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Uma voz para um novo coletivo: assim volta a dançar a Companhia Paulo Ribeiro

Este artigo tem mais de 6 meses

“Sem um nós não pode haver voz” marca o regresso da companhia ao ativo com um novo elenco. O espetáculo tem estreia marcada para esta sexta-feira, dia 26 de maio, na Academia de Artes do Estoril.

Paulo Ribeiro diz que se trata de um “solo multiplicado”, numa criação que convoca o humor e a emoção: “É sobre a cumplicidade que se constrói quando se trabalha em grupo”
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Paulo Ribeiro diz que se trata de um “solo multiplicado”, numa criação que convoca o humor e a emoção: “É sobre a cumplicidade que se constrói quando se trabalha em grupo”

Paulo Ribeiro diz que se trata de um “solo multiplicado”, numa criação que convoca o humor e a emoção: “É sobre a cumplicidade que se constrói quando se trabalha em grupo”

No princípio elencam-se questões: será que se pode dançar Ingmar Bergman? E se sim, será o quê? Que corpo será esse? Que dinâmica terá? Inspirado no universo do cineasta e dramaturgo sueco, Paulo Ribeiro regressa à criação coreográfica com uma companhia fixa para nos virar do avesso – tal qual nos filmes e peças de Bergman. E há de tudo: melancolia, celebração, festejo e silêncios definidos como se estivéssemos em queda num abismo. Há quase dez anos, sob a forma de solo, o coreógrafo português subiu aos palcos, uma última vez como bailarino, para dar corpo e expressão à peça “Sem um tu não pode haver um eu” (2014), também ela debruçada sobre a obra do realizador de “O Sétimo Selo”. Volta agora a habitar essa dimensão de diálogo com “um autor de percurso inspirador”, mas desta feita com um coletivo, que marca também o regresso da sua companhia de dança ao ativo, depois de um período de interregno. A nova criação, a que chamou “Sem um nós não pode haver voz”, estreia esta sexta-feira, dia 26 de maio Academia de Artes do Estoril, onde irá permanecer até domingo, 28.

O movimento é agora coletivo e não deixa de ter um lado dramatúrgico bem presente. Ouvem-se vozes que nos falam da importância da ligação entre corpos, e da importância de uma voz coletiva que se ergue na esperança por melhores dias. Há alvoroço, um samba e depois o começo de uma espécie de parada de movimentos mais estáticos. Dança-se como se estivéssemos num bar, entre os cinco corpos que compõem o elenco da companhia, e vemos egos que se entrecruzam. São corpos em rodopio que não se amparam sozinhos. Precisam sempre do apoio, do contrapeso e do equilíbrio que só se obtém com esse repartir de esforço entre todos. “Sem um nós não pode haver voz”, escuta-se novamente nas vozes de Bárbara Guimarães e da coreografa Clara Andermatt. Paulo Ribeiro diz que se trata de um “solo multiplicado”, numa criação que convoca o humor e a emoção. “É sobre a cumplicidade que se constrói quando se trabalha em grupo”, explica ao Observador durante um dos ensaios neste espaço renovado do Estoril, no qual a companhia irá permanecer pelo menos durante os próximos quatro anos.

A interpretação a cargo dos cinco bailarinos que compõem o novo elenco fixo da companhia – Afonso Cunha, Liliana Oliveira, Maria Martinho, Mariana Vasconcelos e Rita Ferreira – é mapeada pela ligação a Bergman, com referências mais ou menos sentidas, ainda que para o criador o importante esteja mesmo na construção de um coletivo que executa um movimento também ele colaborativo. “Ao passo que o solo era negro, mais fiel a esse lado bergmaniano, esta criação pega no mesmo material coreográfico, mas torna-o luminoso. O desafio que quis dar aos bailarinos foi pegar na mesma banda sonora, nos textos que já estavam presentes também e nos mesmos movimentos, mas inverter a lógica desse espetáculo que foi, digamos assim, a minha despedida dos palcos, como intérprete”, salienta.

