Há mais de uma década que, em maio e em antecipação ao mês do Orgulho LGBTQ, a Target apresenta a sua coleção de apoio à comunidade, invariavelmente composta por peças de roupa com motivos arco-íris e uma série de outros produtos, incluindo acessórios, livros, CD, objetos de decoração e até móveis.

Este ano, revelou esta terça-feira a retalhista, com 1.954 lojas a funcionar nos Estados Unidos, alguns deles tiveram de ser retirados das prateleiras, na sequência de ameaças e até episódios de violência por parte de clientes conservadores para com funcionários.

“Desde a apresentação da coleção deste ano, temos sofrido ameaças que afetam a sensação de segurança e bem-estar dos membros da nossa equipa durante o trabalho“, anunciou a empresa em comunicado, citado pela Reuters. “Dadas estas circunstâncias voláteis, estamos a fazer ajustes aos nossos planos, incluindo a remoção de artigos que estiveram no centro do comportamento de confronto mais significativo.”

Apesar de a Target não ter revelado que produtos, de entre os mais de dois mil que compõem a coleção, foram retirados, a imprensa americana avança que no centro da polémica estarão os fatos de banho femininos “tuck friendly”, cujo design permitirá às mulheres transexuais que não tenham sido submetidas a cirurgias de reatribuição de sexo ocultar os genitais.

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Nas redes sociais, nas últimas semanas, surgiram uma série de vídeos a contestar a coleção e a acusar a Target de estar a vender fatos de banho “tuck friendly” para bebés e crianças  — acusação que a retalhista se apressou a negar e foi entretanto refutada por sites de verificações de factos. “Os fatos de banho ‘tuck-friendly’ são apenas para adultos”, garantiu à Associated Press Kayla Castaneda, porta-voz da empresa.

Na mira dos clientes mais conservadores, que não só têm entrado em lojas para atirar deliberadamente produtos para o chão mas também terão chegado, em alguns casos, a travar-se de razões com funcionários, em situações que a AP descreve como “confrontos violentos”, estará também a linha desenhada para a Target pela britânica Abprallen.

De acordo com a Reuters, a marca independente de moda e acessórios LGBTQ, que tem sido criticada nos Estados Unidos por usar pentagramas, caveiras com chifres e outros símbolos “satânicos”, desapareceu do site do retalhista. “Zero produtos”, é o que devolvem as pesquisas feitas pela marca.

Para além dos produtos que a Target decidiu mesmo deixar de vender, em algumas zonas do país a coleção Pride está a ser retirada das montras e das frentes de loja e a ser relegada para os fundos.

A medida, assinala a Associated Press, surge numa altura em que as vendas da cerveja Bud Light, que há quase dois meses fez uma parceria remunerada com a influencer trans Dylan Mulvaney, continuam a cair.

Mulvaney é conhecida por, em 2022, ter começado a documentar a sua transição de género no TikTok. No passado dia 1 de abril partilhou no Instagram um vídeo de promoção à cerveja sem álcool e foi imediatamente alvo de um boicote concertado por parte do setor mais conservador da sociedade americana — que acrescentou a Bud Light a uma lista em construção de “empresas woke” a evitar. Na semana passada, as vendas da Bud Light caíram 28,4%. Na anterior tinham caído 27,7%.

Donald Trump, que se manteve em silêncio durante mais de um mês, falou finalmente sobre o assunto no início de maio. “Está na hora de vencer a esquerda radical no seu próprio jogo. O dinheiro fala — a Anheuser-Busch agora sabe disso”, escreveu na sua rede social, a Truth Social, numa referência à multinacional do Missouri que detém a Budweiser e a Bud Light.

A meio de abril, depois de ter dito no seu podcast que não era “a favor da destruição de uma empresa americana, uma empresa icónica, por uma coisa destas”, Donald Trump Jr., o seu filho mais velho, provocou a fúria dos apoiantes do movimento MAGA (Make America Great Again), fundado pelo próprio pai, assinalou na altura a Newsweek. De acordo com a declaração de rendimentos que o New York Times revelou em abril, o ex-presidente dos Estados Unidos terá entre 1 e 5 milhões de dólares em ações da Anheuser Busch InBev.