Cerca de 20 mil crianças do ensino básico e secundário, da Área Metropolitana de Lisboa, vão testar um jogo de tabuleiro destinado a promover os direitos das pessoas com deficiência, mas que também poderá ser jogado em família.

O jogo faz parte do “Kit Direitos Humanos” e foi desenvolvido por uma equipa de investigadores do ISCTE —  Instituto Universitário de Lisboa e a Inovar Autismo — , uma associação de Setúbal, criada em 2016, para promover a plena inclusão das pessoas com autismo e neurodiversidades na sociedade.

À agência Lusa, o responsável pela equipa de investigadores do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), do ISCTE, adiantou que no decorrer desta e das próximas semanas o jogo vai chegar a 10 agrupamentos de escolas do ensino básico e secundário, dos municípios de Almada, Barreiro e Palmela, o que representa mais de 20 mil alunos.

Trata-se de um “jogo interativo, que visa promover uma visão dos direitos das pessoas com deficiência e das barreiras que essas pessoas enfrentam na sociedade”, junto das crianças nas escolas, mas também junto da família, explicou Luís Capucha.

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De acordo com o responsável, trata-se, por enquanto, de uma iniciativa piloto, que assenta na convicção de que “grande parte das aprendizagens relevantes” são feitas de forma lúdica, sendo que a estrutura do jogo oscila entre o Jogo da Glória e o Monopólio.

“As pessoas avançam nas casas, mas depois há uma série de cartões que lhes saem e permitem avançar ou ficar retidas, em função da maneira como respondem a questões a respeito da solidariedade, a respeito das barreiras que as pessoas enfrentam, a respeito dos direitos que as pessoas têm à educação, ao emprego, ao rendimento, à vida na Comunidade, etc”, explicou Luís Capucha.

Revelou que haverá também uma versão eletrónica e que o jogo é acessível a crianças cegas e surdas.

Admitiu, por outro lado, que o objetivo é que o jogo venha a ser “utilizado de forma sistemática e generalizada” nas escolas, reconhecendo que não basta dar recursos pedagógicos e didáticos, já que “as bibliotecas das escolas estão cheias de produtos de elevado potencial que estão amontoados e não são utilizados”.

Luís Capucha disse que a equipa gostaria que o jogo se transformasse numa atividade corrente, não só pela importância de as crianças serem educadas “para o respeito dos direitos humanos e para a compreensão das dificuldades do outro”, mas também pelo impacto que isso poderá vir a ter nas respetivas famílias.

“Isto vai ser importante não apenas para as pessoas com deficiência, mas também para muitas outras problemáticas, porque se as crianças têm que decidir entre uma opção que as beneficia só elas ou uma opção que beneficia mais gente e que é solidária no quadro de uma decisão que eles têm que tomar no momento, perante uma determinada situação, essa aprendizagem pode ser depois transferida para outros setores”, destacou.

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Luís Capucha referiu ainda que o jogo foi desenvolvido com a ajuda de pessoas com deficiência, “que sentem os problemas mais diretamente”, tanto no que diz respeito aos problemas abordados, como também às soluções encontradas, dando como exemplo o problema das acessibilidades, que não afeta apenas as pessoas com deficiência, para defender que uma sociedade acessível é melhor para toda a gente.