para regularidade. Estou contente por deixar assim o clube. Tive muito reconhecimento, estive aqui muitos anos e bati recordes”, salientou o (ainda) capitão Sergio Busquets.