António Costa diz que não revelou que sabia do envolvimento Serviço de Informações de Segurança (SIS) na recuperação do computador de Frederico Pinheiro porque ninguém lhe fez essa pergunta. No Parlamento, o primeiro-ministro reconheceu que tinha, de facto, falado com João Galamba na noite em que tudo aconteceu (na segunda-feira, tinha apontado o “dia seguinte”) e que só não esclareceu isso mesmo porque a pergunta nunca lhe tinha sido colocado nesses termos. O primeiro-ministro também fugiu várias vezes à questão sobre a intervenção do seu secretário de Estado Adjunto e se tinha sido informado desse facto.

“Disse que não tive prévio conhecimento, o que é rigorosamente verdade. Outra coisa a que não respondi porque ninguém perguntou é se tinha falado com o ministro. Falei, mas como deve imaginar… Se não perguntarem, não ando a afazer a lista dos telefonemas [que fiz]”, explicou António Costa, depois de ter sido sucessivamente questionado por Catarina Martins, Joaquim Miranda Sarmento, André Ventura e Rui Rocha.

António Costa corrobora assim a versão apresentada por João Galamba na comissão parlamentar de inquérito à TAP. De acordo com o ministro das Infraestruturas, o governante tentou falar com o primeiro-ministro no início da noite, já depois de Frederico Pinheiro ter deixado o edifício. António Costa, no entanto, não atendeu por se encontrar a conduzir. Só no final da noite, por volta da 1h00, é que o chefe de Governo devolveu a chamada ao seu ministro. E foi aí que foi informado que o SIS já tinha sido informado do que tinha acontecido.

Os partidos da oposição entendem que existe uma contradição insanável entre aquilo que o primeiro-ministro diz agora e o que disse o primeiro-ministro na primeira vez que falou sobre o caso. Nessa altura, numa resposta escrita enviada ao Observador, Costa garantiu: “O primeiro-ministro não foi nem tinha de ser informado. Nem tomou qualquer diligência”. Horas depois, chegado de férias e a partir do aeroporto de Lisboa, insistiu aos microfones da RTP: “Eu não fui informado, nem tinha de ser informado. Ninguém no Governo deu ordem ao SIS para fazer isto ou fazer aquilo”.

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Ora, de acordo com o entendimento de António Costa, não há aqui qualquer contradição entre o que disse a 1 de maio, o que diz agora e a versão dos acontecimentos apresentada por João Galamba, uma vez que só foi informado posteriormente do envolvimento do SIS e não antes da consumação do facto, alega o primeiro-ministro.

Noutra frente, e apesar da insistência dos deputados da oposição, o primeiro-ministro nunca esclareceu o papel do seu secretário de Estado Adjunto, António Mendonça Mendes, em todo este processo. Recorde-se que, na comissão parlamentar de inquérito à TAP, Galamba voltou a envolveu o governante em todo o processo, revelando que tinha conversado por telefone com o secretário de Estado. “Não revelo publicamente as conversas que tenho”, cortou várias vezes o primeiro-ministro.

Além disso, Costa insistiu na defesa da atuação do SIS, dizendo repetidas vezes que não via qualquer “ilegalidade na atuação” das secretas neste caso. “O SIS agiu corretamente. Não é prática comum, nem normal, andarem a telefonar aos cidadãos. Porque é que o fez? Porque houve um alerta que tinha sido retirado um computador com informação classificada. [Mas] nenhum membro do Governo, direta ou indiretamente, deu qualquer ordem ao SIS para proceder a essa ação”, defendeu Costa.

Costa diz que não foi informado, mas valida Galamba: “Deu – e bem – alerta pelo roubo do computador” do ministério