Textos de “As troianas”, “Hécuba” e “As bacantes”, de Eurípides, e “Antígona”, de Sófocles, que foram encenados por Fernanda Lapa (1943-2020), servem agora para o ator e encenador David Pereira Bastos partir para o tema da mulher na sociedade clássica.

Inicialmente a peça deveria incluir também um texto de Ésquilo, que acabou por cair, disse o encenador à Lusa no final de um ensaio da peça.

A escolha dos textos teve como base dois fatores: “O primeiro prende-se com a intenção de o espetáculo abordar figuras protagonistas femininas trágicas e, neste caso, estamos a falar de Antígona, Hécuba, Polixena, Cassandra e Andrómaca”.

Ao ser convidado pela direção artística da Escola de Mulheres não lhe ocorreu outra ideia senão a de trabalhar a tragédia grega, “um tema tão caro a Fernanda Lapa”, que foi a fundadora e diretora artística da companhia até morrer, em 06 de agosto de 2020.

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“E sobretudo abordar a tragédia como disciplina do teatro e do trabalho do ator em específico”, frisou.

Para David Pereira Bastos, a “ideia é explorar um pouco o universo da tragédia como disciplina do teatro e do trabalho do ator em específico, sobretudo ao nível dos recursos estilísticos que ela implica”.

Por isso, “Dirty shoes don’t go to heaven” terá um tratamento específico ao “nível da abordagem e entrega do texto, no qual a musicalidade tem uma importância específica”, sublinhou David Pereira Bastos.

Tentar perceber de que forma uma consciência musical evoca a ambiência da tragédia é outro dos intuitos do espetáculo, referiu.

“O que acabamos por ver nestes textos é que o lugar da mulher dentro da tragédia grega e da sociedade clássica é um papel muito limitado, daí também a necessidade de trazer a Antígona para a peça, por ser a única figura feminina que desafia o poder instituído da ‘polis’, da cidade”, acrescentou.

Com dramaturgia e encenação de David Pereira Bastos, “Dirty shoes don’t go to heaven” conta com interpretações de Bruno Soares Nogueira, Catarina Pacheco, Joana Campelo, Leonor Cabral, Sílvia Figueiredo, Tomás Barroso e Wagner Borges.

Trata-se da 74.ª produção da Escola de Mulheres, companhia fundada há 28 anos com o objetivo de privilegiar a criação e o trabalho das mulheres no teatro e promover novas dramaturgias de temática e escrita femininas.

Ainda este ano, a companhia porá em palco uma criação de Marta Lapa, a partir de um texto original de Lígia Soares, inspirado na figura das “Mulheres Trágicas”.

Com cenografia, fotografia e figurinos de Bruno Simão, desenho de luz de Luís Moreira, Francisco Luís Parreira como orientador de ‘masterclass’ de tragédia clássica, e João Henriques como orientador de ‘masterclass’ de voz e oralidade coral, a peça vai estar em cena até 18 de junho.

A direção artística da Escola de Mulheres, que tem sede no Clube Estefânia, é assumida, desde setembro de 2020, por Marta Lapa e Ruy Malheiro.