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Uma desgarrada com flores no final

O que antes era taciturno tornou-se um mote para o riso, ainda que não deixem de estar presentes expressões de esforço e sufoco, pelo meio de gritos que não se fazem ouvir. “Eu tinha quase 55 anos quando dancei esta peça, mas quando fiz as audições e surgiram estes jovens que agora fazem parte do elenco fixo, todo esse lado mais outonal deixava de fazer sentido, precisava pela camada de jovialidade que lhe acrescentava”, refere o coreógrafo. A juventude, as diferentes técnicas e plasticidades desses mesmos corpos levou-o a repensar a interioridade do que tinha criado e aquilo que se pretendia transmitir. “Nesse sentido fomos recoreografando, mas não tenho a pretensão de dizer que é assim que se dança Bergman”. A proposta debruça-se sobre o seu universo criativo, sim, que foi da escrita e dos palcos até ao grande ecrã. “É um universo denso e não creio que a dança possa transmitir o que a sua escrita ou os filmes conseguiam. A proposta, para cada intérprete, é que seja fiel a si próprio e através disso deixar um eco no ar que traga fluidez à coreografia para que possa ter diferentes leituras”, sintetiza.

“Sem um nós não pode haver voz” vai fluindo entre momentos de grande densidade física até momentos de maior repetição mimética. “São diálogos e formas de completarem raciocínios”, salienta Paulo Ribeiro. Quando essa mesma comunicação se estabelece em pleno, seguimos caminho até uma desgarrada. Canta-se “Hasta Siempre”, entre vivas ao comandante Che Guevara, distribuem-se bouquets de flores que vão se distribuir, do palco para a plateia. “Foi uma forma de lhe acrescentar uma certa cor e uma alegria de podermos estar juntos e de podermos partilhar sensações”. A peça é, afinal de contas, uma celebração da vida – com um piscar de olhos para a forma como tudo circula e tudo se toca, numa diversidade de contrastes e de estímulos. “Podemos passar de um Bach para um Robert Wyatt e estamos sempre a ser sacudidos, de certa maneira”, explica Paulo Ribeiro ao Observador

De regresso às origens

Além da peça que agora apresenta, onde já existe simbolicamente (mas também em termos práticos) o regresso a uma estrutura coletiva em funcionamento, destaca-se igualmente nesta nova fase da companhia um “respirar pleno”, com um elenco fixo de bailarinos e um apoio financeiro, através da instalação no Estoril. Para o coreógrafo de 64 anos, trata-se de um “regresso às origens”, no município onde passou a infância e grande parte da adolescência. “Finalmente posso ter uma equipa fixa de bailarinos para criar, que é algo que eu ambiciono há imenso tempo”, comentou na altura do acordo, sobre as condições que alcançou através de um acordo com a Câmara Municipal de Cascais para quatro anos.

“É muito bom poder ter uma perspetiva e um horizonte que olha para a frente, ainda por cima com estas condições de trabalho e um auditório onde nos podemos também apresentar”, sublinha o criador. No início deste novo ciclo, depois de passagens por Viseu e Almada, Paulo Ribeiro sente que está agora a entrar numa fase, depois de uma travessia no deserto, de relançar da companhia que existe há mais de 25 anos. “Simbolicamente tudo isto é importante. Trabalhei em tantos sítios, cá e fora, que voltar aqui a esta base e ter oportunidade de criar uma equipa foi um desafio muito belo”. Falta agora, diz, que se olhe para a dança como uma expressão artística que deve estar mais presente nas escolas, na vida das pessoas e nas programações das diversas instituições artísticas em Portugal. “Ainda há um preconceito e uma falta de leitura sobre a importância de se fruir pela dança. Há que sensibilizar para mudarmos esse mesmo olhar, como já o fizemos no passado”, conclui.

Além das apresentações marcadas, o espetáculo “Sem um nós não poderá haver voz” iniciará uma digressão em setembro, tendo já apresentações marcadas para dia 23 desse mês, no Teatro Garcia de Resende (Évora), no âmbito do FIDANC – Festival Internacional de Dança Contemporânea, e dia 16 de dezembro, no Convento de São Francisco, em Coimbra.

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