O envelhecimento da população fez disparar as necessidades de terapia da fala no Serviço Nacional de Saúde, em que há filas de espera, apesar do aumento do número de profissionais, segundo a Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala (SPTF).

“Na procura dos serviços da terapia da fala sempre foi recorrente o problema de os recursos que existem dentro dos hospitais não serem suficientes“, disse a presidente da SPTF, Paula Correia, que falava à agência Lusa a propósito do III congresso da organização, que decorrerá entre quinta-feira e sábado, no Centro Ismaili, em Lisboa.

Paula Correia reconheceu, contudo, que o SNS, “contrariamente àquilo que tinha feito nos últimos 20 anos, nos últimos dois anos resolveu finalmente abrir um conjunto de vagas e concurso para os terapeutas da fala“, que têm estado a ingressar nos hospitais.

Mas, apesar de estar melhor, disse, “há sempre uma balança que acaba por ficar desequilibrada”, uma vez que o problema é que Portugal tem “uma população envelhecida e as suas necessidades de cuidados também dispararam”.

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A terapeuta da fala explicou que a população mais idosa tem uma probabilidade de necessitar destes cuidados “muito superior” a outras faixas etárias, devido a dificuldades alimentares, de deglutição, alterações neurológicas, de linguagem na sequência de AVC e do próprio processo de envelhecimento.

Risco de morrer é maior do que antes da pandemia e não é só pelo envelhecimento

Por outro lado, também existe “alguma dificuldade” relativamente aos terapeutas da fala que estão em “agrupamento escolares de grandes dimensões, com grande referenciação de crianças” e que também não conseguem dar resposta à totalidade dos pedidos.

“Portanto, temos sempre quer seja dentro dos hospitais, quer seja no âmbito mais educacional, uma procura que é sempre superior à capacidade de resposta”, insistiu.

Questionada sobre se há falta de profissionais nesta área, Paula Correia disse não ter dados objetivos, mas adiantou que todas as semanas recebem da SPTF pedidos de divulgação de vagas para terapeuta da fala.

Lembrou que há 15 anos houve uma “proliferação grande de escolas” que formavam terapeutas da fala, mas com a crise económica houve muitas que encerraram. Neste momento, considerou, “o conjunto de profissionais formados não dá resposta aos pedidos”, mas “ainda não é dramático”.

Sobre o congresso, Paula Correia afirmou que visa revisitar as metodologias de avaliação e intervenção em terapia da fala.

“Apesar da terapia da fala já ser uma ciência com alguns anos, tem obrigatoriamente, como todas as outras, uma escassez de metodologia validada para o português europeu e, portanto, com algumas lacunas no conhecimento relativamente às crianças, jovens e adultos que nas suas mais variadas patologias da comunicação e da deglutição são avaliadas pelos terapeutas e daí que tenhamos centrado este tema do congresso em avaliação e intervenção em terapia da fala”, explicou.

No congresso vai ser lançado o “Compendium em Terapia da Fala: avaliar e intervir com evidência”, uma obra pioneira em português europeu, que será “um marco histórico para a Terapia da Fala, mas também um guia orientador para as ciências afins, como a medicina (pediatria, gerontologia, otorrinolaringologia, medicina dentária, neurologia, entre outras especialidades) e áreas educativas”.