É um tema que está a dominar a campanha eleitoral de Espanha, que vai a votos a 28 de maio, em eleições autárquicas e municipais. A coligação Eh-Bildu, com um passado ligado à organização terrorista ETA, colocou nas listas eleitorais antigos membros do grupo armado, 44 dos quais condenados pela Justiça espanhola pela prática de vários crimes. Sete foram mesmo declarados culpados de assassínio. 

O caso ganhou ainda mais peso político porque a Eh-Bildu apoia a coligação do governo espanhol entre o PSOE (de Pedro Sánchez) e da Unidas Podemos. A direita desfez-se em ataques contra os partidos de esquerda, acusando-os de implicitamente apoiarem as forças independentistas bascas e de não respeitaram a memória das vítimas da ETA. “És mais generoso com os carrascos do que com as vítimas”, atirou o líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo (PP), num ataque infligido ao chefe do governo espanhol.

Pedro Sánchez argumentou que a inclusão da lista de ex-membros da ETA era “legal”, ainda que sublinhasse que não fosse decente. O chefe do governo espanhol não tomou, contudo, qualquer atitude sobre o assunto, o que motivou a ira dos partidos de direita e até de certos setores do PSOE, que pediam que os socialistas tentassem afastar pelo menos aqueles que tinham sido condenados por homicídio.

Ora, numa carta publicada esta terça-feira no portal Naiz, os sete candidatos condenados por homicídio reconheceram que o tema adquiriu “uma transcendência inquestionável”, anunciando que vão manter os seus nomes nas listas eleitorais, mas que, caso forem eleitos, renunciarão ao cargo e não tomarão posse.  Dirigindo-se às vítimas da ETA, os sete signatários assinalaram que esta decisão mostra um “compromisso” para não lhes causar mais danos emocionais, se bem que reconheçam que estas palavras nunca lhes vão retirar o “sofrimento”.

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Não negando a sua “militância” nem a sua “responsabilidade” no passado, os sete signatários da carta assumem a autoria dos atos e dizem estar comprometidos na “mudança da estratégia da esquerda”, apostando somente — e de forma “inequívoca” — em “vias exclusivamente políticas e democráticas”.

A esquerda aplaudiu a decisão dos sete candidatos. O PSOE disse ser “positivo” a ação dos signatários da carta, podendo haver agora uma clima mais tranquilo na campanha. Em termos estratégicos, os socialistas consideram que a direita sofreu uma derrota e que agora vão ficar sem tema nos comícios eleitorais. A Unidas Podemos vinca exatamente esse posicionamento: “Avalia a dor das vítimas e desarma a estratégia da direita de situar a ETA no centro da campanha”.

Por sua vez, o PP não ficou satisfeito, pedindo que esta atitude se aplique a todos os 44 condenados. Dentro dos populares, houve reações mais violentas. A presidente da comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, não acredita que os sete signatários da carta renunciem. “Claro que vão tomar posse. Que palavra tem um assassino?”, questionou na sua conta pessoal do Twitter.

O VOX ainda quer ir mais além, pedindo a ilegalização da coligação Eh-Bildu. O líder do partido de extrema-direita, Santiago Abascal, apela inclusivamente ao PP que apoie esta medida.