Cento e sete antigos Presidentes e primeiros-ministros, incluindo portugueses, enviaram esta terça-feira uma carta aberta aos líderes das potências mundiais instando-os a apoiar a revolta em curso no Irão, dias após o regime iraniano ter executado mais três manifestantes.

“Exortamos os vossos países a apoiar o povo iraniano na sua luta por mudança e a adotar medidas decisivas contra o atual regime [teocrático] – isso inclui colocar a Guarda Revolucionária na lista negra e responsabilizar os dirigentes do regime pelos seus crimes contra a humanidade”, lê-se na carta, divulgada pelo centro de investigação e documentação Justiça pelas Vítimas do Massacre de 1988 no Irão (JVMI), subscrita, entre outros políticos, pelo ex-chefe de Estado e de Governo Aníbal Cavaco Silva e o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.

No texto, diretamente endereçado ao Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aos líderes dos 27 Estados-membros da União Europeia e aos primeiros-ministros do Reino Unido, Rishi Sunak, e do Canadá, Justin Trudeau, os signatários ressaltam que “embora qualquer mudança deva ser operada pelo povo do Irão, a comunidade internacional tem o dever de apoiar os seus direitos humanos”.

Irão executa três homens alegadamente envolvidos em protestos contra governo

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sublinham que “desde setembro de 2022, o mundo tem assistido a uma grande revolta popular no Irão, exigindo liberdade e democracia” e que, desde então, “relatos sugerem que mais de 750 manifestantes foram mortos e 30 MIL presos”, sustentando que “décadas de aparente silêncio e inação da comunidade internacional ajudaram a alimentar uma cultura de impunidade no Irão” que deve acabar.

“Desde os anos 1980, as autoridades do Irão executaram dezenas de milhares de manifestantes e presos políticos. Tragicamente, só no verão de 1988, mais de 30 MIL prisioneiros políticos – a maioria dos quais, membros do MEK (Organização dos ‘Mujahidin’ do Povo Iraniano), da oposição – foram barbaramente massacrados”, recordam os signatários.

Entre eles, figuram, além de dois antigos presidentes da Comissão Europeia – Romano Prodi e Jean-Claude Juncker -, três Presidentes laureados com o prémio Nobel da Paz – o polaco Lech Walesa, o colombiano Juan Manuel Santos e o costa-riquenho Óscar Arias Sánchez.

Execuções no Irão cresceram 75%, ONG denunciam “máquina assassina” para criar medo

Reiterando que consideram “ser tempo de a liderança da República Islâmica do Irão responder pelos seus crimes”, os subscritores da carta aberta encorajam os líderes ocidentais “a solidarizar-se com o povo do Irão no seu desejo de uma república secular e democrática, onde nenhum indivíduo, independentemente da religião ou origem, tenha privilégios sobre os outros”.

“Através das suas palavras de ordem, o povo iraniano deixou claro que rejeita todas as formas de ditadura, seja a do Xá deposto ou o atual regime teocrático, e, logo, rejeita qualquer associação com qualquer delas”, frisam.

“Acreditamos que cabe ao povo iraniano decidir o seu futuro. Contudo, reconhecemos que, durante quatro décadas, a coligação democrática Conselho Nacional da Resistência do Irão (NCRI) tem constante e incansavelmente lutado por mudança democrática”, pelo que consideram que “o Plano de Dez Pontos elaborado pela presidente do NCRI, Maryam Rajavi, merece apoio”.

Jornalista iraniano morto a tiro no sudoeste do país

Sobre esses dez pontos, salientam que “o seu compromisso com eleições livres, liberdade de expressão e de reunião, abolição da pena de morte, igualdade de género, separação entre religião e Estado, autonomia para as etnias do Irão e [a defesa de] um Irão não-nuclear está de acordo com os valores democráticos” que defendem.

Por último, os antigos líderes internacionais afirmam condenar “a intromissão do regime iraniano no Médio Oriente e na Europa, incluindo o seu fornecimento de drones (aeronaves não-tripuladas) para apoiar a guerra da Rússia na Ucrânia e os seus ataques terroristas e ciberataques na Albânia”.

ONU denuncia uma média de 10 execuções por semana no Irão